Diário de Notícias

Do gozo dos colegas de escola a campeão do Mundo

Ricardo Pinto repetiu na China o título de 2015. É a consequênc­ia de uma vida inteira dedicada à modalidade

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ANDRÉ CRUZ MARTINS Ricardo Pinto já tinha conquistad­o o estatuto de um dos melhores praticante­s de todos os tempos de patinagem artística em Portugal. A 6 de setembro reforçou essa posição, ao sagrar-se campeão do Mundo na vertente Solo Dance, na competição realizada em Nanjing, na China, isto depois de já ter alcançado o mesmo título dois anos antes, em Cali (Colômbia). Na China, o patinador natural do Porto somou 156.94 pontos, batendo o italiano Daniel Morandin, que conquistou 153.62 pontos.

“Não posso dizer que este título era algo que esperava, pois ninguém pode garantir que vai ser campeão do mundo. No entanto, trabalhei e preparei-me muito para que isto fosse possível. Considero que este título foi mais complicado do que o anterior, pois estava na China, muito longe da família e debaixo de uma pressão gigantesca. Os representa­ntes portuguese­s acabaram por se apoiar uns aos outros e as coisas compuseram-se… até ao título mundial!”, referiu ao DN.

O atleta que representa o Rolar Matosinhos fala na “justa recompensa por muitos anos de dedicação à modalidade”. Para se ter uma ideia, chega a haver dias em que realiza “três treinos técnicos diários, num total de cinco horas, isto para além do indispensá­vel trabalho de ginásio, de modo a aumentar a resistênci­a”.

Foi com apenas cinco anos que Ricardo começou a praticar patinagem artística. “A minha irmã já o fazia, pois tinha um problema no joelho e os médicos aconselhar­am-lhe a patinagem para o corrigir. Pouco tempo depois, a minha mãe também me inscreveu, pois queria que eu fizesse desporto. Mas a verdade é que não gostei logo e quis desistir, aquilo era muito complicado para uma criança de cinco anos! Mas a minha mãe insistiu, eu lá fui ficando e aos poucos fui ganhando gosto pela patinagem artística”, revelou.

A grande maioria dos rapazes daquela idade preferiam jogar futebol ou praticar outros desportos com bola. Por isso, na altura, Ricardo foi alvo de alguns comentário­s pouco simpáticos de colegas na escola. “As crianças achavam estranho eu praticar patinagem e fui um pouco gozado, mas foi só no início e ultrapasse­i a situação muito rapidament­e”, garantiu.

Apesar de ter começado muito novo, as vitórias na modalidade demoraram a aparecer. “Só comecei a conseguir bons resultados passados muitos anos. Aliás, as dificuldad­es que tive de superar e o trabalho que realizei para conseguir evoluir foram essenciais para o que estou a viver hoje em dia. Ter passado por essas dificuldad­es deu-me muita força a nível mental”, sublinhou este antigo praticante de… karaté, embora no caso desta modalidade nunca tenha sido federado. A escalada para o sucesso Foi em 2009 que Ricardo Pinto conseguiu a sua primeira internacio­nalização, na altura em pares de dança, mas sem resultados positivos. Em 2011 alcançou as suas primeiras grandes vitórias internacio­nais, ao sagrar-se campeão da Europa e do Mundo de juniores, quando já se tinha especializ­ado

Ricardo Pinto quer conquistar ainda mais troféus na modalidade em Solo Dance, tendo conseguido o título europeu em 2014, no escalão sénior, antes dos dois títulos mundiais seniores de 2015 e 2017. “Se já me sinto uma referência no desporto português? Sim, os resultados assim o indicam, não é toda a gente que tem dois títulos mundiais”, atirou.

Ricardo Pinto tem um sentimento agridoce quando é tratado pelo “Cristiano Ronaldo da patinagem artística”, algo que acontece com bastante frequência. “Por um lado, sinto-me bem, pois o Cristiano Ronaldo é uma das grandes referência­s de Portugal. Mas por outro lado, gostaria de ser conhecido apenas pelo que eu faço”, confidenci­ou.

Apesar de tantas vitórias, o patinador garante que, quando entra em pista, continua a sentir a mesma emoção do que quando se estreou

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