A ausência da Siri no evento da Apple é preocupante
Aapresentação do iPhone X na passada terça-feira, na nova sede da Apple, em Cupertino, teve a habitual megacobertura mediática, mas no meio de todo o “barulho das luzes” três importantes factos escaparam aos media tradicionais: o smartphone que marca o décimo aniversário do iPhone é tudo menos inovador; o aparelho mais relevante para o que será o futuro da tecnologia móvel foi o novo Apple Watch; na mais de hora e meia de apresentação quase não houve referência à Siri.
Comecemos por este último ponto, relativo à área mais “quente” do desenvolvimento informático atual, a inteligência artificial (AI).
A assistente digital foi na terça-feira referida apenas duas vezes, en passant. Ficámos a saber que ela pode ativar-se pressionando o botão lateral do iPhone X (à la Bixby no Samsung Galaxy S8) e que passa a ter voz na Série 3 do Apple Watch (até agora respondia por escrito). E mais nada. Nem uma palavra acerca do HomePod, o altifalante equipado com a Siri que a Apple mostrou na primavera, nem houve qualquer referência a novas (ou velhas) capacidades da AI.
Entretanto, no mundo que roda fora do Apple Park, o Google Assistant vai-se tornando o centro de todo o mundo Android, a Cortana liga todos os aparelhos Microsoft e a Alexa, da Amazon, vai ganhando popularidade nas casas americanas. E estas duas últimas, na semana anterior, anunciaram uma “amizade” que tem potencial para as tornar ainda mais presentes nas atividades quotidianas. Comparando com tudo o que estas três inteligências artificiais hoje em dia já fazem, a Siri parece parada no tempo, pouco mais do que um antiquado sistema de comando por voz. O iPhone X só poderá ser o
“smartphone para os próximos dez anos”, como prometeu Tim Cook, se estiver ligado a uma AI potente. E não parece provável que a Apple peça ajuda à Cortana... “Kitt, vem buscar-me” Ficou no imaginário coletivo de pelo menos duas gerações a imagem de David Hasselhoff a chamar o seu automóvel inteligente Kitt falando para o relógio. A coisa é um pouco ridícula, mas o facto de a nova geração do Apple Watch poder fazer chamadas telefónicas sem necessitar de estar ligado ao telefone foi provavelmente a coisa mais importante anunciada na terça-feira no Apple Park.
Não estou com isto a dizer que vamos passar a andar a falar para o pulso. Mas em conjugação com fones sem fios cada vez mais pequenos e a capacidade de controlar praticamente tudo pela voz (mais uma vez a AI é fundamental) – além de todas as outras funcionalidades, das medições biométricas ao pagamento de compras – o Watch é hoje o melhor exemplo disponível do que será, muito em breve, a era pós-smartphones. O X que se esperava (literalmente) Em fevereiro escrevi neste espaço (www.dn.pt/i/5662297.html) quais seriam as características principais do “iPhone dez”. Falhei numa: estava à espera de sistema de leitura da íris para desbloquear o aparelho, adotaram reconhecimento facial. Acertei em tudo o mais, incluindo no nome.
Não é que tenha alguma bola de cristal ou muito menos seja amigo de Tim Cook. As previsões foram resultado, em parte, das dificuldades da Apple em conter fugas de informação.
Além disso, limitei-me a esperar que fizessem o que têm feito nos últimos cinco anos, pelo menos: apresentassem como grande novidade soluções tecnológicas que a concorrência já utiliza no mínimo há dois anos. Mais uma vez, e infelizmente, não me enganei.