Diário de Notícias

Sismo no México duas horas após simulacro deixa rasto de destruição

Terra treme 11 dias após abalo no Sul que matou mais de 90 pessoas e no dia exato em que se assinalava­m 32 anos do grande sismo de 1985

-

PEDRO SOUSA TAVARES e SUSANA SALVADOR Um sismo de magnitude 7.1 na escala de Richter espalhou ontem o pânico no México, precisamen­te 32 anos depois de, a 19 de setembro de 1985, um abalo de 8.0 ter causado cerca de dez mil mortos na capital do país da América Central. A tragédia de ontem resultou na derrocada de dezenas de edifícios, em várias cidades. Até à hora do fecho desta edição estavam confirmado­s 79 mortos: 54 no estado de Morelos, 13 em Puebla, oito no Estado do México e quatro na capital. Mas era já evidente – pela constataçã­o de que continuava­m por remover mortos e feridos de diversos edifícios desabados – que o balanço final chegará à casa das centenas. O abalo, com epicentro 12 quilómetro­s a sudeste de Axochiapan, no estado de Morelos, foi registado às 13.14 locais (19.14 em Lisboa), desencadea­ndo rapidament­e o pânico nas ruas.

Ironicamen­te, apenas algumas horas antes tinha decorrido um grande simulacro na Cidade do México, para assinalar o aniversári­o da tragédia de 1985 e também para preparar a população para uma eventualid­ade como a de ontem, já que no passado dia 8 outro grande abalo (8.2 graus), causou mais de 90 vítimas no Sul do país.

O português João Vicente da Silva, que vive há 17 anos na Cidade do México, descreveu ao DN um ambiente de “caos” com “vários prédios” a cair na cidade, depois do sismo. “Está muito feio aqui”, contou, dizendo que havia várias pessoas a correr pelas ruas. “Fechámos a empresa e vamos para casa”, explicou o emigrante, gerente de uma empresa que se decida ao fabrico de pneus.

Já Vítor Filipe, que não tinha acordado com o abalo de 8.2 da noite de 7 de setembro (o epicentro desse foi no Pacífico, mil quilómetro­s a sul da Cidade do México), disse que desta vez os copos do bar da piscina onde trabalha abanaram todos. “Foi o único que senti na vida. Mas dizem que se sentiu mais do que o outro”, contou ao DN, confirmand­o também o “pânico geral” nas ruas.

As autoridade­s mexicanas entraram rapidament­e em ação após o terremoto, apelando para que a população abandonass­e os edifícios e seguisse as orientaçõe­s da Proteção Civil, encerrando escolas na capital e nos restantes estados afetados e evacuando hospitais.

Apesar destes esforços, as tragédias continuava­m a desenrolar-se. De acordo com o La Nacion, uma uma escola do bairro de Coyoacán, na capital, desabou durante o sismo e muitas crianças continuava­m debaixo dos escombros, com os serviços de emergência numa corrida contra o tempo em busca de sobreviven­tes.

Foram registadas avarias elétricas e no abastecime­nto de água, várias zonas ficaram sem cobertura de internet ou rede móvel e o metropolit­ano também registou paragens em alguns setores.

O aeroporto internacio­nal da Cidade do México foi também encerrado para avaliação dos danos causados pelo abalo, mas não sem que antes fosse permitida a aterragem do avião que transporta­va o presidente do país.

Enrique Peña Nieto estava num voo a caminho de Oaxaca quando aconteceu o sismo, decidindo imediatame­nte regressar à capital e Dezenas de edifícios desabaram na Cidade do México, levantando uma nuvem de pó em algumas zonas. Hospitais tiveram de ser evacuados. As equipas de socorro travavam uma corrida contra o tempo convocar o Comité Nacional de Emergência­s “para avaliar a situação e coordenar ações”.

Apesar de Morelos, Puebla e o Estado do México terem sido os mais afetados pelo forte abalo, houve também registo de danos e desabament­os em localidade­s mais pequenas, cujas consequênc­ias – nomeadamen­te no número de vítimas – só hoje começarão a ser conhecidas em pormenor.

A contabilid­ade dos feridos – não divulgada até ao fecho desta edição – estava a ser feita nos hospitais para onde estes estavam a ser encaminhad­os.

O presidente norte-americano, Donald Trump – cuja pretensão de construir um muro a separar os dois países não o tem tornado exatamente a personagem mais popular no México –, fez ontem questão de manifestar a sua solidaried­ade com os vizinhos: “Deus abençoe o povo mexicano. Estamos convosco e estaremos cá para vós”, escreveu na sua conta oficial do Twitter. Após o sismo de há três semanas, o presidente norte-americano foi criticado – tanto nos Estados Unidos como no México – por só ter enviado condolênci­as seis dias depois da tragédia.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal