RYANAIR OFERECE ATÉ 12 MIL EUROS A COMANDANTES PARA VOAREM NAS FOLGAS
Voo cancelado? Saiba o que pode fazer
A Ryanair está a oferecer aos comandantes e aos copilotos prémios de 12 mil e 6 mil euros, respetivamente, para trabalharem nos dias de folga e de férias a que têm direito até ao final de outubro. Com esta decisão, comunicada num memorando interno a que o DN teve acesso, a empresa tenta minimizar o impacto que a falta de pessoal está a provocar na sua operação: até final de outubro vão ser cancelados dois mil voos, 173 deles com partida ou chegada a Portugal.
As dificuldades da empresa de aviação low cost irlandesa começaram a 10 deste mês quando foram cancelados 80 voos – incluindo um em Portugal quando os passageiros já estavam na porta de embarque, segundo soube o DN.
A explicação oficial para esta situação é a de que houve um erro na distribuição das férias dos pilotos – normalmente nas companhias aéreas esse período é marcado para depois da época alta de verão – e o presidente-executivo, Michael O’Leary, já pediu desculpa aos passageiros, garantindo que apenas 2% de todos os voos da companhia seriam afetados [a companhia efetua 2500 voos diários]. Comprometeu-se ainda a pagar indemnizações às pessoas afetadas – as quais devem reclamar junto da empresa uma compensação monetária e a colocação em outro voo – que podem chegar a um total de 20 milhões de euros.
Esta situação levou o eurodeputado Carlos Coelho (eleito pelo PSD) a questionar a Comissão Europeia sobre queixas que disse ter recebido de passageiros com dificuldades em ser indemnizados. No documento questiona a Comissão sobre se “pretende tomar medidas para defender os direitos dos milhares de consumidores europeus afetados”. E pede uma resposta com urgência.
Dúvidas sobre número de pilotos Uma explicação para a decisão da empresa de proceder a todos estes cancelamentos poderá estar no facto de pelo menos uma centena de pilotos ter deixado a companhia desde o início do ano. Saídas que também foram confirmadas ao DN por um piloto. Pedindo o anonimato, este explicou que a Ryanair aumentou a frota – “tinham 300 aviões e compraram mais à Boeing que entretanto começou a entregá-los”–, mas não haverá pessoal suficiente para a sua operação. “Houve, de facto, muitos pilotos a sair e a Ryanair não conseguiu contratar, por isso tiveram de começar a cancelar voos”, frisou o mesmo piloto, explicando que o facto de as férias terem sido marcadas pela empresa para este período também contribuiu para a situação. Certo é que a empresa pode fazer que alterem as férias – “basta avisarem com quatro semanas de antecedência”.
Contactada pelo DN, a companhia garante que não foi a saída de pessoas a provocar os cancelamentos que estão previstos até ao final de outubro. “A Ryanair não tem falta de pilotos. Tivemos capacidade para ter as tripulações completas nos meses de junho, julho e agosto, mas tivemos de colocar de férias os pilotos em setembro e outubro, devido ao facto de o nosso ano de trabalho ser, em 2017, entre abril e dezembro. A partir de 2018, vamos voltar a ter como referência ao civil – 1 de janeiro a 31 de dezembro”. Esta alteração fez que os pilotos também perdessem sete dos dez dias que a empresa oferece anualmente, além do mês de férias, pois foi necessário ajustar as escalas anuais a novo calendário de trabalho, que a Ryanair tem de aplicar depois de uma decisão nesse sentido da autoridade irlandesa de aviação civil, como explicou a fonte do DN.
Quem não quis comentar a questão foi a Associação A4E, que reúne diversas companhias europeias. Ao DN, o gabinete de imprensa frisou: “A A4E não comenta decisões operacionais dos seus membros. Soubemos da decisão da Ryanair ao mesmo tempo que os media europeus. E temos a certeza que estão a fazer o possível para minimizar o impacte da situação junto dos passageiros.”
Condições para receber prémio A decisão da empresa em oferecer prémios monetários a quem aceitar trabalhar nos próximos meses nas suas folgas – o pagamento de acordo com o documento a que o DN teve acesso será efetuado em novembro do próximo ano – está, no entanto, sujeita a várias condições. Por exemplo, quem aceitar tem de trabalhar em dez dias de folgas entre o dia 15 deste mês e 31 de outubro de 2018; tem de completar mais de 800 horas de voo em 12 meses até outubro de 2018; e não pode ter mais de quatro faltas não autorizadas.
Surpresa e ansiedade Os passageiros foram apanhados de surpresa com esta situação. Foi o caso de Carina Fernandes, de 26 anos, que recebeu a mensagem da Ryanair, informando-a que o voo que tinha marcado para o dia 1 de outubro, às 06.30, tinha sido cancelado. “Fiquei muito nervosa. Ia viajar do Porto para Barcelona, onde tenho uma entrevista de emprego no dia 2”, contou ao DN a designer de calçado. Apresentaram-lhe duas soluções: “O reembolso do voo ou a troca.” Como tem mesmo de viajar para Espanha, tentou fazer a troca – “que supostamente seria gratuita” – mas até ao final da tarde não tinha conseguido. “E ninguém da empresa atende telefones, nem responde no chat”, lamenta.
Até ao final da tarde de ontem, a designer ainda não sabia como ia resolver a situação. “Estou à espera que o meu namorado – que tinha reservado os mesmos voos – possa ir ao balcão da Ryanair.” Com JOANA CAPUCHO