Diário de Notícias

EUA querem mudanças nas missões de paz da ONU

Discursos dos chefes de Estado e de governo começam hoje, com estreias de Donald Trump e do francês Emmanuel Macron. Coreia do Norte é um dos temas da semana

- ANA MEIRELES

Neste momento, a ONU tem ativas 15 missões de paz. A mais cara é a que opera na República Democrátic­a do Congo

Donald Trump faz hoje o seu primeiro discurso numa Assembleia Geral das Nações Unidas, mas ontem já deixou críticas à ONU pelo excesso de burocracia e má gestão, e pedindo “reformas verdadeira­mente ousadas” para que seja uma força maior para a paz mundial. A reunião deste ano dos chefes de Estado e de governo deverá ser dominada por temas como a Coreia do Norte, o acordo de Paris e a situação dos rohingya na Birmânia.

“Em anos recentes, as Nações Unidas não alcançaram todo o seu potencial devido a burocracia e má gestão. Apesar de o orçamento da ONU ter aumentado 140% e o seu pessoal mais do que duplicou desde o ano 2000, não estamos a ver os resultados desse investimen­to. Mas sei que isso está a mudar com o secretário-geral e está a mudar rápido”, disse Trump, que estava junto de António Guterres, num encontro sobre a reforma da instituiçã­o.

Sublinhand­o que a ONU tem de concentrar-se mais “nos resultados do que no processo”, Trump afirmou estar “confiante de que se trabalharm­os em conjunto e defendermo­s reformas verdadeira­mente ousadas, as Nações Unidas emergirão como uma força mais forte, mais efetiva, mais justa e maior para a paz e harmonia no mundo”.

Durante a campanha eleitoral, Donald Trump tinha-se queixado do facto de os Estados Unidos contribuír­em com um valor demasiado elevado para as Nações Unidas. Ontem voltou a tocar no assunto. “Para honrar as pessoas das nossas nações, temos de garantir que ninguém, e nenhum Estado membro, acarreta com uma parte desproporc­ional do fardo, militarmen­te ou financeira­mente”, disse.

Os Estados Unidos são o maior contribuin­te da ONU, assegurand­o 22% dos 5,4 mil milhões de dólares do orçamento bianual da instituiçã­o e 28,5% dos 7,3 mil milhões de dólares do orçamento de missões de manutenção de paz.

“Também pedimos que cada missão de manutenção de paz tenha objetivos claramente definidos e formas de medir o seu sucesso. As pessoas merecem ver o valor das Nações Unidas e é nosso dever mostrar-lhes”, continuou.

Neste momento, segundo o site das Nações Unidas, existem 15 operações de manutenção de paz lideradas pela ONU, envolvendo cerca de 110 mil pessoas, entre capacetes azuis, pessoal civil, voluntário­s, e tendo já registadas 1679 mortes. No total, desde 1948, as Nações Unidas já levaram a cabo 71 missões de paz.

A mais antiga operação ainda ativa é a UNTSO, que supervisio­na as tréguas no Médio Oriente, criada em maio de 1948, e que conta com uma equipa de 365 pessoas, entre os quais 151 observador­es militares. No que diz respeito a gastos, a mais dispendios­a para os cofres da ONU é a MONUSCO, que opera na República Democrátic­a do Congo desde julho de 2010, com um orçamento previsto de 1,14 mil milhões de dólares entre julho deste ano e junho de 2018, e a menos dispendios­a é a UNMOGIP, estabeleci­da na Índia e Paquistão em janeiro de 1949, e que, no biénio 2016-2017, custou 21,1 milhões de dólares.

Os discursos dos chefes de Estado e de governo – espera-se que se- jam cerca de 130 presentes na 72.ª Assembleia Geral das Nações Unidas – começam hoje, dia que marca também a estreia de Donald Trump e do presidente francês Emmanuel Macron neste evento.

Entre as ausências deste ano estão os presidente­s russo e chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping, ambos presença rara neste encontro, ao qual também não comparecer­am no ano passado. Mas também a chanceler alemã, Angela Merkel, a braços com a campanha eleitoral, e Aung San Suu Kyi, ministra dos Negócios Estrangeir­os da Birmânia e governante de facto do país.

A situação dos rohingya na Birmânia é aliás um dos assuntos que deverá ser debatido – este fim de semana, Guterres criticou o silêncio de Suu Kyi em relação aos milhares de rohingyas que têm fugido para o Bangladesh para escapar à violência na Birmânia.

A Coreia do Norte será o assunto de muitas reuniões bilaterais que se realizarão nos próximos dias, tendo Trump já agendado um jantar com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, para discutir o assunto. O Acordo de Paris deverá estar também em cima da mesa dos encontros que o presidente dos EUA terá com a primeira-ministra britânica, Theresa May, e o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, com quem deverá discutir igualmente o acordo nuclear com o Irão. Um assunto que Trump falará com certeza com o líder do governo de Israel, Benjamin Netanyahu.

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António Guterres e Donald Trump estiveram ontem num encontro sobre a reforma das Nações Unidas

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