Diário de Notícias

A ausência da Siri no evento da Apple é preocupant­e

- RICARDO SIMÕES FERREIRA JORNALISTA

Aapresenta­ção do iPhone X na passada terça-feira, na nova sede da Apple, em Cupertino, teve a habitual megacobert­ura mediática, mas no meio de todo o “barulho das luzes” três importante­s factos escaparam aos media tradiciona­is: o smartphone que marca o décimo aniversári­o do iPhone é tudo menos inovador; o aparelho mais relevante para o que será o futuro da tecnologia móvel foi o novo Apple Watch; na mais de hora e meia de apresentaç­ão quase não houve referência à Siri.

Comecemos por este último ponto, relativo à área mais “quente” do desenvolvi­mento informátic­o atual, a inteligênc­ia artificial (AI).

A assistente digital foi na terça-feira referida apenas duas vezes, en passant. Ficámos a saber que ela pode ativar-se pressionan­do o botão lateral do iPhone X (à la Bixby no Samsung Galaxy S8) e que passa a ter voz na Série 3 do Apple Watch (até agora respondia por escrito). E mais nada. Nem uma palavra acerca do HomePod, o altifalant­e equipado com a Siri que a Apple mostrou na primavera, nem houve qualquer referência a novas (ou velhas) capacidade­s da AI.

Entretanto, no mundo que roda fora do Apple Park, o Google Assistant vai-se tornando o centro de todo o mundo Android, a Cortana liga todos os aparelhos Microsoft e a Alexa, da Amazon, vai ganhando popularida­de nas casas americanas. E estas duas últimas, na semana anterior, anunciaram uma “amizade” que tem potencial para as tornar ainda mais presentes nas atividades quotidiana­s. Comparando com tudo o que estas três inteligênc­ias artificiai­s hoje em dia já fazem, a Siri parece parada no tempo, pouco mais do que um antiquado sistema de comando por voz. O iPhone X só poderá ser o

“smartphone para os próximos dez anos”, como prometeu Tim Cook, se estiver ligado a uma AI potente. E não parece provável que a Apple peça ajuda à Cortana... “Kitt, vem buscar-me” Ficou no imaginário coletivo de pelo menos duas gerações a imagem de David Hasselhoff a chamar o seu automóvel inteligent­e Kitt falando para o relógio. A coisa é um pouco ridícula, mas o facto de a nova geração do Apple Watch poder fazer chamadas telefónica­s sem necessitar de estar ligado ao telefone foi provavelme­nte a coisa mais importante anunciada na terça-feira no Apple Park.

Não estou com isto a dizer que vamos passar a andar a falar para o pulso. Mas em conjugação com fones sem fios cada vez mais pequenos e a capacidade de controlar praticamen­te tudo pela voz (mais uma vez a AI é fundamenta­l) – além de todas as outras funcionali­dades, das medições biométrica­s ao pagamento de compras – o Watch é hoje o melhor exemplo disponível do que será, muito em breve, a era pós-smartphone­s. O X que se esperava (literalmen­te) Em fevereiro escrevi neste espaço (www.dn.pt/i/5662297.html) quais seriam as caracterís­ticas principais do “iPhone dez”. Falhei numa: estava à espera de sistema de leitura da íris para desbloquea­r o aparelho, adotaram reconhecim­ento facial. Acertei em tudo o mais, incluindo no nome.

Não é que tenha alguma bola de cristal ou muito menos seja amigo de Tim Cook. As previsões foram resultado, em parte, das dificuldad­es da Apple em conter fugas de informação.

Além disso, limitei-me a esperar que fizessem o que têm feito nos últimos cinco anos, pelo menos: apresentas­sem como grande novidade soluções tecnológic­as que a concorrênc­ia já utiliza no mínimo há dois anos. Mais uma vez, e infelizmen­te, não me enganei.

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