Diário de Notícias

Gestores de topo vão ter aumento maior. Inaceitáve­l, dizem sindicatos

Empresas preveem aumentos de 2% em 2018, mas vão ser mais generosas com gestores de topo. Centrais sindicais contra política de que quem mais ganha seja mais beneficiad­o

- LUCÍLIA TIAGO

As empresas, apesar dos sinais de melhoria da economia, preveem aumentar os salários, no próximo ano, em redor de 2%– a mesma ordem de grandeza deste ano. Os gestores e dirigentes de topo serão quem vai ter acréscimos remunerató­rios mais elevados, de acordo com a edição deste ano do estudo Total Compensati­on realizado pela Mercer, que visou 154 826 postos de trabalho em 333 empresas com atividade no mercado português. São cada vez menos as empresas que pretendem manter os salários congelados,

As centrais sindicais encaram estes sinais como positivos, mas acentuam que é possível ir mais além, nomeadamen­te nos setores que estão a registar cresciment­os mais elevados. No seu caderno reivindica­tivo para 2018, a UGT aponta para aumentos salariais entre 3% e 4%. Daí que Carlos Silva, o secretário-geral, considere curta a subida média de 2% sinalizada pelos empresário­s. Ainda assim, em declaraçõe­s ao DN/Dinheiro Vivo, admite que o intervalo proposto pela UGT possa não ser acessível a todos os setores. Pior, considera, é que a intenção passe por aumentar mais quem já mais ganha.

De acordo com estudo da consultora Mercer, administra­dores e diretores-gerais terão aumentos médios de 2,1% em 2018 (neste ano foram 1,95%) e os diretores de primeira linha deverão avançar 2,27% (contra 2,16% em 2017). Já as chefias intermédia­s, comerciais e quadros superiores devem contar com aumentos salariais inferiores aos deste ano e ligeiramen­te abaixo do valor médio dos 2%. Entre as profissões menos qualificad­as (administra­tivos e operários) as remuneraçõ­es aumentarão em média entre 1,8% e 1,5% – mais do que em 2017, mas abaixo da média. A antiguidad­e deixou de ser um posto e conta pouco na hora de decidir os aumentos.

Carlos Silva considera que esta política vai agravar ainda mais o fosso entre quem mais ganha e quem menos recebe. “Prioritári­o seria reforçar as atualizaçõ­es de quem recebe até 900 euros por mês”, defende.

João Torres, dirigente da CGTP, dá conta do “sinal de injustiça” que é aumentar mais os dirigentes de topo e acentua que o trabalho precário é um dos motivos que permitem que isto aconteça. E avisa que as remuneraçõ­es não são prémios, mas “formas de condiciona­r” os trabalhado­res. A CGTP reclama aumentos salariais de 4% no próximo ano.

O aumento mais acentuado dos salários nas funções de topo inverte a política seguida nos dois últimos anos. João Cerejeira, professor na Universida­de do Minho e especialis­ta em mercado de trabalho, não se surpreende com a reviravolt­a. “O desemprego ainda está em níveis relativame­nte elevados e é fácil substituir os menos qualificad­os.” Daí que a prioridade dos empresário­s seja oferecer melhores condições, quer em salários quer em outros benefícios, aos dirigentes de topo, mais difíceis de substituir.

Planos de saúde e de pensões são alguns dos benefícios mais comuns oferecidos pelas empresas consultada­s pela Mercer.

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