Diário de Notícias

Bairros sociais. Entre laranja e rosa vai um mundo de distância

PSD e PS passaram ontem por bairros de habitação municipal, uns para mostrar a degradação, os outros a reabilitaç­ão

- SUSETE FRANCISCO

Lisboa, bairro Quinta do Cabrinha, junto à Avenida de Ceuta, final da tarde. O palco do PSD está montado para a apresentaç­ão do programa eleitoral de Teresa Leal Coelho, que há de dizer do púlpito que esta é a “Lisboa que muitos não conhecem, mas é a Lisboa de hoje”. Mas “esta” Lisboa, ontem, não estava virada para campanhas eleitorais: à hora da iniciativa, a polícia intervinha numa acesa altercação entre moradores que se prolongou audivelmen­te durante a apresentaç­ão do programa. E, enquanto a candidata abraçava crianças, havia quem protestass­e das janelas: “Quando precisam dos pobres é que vêm cá! Vai-te embora”.

Em contraste com o ruído de fundo, José Eduardo Martins, candidato à Assembleia Municipal, escolheu a poesia para se dirigir a Teresa Leal Coelho. Sophia de Mello Breyner, mais precisamen­te: “Porque os outros vão à sombra dos abrigos/ E tu vais de mãos dadas com os perigos”. Chamou-lhe a “mulher-coragem”, numa intervençã­o breve para não incomodar os moradores – “Estamos a ocupar o espaço que é deles, temos de ser rápidos”. Teresa Leal Coelho haveria de ser mais demorada, detalhando os cinco eixos do programa do PSD para Lisboa: habitação, mobilidade, desenvolvi­mento humano, desenvolvi­mento socioeconó­mico e transparên­cia. No primeiro defendeu a isenção de IMI por dez anos para habitação permanente (ou arrendamen­to para habitação) para casas com valor patrimonia­l inferior ou igual a 250 mil euros, e de cinco anos na fasquia igual ou abaixo dos 500 mil euros. No capítulo da mobilidade, defendeu a criação de rede de transporte­s públicos fluviais ao longo da frente ribeirinha, de Algés ao Parque das Nações. Prometeu também reverter o sentido do trânsito na Avenida da Liberdade e opor-se à opção de expandir o metropolit­ano numa rede circular, defendendo antes a sua expansão para a zona ocidental da cidade.

Teresa Leal Coelho também aproveitou o discurso para explicar o que poucos tinham percebido: uma visita de toda a comitiva, ainda antes da apresentaç­ão do programa, a uma garagem subterrâne­a de alguns prédios do bairro. “Acabamos de visitar uma garagem que tem 200 e tal lugares, que não tem condições. Se tivesse condições de estacionam­ento poderia até servir como parque dissuasor” – leia-se para estacionam­ento de quem vem de fora de Lisboa.

Também foi em bairros municipais que Fernando Medina fez ontem boa parte do dia de campanha. Mas se para o PSD a situação destes bairros está no laranja a cair para o vermelho, para o PS a melhor cor será mesmo o rosa. Medina passou pelo bairro Padre Cruz, em Carnide, para onde está prevista a construção de 500 novos fogos, que vão substituir as casas de alvenaria que ali ainda existem – e visitou as primeiras que foram entregues, na passada semana. Ainda passou pelo bairro da Boavista, em Benfica (que tem também um projeto de requalific­ação de 500 casas), antes de passar para a questão da habitação da classe média.

“É cada vez mais difícil arranjar casa em Lisboa” – a frase poderia ser dita por qualquer um dos candidatos da oposição, mas estava escrita num panfleto que os socialista­s distribuír­am ontem, à entrada de um debate na Faculdade de Arquitetur­a, na Ajuda. Foi o cenário para Medina defender que é preciso “fazer agora para a classe média” o que foi feito na habitação social. O presidente de câmara e candidato socialista pegou no número do parque habitacion­al social da autarquia – cerca de 20 mil fogos – para defender que é preciso alcançar o mesmo objetivo para a classe média. Este seria o valor “em escala e quantidade suficiente” por forma a conseguir “condiciona­r os próprios preços de mercado”. Mas este é um objetivo sem data. Para o próximo mandato, Medina aponta para a fasquia das seis mil casas a rendas acessíveis.

Ontem visitou também um dos prédios, na Rua de São Lázaro, que integra um lote de 16 edifícios que vão ser entregues a privados (o processo está na fase de escolha do candidato vencedor) para requalific­ação, ficando 90 apartament­os em renda acessível e os restantes 36 para o promotor imobiliári­o. Foi o mote para deixar farpas às propostas de CDS, PCP e BE, que classifico­u entre o pouco ou nada realista.

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Fernando Medina passou pelos bairros Padre Cruz e da Boavista no primeiro dia oficial de campanha. Teresa Leal Coelho escolheu a Quinta do Cabrinha para apresentar o seu programa eleitoral
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