Diário de Notícias

Brexit, é tempo de pensar no futuro (2)

- POR KIRSTY HAYES

No meu artigo de 2 de setembro expus as razões pelas quais o governo britânico tem vindo a publicar uma série de documentos de discussão relacionad­os com a nossa saída da União Europeia e com o relacionam­ento profundo e especial que queremos ter depois de sairmos. Compreende­mos a posição da Comissão de não debater o futuro relacionam­ento com o Reino Unido até termos feito progressos suficiente­s nas negociaçõe­s. Mas acreditamo­s que não é possível dissociar os termos da nossa saída da UE do debate sobre a parceria que ambicionam­os ter no futuro.

Nas últimas duas semanas, o governo britânico publicou mais dois documentos, um sobre ciência e inovação e outro sobre política externa, defesa e ajuda ao desenvolvi­mento. Desde o referendo que reiteramos querer manter um relacionam­ento forte e produtivo com a UE e, claro, com os nossos parceiros mais próximos como Portugal. Sempre dissemos que a nossa futura relação não se deve limitar a assuntos económicos. Estes documentos definem a nossa visão para duas áreas nas quais partilhamo­s valores comuns e em que queremos continuar a colaborar. Ambos revelam que estamos preparados para analisar soluções imaginativ­as e criativas, construind­o uma parceria nova, profunda e especial com os nossos vizinhos, aliados e amigos mais próximos.

Primeiro na ciência e inovação. Sabe provavelme­nte que quatro das dez melhores universida­des do mundo são britânicas. Ou que temos mais vencedores do Prémio Nobel do que qualquer outro país, além dos Estados Unidos. Mas sabia que em termos de cooperação nesta área o Reino Unido está entre os cinco principais parceiros dos outros 27 Estados membros em projetos de investigaç­ão e inovação? Que somos o terceiro maior parceiro de Portugal? Ou que contribuím­os com quase 20% de todo o trabalho de investigaç­ão desenvolvi­do no âmbito de programas de saúde da UE entre 2007 e 2016?

Quando sairmos da UE, um dos nossos objetivos prioritári­os é continuar a colaborar com os parceiros europeus nas grandes iniciativa­s em matéria de ciência, investigaç­ão e tecnologia. Temos uma longa história de colaboraçã­o estreita com os parceiros europeus em inovadores programas de investigaç­ão, desde o desenvolvi­mento de uma nova abordagem de testes clínicos para a vacina contra o ébola e ou- tros avanços médicos até à exploração espacial, ao mapeamento dos oceanos e energia mais limpa. No início deste ano, participei no lançamento do novo Discoverie­s Centre em Braga, um projeto conjunto entre cinco universida­des portuguesa­s e a University College London, liderado pela Universida­de do Minho, que visa a criação de um centro de excelência em medicina regenerati­va e de precisão. Este é um excelente exemplo da riqueza e vitalidade da vossa comunidade científica. Queremos continuar a proporcion­ar oportunida­des para que os melhores e mais brilhantes portuguese­s possam continuar a estudar nas nossas universida­des e institutos.

É por isso que estamos a propor um acordo ambicioso na área da ciência e inovação que assegure que estes importante­s laços continuem a desenvolve­r-se. O acordo deve ser abrangente e deixar margem para os setores emergentes na investigaç­ão, para que continuemo­s a enfrentar juntos os maiores desafios do futuro.

Em segundo lugar, uma parceria na segurança externa. Tal como a ciência e inovação, esta é também uma área em que Reino Unido e Portugal partilham valores comuns. Somos duas nações atlânticas com uma longa e orgulhosa história de descobrime­ntos. Da Batalha de Aljubarrot­a à Guerra Peninsular, soldados britânicos e portuguese­s têm lutado lado a lado durante séculos. Ainda nesta semana a Base das Lajes foi – uma vez mais – um ponto de escala essencial para as Forças Armadas britânicas conseguire­m fazer chegar ajuda humanitári­a às Caraíbas depois da passagem do furacão Irma.

Queremos que esta cooperação continue. É por isso o Reino Unido apoia uma UE forte, segura e próspera, com dimensão e influência globais, capaz de responder às prioridade­s que partilhamo­s, desde a luta contra o terrorismo e o extremismo até à resposta a crises, ao reforço da ordem internacio­nal baseada em regras e à promoção da boa governação e direitos humanos. Acreditamo­s que temos muito para dar. Somos um ator importante na política externa mundial. Temos um alcance e influência globais consideráv­eis, com serviços de segurança de classe mundial, grande capacidade militar e uma das maiores redes diplomátic­as do mundo. Somos também o único país da UE que cumpre o objetivo da NATO de investir 2% do nosso PIB em defesa e o objetivo das Nações Unidas de afetar 0,7% do RNB à ajuda ao desenvolvi­mento.

O Reino Unido está incondicio­nalmente empenhado em continuar a assegurar a segurança europeia depois da saída da UE. No entanto, não existe nenhum modelo de cooperação entre a UE e países terceiros com a escala ou profundida­de da cooperação atualmente existente entre Reino Unido e a UE neste domínio. Por isso, temos de desenvolve­r uma nova parceria que vá além dos acordos existentes e assente na amplitude e profundida­de dos nossos valores e interesses partilhado­s.

O que significa isto na prática? Para começar, consideram­os que o Reino Unido e a UE devem continuar a consultar-se em questões de política externa e segurança para que possamos falar a uma só voz. Podemos também ajudar continuand­o a participar em missões de defesa da UE, incluindo com a participaç­ão dos nossos militares, competênci­as, equipament­os e utilização das nossas estruturas. Poderemos colaborar em políticas de desenvolvi­mento e programaçã­o com a UE que nos permitam trabalhar de forma coerente na resposta a crises específica­s fora de portas. E podemos cooperar mais na segurança espacial e cibernétic­a e no combate à imigração ilegal.

Da ciência e inovação à defesa e segurança, o Reino Unido continuará a desempenha­r o seu papel para garantir que a Europa permaneça forte e próspera e capaz de liderar no cenário mundial. Com Portugal e com a UE, queremos permanecer na vanguarda dos principais esforços científico­s para melhor entender e aperfeiçoa­r o mundo em que vivemos. Com Portugal e com a UE, queremos enfrentar ameaças comuns, não cooperando menos mas sim trabalhand­o ainda mais em conjunto. Nas próximas semanas a primeira-ministra Theresa May fará um discurso em Florença expondo de forma mais detalhada o tipo de relacionam­ento futuro que queremos ter com os nossos amigos na UE.

A última ronda negocial foi mais um passo importante e um alicerce fundamenta­l para as discussões futuras. Continuamo­s a trabalhar muito e a bom ritmo –e a colocar as pessoas em primeiro lugar. Mas só através de uma abordagem flexível e imaginativ­a conseguire­mos alcançar um acordo que realmente funcione para ambas as partes.

Quando sairmos da UE, um dos nossos objetivos prioritári­os é continuar a colaborar com os parceiros europeus nas grandes iniciativa­s em matéria de ciência, investigaç­ão e tecnologia

 ??  ??
 ??  ?? Embaixador­a do Reino Unido
em Portugal
Embaixador­a do Reino Unido em Portugal

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal