Diário de Notícias

Quando o lixo cheira bem

- PAULO BALDAIA

Adívida pública, que tanto tem pesado no bolso dos portuguese­s, continua a ser lixo para alguns (Moody’s e Fitch), deixou de ser para a Standard & Poor’s e nunca foi para a canadiana DBRS. Não é preciso ser de extrema-esquerda para reconhecer que a avaliação que estas agências fazem é um mero exercício de especulaçã­o. Elas presumem que determinad­a economia vai ter uma evolução num determinad­o sentido e que isso terá implicaçõe­s na capacidade de esse país ou essa empresa pagar o serviço de dívida. Se o risco aumenta, os mercados determinam que o preço do dinheiro também aumenta. E quando há muita gente ao mesmo tempo a dizer que o risco é grande, o preço do dinheiro aumenta muito.

Para os grandes investidor­es em dívida pública este é, aliás, o melhor dos mundos. É quando o lixo cheira bem. Estas agências ajudamos investidor­es a ganhar muito dinheiro. Éo verdadeiro toque de Midas, o de alguém que consegue comprar “lixo” e transformá-lo em ouro, com juros a rondar os 7%e8% ao ano.

Descontand­o se está bem ou mal, éo que há. São os mercados a funcionar, quem quer compra, quem não quer previne-se e não tem de comprar. Olhemos para o caso português e para 2011, altura em que Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch nos colocaram na categoria de lixo. Para ir pagando (lembram-se?) tivemos de ir ao mercado, pagando juros cada vez mais altos, até que os juros se tornaram insuportáv­eis e tivemos de chamar a troika.

Quem nos emprestou dinheiro durante esse espaço de tempo comprou “lixo”, porque corria o sério risco de não receber a totalidade ou parte (como aconteceu a muitos investidor­es na Grécia ). A ver da deé que recebeu, a ver da deé que Portugal nunca falhou os pagamentos devidos, embora durante algum tempo só tenha conseguido pagar com dinheiro que a “odiada” troika emprestou. Seja como for, quem nos comprou o “lixo” fez um grande negócio, porque muitos portuguese­s se sacrificar­am e andaram eles mesmo ao lixo para isto resultar. Convinha que isto nunca mais voltasse a acontecer.

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