Meia distância está de volta e os mestres aplaudem
Antigos leões Balakov e André Cruz salientam ao DN a importância de ter jogadores capazes de marcar a partir de fora da área
Os remates certeiros de Jérémy Mathieu e de Bruno Fernandes diante do Tondela confirmam uma tendência do início de época deste Sporting: os golos de meia distância – inclusivamente de livre direto – estão de volta a Alvalade.
A soberba execução do central francês na cobrança de uma falta foi a segunda que os adeptos viram, na casa do leão, no espaço de três semanas, depois de o médio português já ter mostrado atributos em lances do género na receção ao Estoril. E o remate do ex-jogador da Sampdoria foi o quarto (de seis) a fazer balançar as redes a partir de fora da área.
Estas características dos reforços leoninos são, pois, muito valorizadas por todo o universo verde e branco, no qual se incluem dois autênticos mestres na arte de visar a baliza de longe: Krasimir Balakov e André Cruz.
“O remate de longe faz a diferença. Quem não remata não marca e para o Sporting é bom. Já me ligaram mais de dez jornalistas portugueses para falar sobre Bruno Fernandes. É um bom jogador, um craque do futebol que mostra classe e grande categoria. Vamos ver qual vai ser o trajeto dele”, assumiu o antigo médio búlgaro de 51 anos, bem-disposto e num português bastante razoável, em declarações ao DN.
“Acho extremamente importante quando um clube tem jogadores com essas características. A bola parada é muito importante, sempre foi decisiva e cada vez é mais. É extremamente importante que, num plantel, haja vários jogadores capazes de executar livres frontais, laterais e pontapés de canto”, afirmou ao nosso jornal o antigo central brasileiro, 48 anos, que deixou saudades entre os adeptos. “Ainda hoje me dizem que desde que eu saí que não há um executante exímio de livres. Mas não é só no Sporting. É na Europa e também no Brasil”, confessou o atual agente de futebolistas, bastante prestável. “Segredo? Dom e trabalho” Balakov jogava numa posição idêntica à de Bruno Fernandes, mas recusa comparações, deixando-as “para os jornalistas”. Pela mesma linha de pensamento, o canhoto que também brilhou pelo Estugarda e pela seleção da Bulgária diz que o “futebol mudou muito” desde o seu tempo e que se tornou “um negócio”, pelo que “nunca se sabe qual o preço real de um jogador”, em resposta a se os 8,5 milhões de euros pagos pelo internacional sub-21 não foram, afinal, uma valor baixo.
Já André Cruz, que confessa que “tem seguido muito pouco o futebol europeu”, diz que para se ser um bom executante de bolas paradas é necessário “ter o dom de bater bem na bola”. “Eu tinha esse dom e treinava muito, mesmo em criança. Antigamente, não havia telemóveis, computadores ou televisões, nem a criminalidade que há hoje no Brasil, por isso as crianças passavam os dias na rua, a jogar futebol, e quando se está todo o dia em contacto com a bola, vai-se melhorando e treinando o domínio, o remate, o cabeceamento e as finalizações. O jogador tem de ter qualidade e muito treino”, explicou o antigo internacional canarinho, que passou por clubes como Flamengo, Standard Liège, Nápoles, AC Milan e Torino antes de aterrar em Lisboa, em janeiro de 2000.
Canhoto, tal como Mathieu, o brasileiro revelou ao DN o ritual que tinha antes de rematar a bola. “Depois de o árbitro apitar, respirava profundamente, olhava para o posicionamento do guarda-redes – para ver se estava no meio da baliza ou a defender um canto – e para a baliza, para saber de que jogador a bola tinha de passar por cima. Concentrava-me durante cinco segundos, imaginava como ia bater a bola e a velocidade que tinha de lhe dar. Fazia isto também nos treinos”, contou. Ver o Sporting campeão Balakov esteve no Sporting entre dezembro de 1990 e maio de 1995, quatro anos e meio suficientes para se tornar um ídolo, apesar de apenas ter conquistado uma Taça de Portugal, precisamente no jogo de despedida, diante do Marítimo. Mais de duas décadas depois, garante ter o clube “sempre no coração” e diz estar a “torcer para que o Sporting seja novamente campeão”, “o mais rápido possível.”
O mesmo sentimento invade André Cruz, duas vezes campeão de leão ao peito, em 1999/00 e 2001/02. “O início de época está ser bom, mas é preciso continuar. O campeonato é longo e é preciso pés assentes no chão, porque vai haver equipas na cola. Um clube como o Sporting não pode ficar 15 anos sem títulos”, rematou.