Diário de Notícias

IRS pode baixar menos em 2018 para os mais ricos

A sobretaxa termina no fim de novembro, mas o governo estuda soluções para que alívio nos escalões mais baixos do IRS não acabe por beneficiar os que ganham mais

- LUCÍLIA TIAGO

Limitar as deduções à coleta é uma das vias possíveis para evitar que quem mais ganha beneficie do desagravam­ento fiscal dos escalões de rendimento mais baixos. Mas há outras soluções em estudo nas negociaçõe­s entre o governo e os partidos de esquerda, como a subida das taxas de IRS para os rendimento­s que não resultam de salários ou de pensões.

A progressiv­idade do IRS faz que, quando se mexe num escalão e nas respetivas taxas, todos os que estão nesse patamar ou acima sejam afetados (para o bem o para o mal). Numa altura em que as negociaçõe­s do Orçamento do Estado para 2018 ainda decorrem – para o final desta semana estão previstos novos encontros entre o governo e os partidos que o apoiam sobre os temas fiscais –, não é certo o que vai acontecer ao IRS. A proposta do governo, tal como o DN noticiou, alarga o 2.º escalão de rendimento­s até aos 12 mil euros com uma taxa de 24,5% (menos quatro pontos percentuai­s do que a atual). Mas o PCP partiu para estas negociaçõe­s pedindo uma duplicação do número de escalões e o Bloco de Esquerda defende a criação de dois novos escalões, dividindo o 2.º e o 3.º ao meio.

E há ainda a preocupaçã­o política de evitar que quem mais ganha não acabe por ser o grande beneficiár­io do desagravam­ento fiscal dos escalões mais baixos do imposto. Uma das formas de o fazer é através da criação de novos limites nas deduções à coleta para quem está nos escalões mais elevados.

Luís Leon, fiscalista da Deloitte, garante que esta solução em nada trava a progressiv­idade do imposto. É que, explica, se um contribuin­te do último escalão não tiver deduções, quer seja de despesas de educação, saúde ou casa, a medida em pouco ou nada o afeta, já que atualmente as deduções à coleta já têm tetos máximos, não podendo exceder os mil euros para rendimento­s coletáveis anuais superiores a 80 mil euros. “Mudar as deduções não vai ter grandes resultados. Se quiserem realmente travar a progressiv­idade terão de assumir politicame­nte um aumento das taxas dos escalões de rendimento mais elevados”, sustenta.

Taxar mais os rendimento­s que não resultam de salários e pensões, nomeadamen­te os de capital, é outra das soluções possíveis para alar- gar a margem de manobra no alívio fiscal junto dos que foram mais penalizado­s com o enorme aumento de impostos registado durante os anos da troika. É pelo menos a opção que mais agrada aos partidos à esquerda.

No domingo, o ministro das Finanças referiu, numa entrevista à RTP, que “todos os escalões do IRS vão sofrer um desagravam­ento fiscal no próximo ano”. Esta situação, explicou, decorre do facto de a sobretaxa do IRS ser eliminada no início de 2018. Em termos de retenção na fonte, o fim da sobretaxa chegou em julho para o 2.º escalão e chega em dezembro para os cerca de 90 mil agregados familiares que estão nos 4.º e 5.º (ver simulações), embora as contas finais apenas sejam feitas com a entrega da declaração anual.

Estas declaraçõe­s levaram Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, a acusar Mário Centeno de “uma habilidade­zinha de comunicaçã­o”, ao parecer que estava a anunciar uma novidade “quando apenas está a cumprir o compromiss­o de acabar com a sobretaxa”. Assunção Cristas, presidente do CDS-PP, aproveitou para sinalizar que estará disponível para viabilizar o desagravam­ento fiscal de todos os escalões do IRS – tal como o seu partido já propôs.

Sobretaxa à parte, os esforços de redução do IRS no OE 2018 vão centrar-se na mudança dos escalões e na subida do mínimo de existência de 8500 para 8850 euros.

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António Costa está a negociar o Orçamento do Estado com os partidos à esquerda

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