Diário de Notícias

Pais com filhos com cancro devem ser mais apoiados

Associação Acreditar quer melhores políticas sociais na oncologia pediátrica

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Nas fases críticas da doença, ambos os pais deviam receber um subsídio igual a 100% do ordenado para acompanhar o filho Todos os anos são diagnostic­adas 400 crianças com cancro. O tratamento pode chegar aos três anos. Escola também devia adaptar-se

A Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro defende que a doença oncológica seja equiparada à deficiênci­a e que os benefícios em relação a licenças de acompanham­ento a filhos seja os mesmos dos pais que têm filhos deficiente­s.

No documento em que divulgou os resultados de um trabalho de reflexão junto de pais e técnicos sobre as principais dificuldad­es na área da oncologia pediátrica, posteriorm­ente avaliadas junto das famílias no inquérito nacional, a Acreditar defende que em fases críticas da doença, como no diagnóstic­o, períodos de agudização da doença e na fase terminal, seja contemplad­a a possibilid­ade de ambos os pais poderem requerer a licença, com atribuição de um subsídio igual a 100% da remuneraçã­o de referência para um dos cuidadores, com vista a substituir o rendimento de trabalho. Durante este período, sempre que o trabalhado­r seja desvincula­do da empresa, o subsídio deverá correspond­er no mínimo a um indexante de apoio social.

“Os resultados deste inquérito demonstram a necessidad­e de adequação das políticas sociais que protegem as famílias de crianças e jovens com cancro, de forma a criar melhores condições de adaptação às exigências dos tratamento­s e da sobrevivên­cia”, pode ler-se no documento. O inquérito, a que respondera­m 419 pessoas, destaca na área da segurança social o facto de as famílias terem uma média de “diferencia­l negativo” de 539 euros mensais, resultado de um aumento de despesas de 254 euros após o diagnóstic­o e uma diminuição das receitas de 285 euros. A alimentaçã­o, as deslocaçõe­s e a medicação estão na origem do aumento das despesas, com a diminuição das receitas a relacionar-se com as baixas e o desemprego.

“No apoio escolar, o dado mais relevante é o de que 63,5% das crianças e jovens não terem beneficiad­o de apoio individual e/ou ao domicílio”, frisa-se, no qual se acrescenta como dado relevante que 89% das famílias consideram que o prazo para assistênci­a à criança/jovem deve poder ser superior a quatro anos.

A Acreditar lembra que cerca de 400 crianças em cada ano são diagnostic­adas com cancro, algo que tem “um impacto imediato e disruptivo” na família. O tratamento pode ir até três anos.

A associação – que apresentou os resultados do inquérito na Assembleia da República – defende que sempre que a criança/jovem necessite de tratamento­s mais do que uma vez por semana e que resida a uma distância de ida e volta superior a cem quilómetro­s, deverá ser atribuído um subsídio para o alojamento da família; assim como quando o médico prescreve tratamento­s no estrangeir­o, estes devem ser compartici­pados a 100%, bem como todas as despesas inerentes à deslocação do doente e de dois familiares.

A nível escolar, a proposta é para que os hospitais disponham de mais professore­s a partir do 5.º ano e mais professore­s do 1.º ciclo e/ou de ensino especial para apoio ao domicílio. E ainda uma maior comunicaçã­o entre a saúde e a escola para facilitar a reintegraç­ão escolar, com a criação de um plano individual de cuidados multidisci­plinares.

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