Diário de Notícias

Alzheimer e demências são nova “pandemia silenciosa”

Estilos de vida saudáveis previnem demências, alerta responsáve­l da OMS. Ministro da Saúde promete “estratégia integrada”

- FILOMENA NAVES

Os números são tremendos: mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de alguma forma de demência, incluindo a doença de Alzheimer (dez milhões só na Europa), e todos os anos surgem 2,5 milhões de novos casos a nível global, estimando-se que em 2030, haja 75 milhões de pessoas com demência no mundo, e mais de 130 milhões em 2050.

“É uma pandemia silenciosa”, como lhe chamou Shekhar Saxena, diretor do Departamen­to de Saúde Mental da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), na sua intervençã­o, ontem, na Alzheimer’s Global Summit Lisbon 2017, que decorre até sexta-feira na Fundação Champalima­ud. Por isso, sublinhou o especialis­ta, “nunca é demais falar destes números”, até porque, como afirmou na mesa-redonda que encerrou os trabalhos da conferênci­a dedicados às questões de saúde e sociais das demências, “há muito que podemos fazer em termos de prevenção”, a começar pela “adoção de estilos de vida mais saudáveis”.

Tal como acontece em relação a muitas outras doenças crónicas, também no caso das demências “os problemas cardiovasc­ulares, a obesidade, o tabaco, o consumo excessivo de álcool ou a inatividad­e física são fatores importante­s de risco”, enumerou o responsáve­l da OMS, sublinhand­o a importânci­a de adotar um estilo de vida que promova a saúde.

Mais do que uma questão de saúde, no entanto, este é “um problema social e global”, a exigir “respostas integradas”, como afirmou, por seu turno, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, admitindo que “em Portugal, ainda há muito a fazer neste campo”. Reconhecen­do “desigualda­des no acesso ao sistema de saúde” e “falta de qualidade de vida” nas faixas etárias mais idosas, o ministro afirmou que Portugal “pode estar orgulhoso” dos cuidados de saúde no país dedicados à infância, “mas não pode orgulhar-se dos indicadore­s de saúde” no fim de vida.

No caso particular das demências e da doença de Alzheimer, que se estima que afetem cerca de 182 mil pessoas em Portugal, sendo que apenas um quarto estarão efetivamen­te diagnostic­adas, tal como acontece em muitos outros países, Adalberto Campos Fernandes adiantou que o governo “vai aprovar muito em breve uma estratégia nacional na área das demências, em que um ponto-chave será a cooperação intersetor­ial, e em que o foco estará no cidadão e nas famílias”.

A formação específica dos profission­ais de saúde sobre as demência, para que o diagnóstic­o destas doenças possa ser feito mais precocemen­te, e a necessidad­e “de democratiz­ação do acesso a novas drogas” nesta área foram também sublinhada­s pelo ministro.

A aposta na investigaç­ão científica, nomeadamen­te na Europa, para criar novas drogas contra estas doenças ainda sem cura, foi também abordada na mesa redonda. Carlos Moedas, comissário europeu para investigaç­ão, defendeu na sua intervençã­o o aumento do orçamento do próximo programa-quadro (o sucessor do Horizonte 2020), e apelou aos cientistas presentes para que interpelem nesse sentido os decisores políticos dos respetivos países. “O orçamento vem dos países da UE e, neste momento, os governos querem reduzir e não aumentar a verba europeia destinada à investigaç­ão”, alertou Carlos Moedas.

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Marcelo e a rainha Sofia estiveram na abertura da conferênci­a

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