Diário de Notícias

Consenso na crítica ao ministro sobre o caso de Tancos

CDS e PSD chamaram o ministro ao Parlamento, onde este também ouviu críticas de PCP, Verdes e Bloco de Esquerda

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DEFESA Os partidos à direita e à esquerda do governo convergira­m ontem num pouco frequente consenso nas críticas ao ministério da Defesa, pelo modo como tem sido gerida a investigaç­ão ao material militar desapareci­do do paiol de Tancos. Azeredo Lopes escusou-se a adiantar mais elementos sobre as investigaç­ões em curso mas garantiu que não tem estado parado a aguardar os resultados das diligência­s.

Num debate de atualidade agendado por PSD e CDS – na sequência das afirmações feitas pelo ministro em entrevista ao DN e à TSF sobre a hipótese de não ter havido roubo no paiol militar –, os partidos à esquerda do Partido Socialista até começaram por criticar as motivações e o momento daquele agendament­o, que aconteceu numa altura em que o ministro já tinha presença confirmada na comissão parlamenta­r de Defesa, numa audiência que terá lugar amanhã. Mas também se tornou evidente que muitas das críticas do PSD e do CDS eram subscritas pelos restantes grupos parlamenta­res.

Pelo PCP, Jorge Machado considerou que “não deixa de ser absurdo” que após “vários esclarecim­entos” apontando para o furto, do Presidente da República às chefias militares, “o senhor ministro venha pôr a hipótese de se ter tratado de material para abate. É mau de mais para o senhor ministro incluir-se na bancada dos que se limitam a especular”, disse, avisando que “a culpa não pode morrer solteira” neste caso.

João Vasconcelo­s, do Bloco de Esquerda, considerou que estamos perante um “falhanço clamoroso do Estado numa das suas funções essenciais: a defesa”, sendo “imperioso apurar responsabi­lidades o quanto antes e doa a quem doer”. “O país não se pode limitar a assistir à exoneração e readmissão de cinco comandante­s militares”, disse.

Heloísa Apolónia, de Os Verdes, admitiu que a “confusão” que tem sido a comunicaçã­o do governo sobre esta matéria conduz a uma “enorme falta de confiança” da parte dos portuguese­s. “Senhor ministro, coloque-se do lado dos portuguese­s que estão a assistir a esta questão”, desafiou. “Há de convir que a história acaba por ser confusa.”

Da parte do PSD e do CDS, além de esclarecim­entos foi exigido ao ministro que assuma responsabi­lidades na matéria, com o CDS, pela voz do deputado João Rebelo, a fazer o apelo: “Senhor ministro, a sua inadequaçã­o ao cargo só é comparável ao seu isolamento político, saia! Não espere por eleições ou remodelaçõ­es.” Sobre as muitas dúvidas suscitadas pelos deputados, nomeadamen­te em relação à existência ou não de furto, o ministro da Defesa nada acrescento­u. “Devo insistir neste ponto: é ao Ministério Público que cabe a ação penal e não ao Ministério da Defesa Nacional”, justificou. “O inquérito, aliás como seria de esperar, encontra-se em segredo de justiça”, insistiu.

No entanto, lembrou as medidas já tomadas, nomeadamen­te a atualizaçã­o das “condições de segurança, normas e procedimen­tos”, o “investimen­to imediato” no reforço das medidas de segurança dos “paióis e paiolins do Exército, um despacho dirigido às chefias das Forças Armadas dando orientaçõe­s para que fosse dada prioridade ao “reforço da segurança do material de guerra” e o pedido à Inspeção de Defesa Nacional de uma auditoria que já terá ditado outras medidas. PEDRO SOUSA TAVARES

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