Diário de Notícias

No dia 1 de outubro há candidatos que votam em municípios que não aqueles por onde se candidatam. Uma desvantage­m que pode tornar-se uma mais-valia ou um “não problema” num mundo como o atual, argumentam

-

Nas eleições autárquica­s de 1 de outubro, há candidatos que têm uma certeza: não será com o seu voto que poderão ser eleitos – são candidatos que não residem no concelho por onde se candidatam.

O tema parece ser mais incómodo para os partidos do que para os próprios candidatos, que assumem naturalmen­te essa condição. O candidato independen­te do PS em Sintra, Basílio Horta, que é o atual presidente da câmara local, nota ao DN que vive a 15 minutos dos Paços do Concelho. “Sintra e Lisboa estão muito ligados, demoro 15 minutos de minha casa à câmara”, explica.

Heloísa Apolónia, candidata da CDU em Oeiras – que reside no limite do concelho da Amadora com Oeiras – diz ao DN que não se sente de fora. Desde “há mais de 20 anos”, quando veio viver “para a margem norte” (ela que é do Barreiro), que tem uma forte ligação ao município por onde se candidata, “quer por razões familiares quer por acompanham­ento de trabalho político”.

A ecologista dá um exemplo prático: “Sem ser as compras na mercearia local, as minhas compras são feitas no concelho de Oeiras.” Do seu quotidiano, Heloísa Apolónia salta para a política. É o seu trabalho político na área metropolit­ana de Lisboa somado à experiênci­a parlamenta­r que também ajuda a candidata autárquica: “A visão estratégic­a” da região metropolit­ana “é uma mais-valia também que trago nesta candidatur­a”, aponta, naquilo que defende para “as pessoas em concreto” e no “ordenament­o do território”.

Do Restelo, em Lisboa, até ao centro histórico de Sintra, Basílio Horta entende que não é o lugar de residência que o afasta mais do dia-a-dia dos sintrenses. “Julgo que hoje em dia não tem sentido nenhum, no mundo global em que estamos.” O autarca eleito pelos socialista­s admite que esta questão, “em certos concelhos, mais pequenos, mais distantes, possa fazer mais sentido”.

Em Monforte, Pedro Ferreira de Carvalho, que lidera a coligação CDS-MPT-PPM (Monforte mais Forte), assume-se como “um paraquedis­ta de Lisboa, de direita numa terra historicam­ente de esquerda” e admite que “não residir em Monforte é uma desigualda­de”. Afinal, reconhece, “o contacto com as pessoas deve ser quase permanente”. Para o centrista (“estou no CDS há 17 anos”), “as autárquica­s não acabam no dia 1, começam no dia 1”.

Pedro Ferreira de Carvalho conhece Monforte “há 30 anos”, onde ia “com muita frequência” e onde “ainda hoje” tem “muitos amigos” e “pessoas que sempre” o “trataram bem”. Não podia dizer que não ao convite do partido, depois de “algumas negas”. “Foi por amor

Heloísa Apolónia entende que a sua “visão estratégic­a”

para o concelho ganha Ferreira de Carvalho diz que pode ser uma “desigualda­de”

mas também “mais-valia” Basílio Horta mora em Lisboa a 15 minutos do edifício da câmara. Estar presente no dia-a-dia dos seus munícipes faz-se de outra forma as dificuldad­es das pessoas. Saio muito do gabinete e vou ver com os meus olhos”, explica ao DN. Foi dessas iniciativa­s que nasceram muitos projetos de obras a fazer, concretiza.

Heloísa Apolónia apanha a boleia dos transporte­s para explicar como os concelhos estão hoje interligad­os. “Quando penso os transporte­s para Oeiras, tenho de os pensar integrados na Área Metropolit­ana de Lisboa”, nota. “Os concelhos deixaram de ser ilhas.” Por isso, insiste, é “um não problema” o facto de ser candidata num concelho diferente daquele em que reside.

Estes não são casos únicos nos partidos. Em Oeiras, o socialista Joaquim Raposo é outro exemplo – também reside na Amadora. Na Covilhã, candidata-se o centrista Adolfo Mesquita Nunes, lisboeta com origens beirãs. Ou, em Aveiro, Ribau Esteves (que o DN procurou ouvir) vive e vota em Ílhavo, o concelho vizinho que dirigiu durante três mandatos. Apesar das tentativas, o BE não identifico­u ao DN algum caso entre os seus candidatos.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal