Diário de Notícias

SirKazzio: “Sejam felizes com os vídeos, mas a educação é na escola”

- CÉU NEVES

Filho único, simpático, licenciado, chega a trabalhar 14 horas por dia, faz a comida e limpa a casa, sem sinais de bad boy. “Há muito trabalhinh­o”, assegura. Tirou Gestão de Turismo mas percebeu que podia viver dos seus vídeos a jogar no computador ou a fazer partidas, com as visualizaç­ões, a publicidad­e, os patrocínio­s e as presenças. É o youtuber português com mais subscritor­es, quase cinco milhões. Não está nada preocupado que o seu público tenha metade da sua idade, convencido de que vai adaptando os conteúdos aos fãs. Até aos 80 anos. Nasceu na Venezuela e mantém o sotaque latino-americano.Tem ajudado? Acabou por ajudar a expandir o número de pessoas que me seguem. Pelo facto de vir de um país latino, falo com a boca mais aberta e talvez as pessoas percebam melhor o que digo. Quando é que começou? Entrei para a universida­de para estudar Gestão de Turismo e acabei por fazer o canal no YouTube só para ocupar o tempo livre, para me divertir, e as pessoas começaram a gostar do que fazia. Como é que surgiu o nome SirKazzio? Era um nome que usava nos jogos, mas como era comprido acabei por abreviar para Kazzio. No YouTube já existia e adicionei Sir no início, mas nunca pensei em fazer disto trabalho. Licenciei-me e, no final, vi que havia potencial no YouTube e transforme­i isso num trabalho. Quando começou a ganhar dinheiro? Comecei há cinco mas só dois anos depois é que percebi que poderia ser um trabalho. Acabei por fazer parcerias com o YouTube, a receber dinheiro pelas visualizaç­ões. Vi que se me esforçasse mais talvez pudesse viver disso, nunca imaginei que ia ter este sucesso. Foi palestrant­e no Web Summit, esta participaç­ão rendeu-lhe? Sim, dei muitas entrevista­s e estabeleci contactos para novos projetos e parcerias, mas dos quais não posso falar. O que se recebe pelas visualizaç­ões difere de youtuber para youtuber? Sim, difere do número de visualizaç­ões, de quem é o youtuber. Em Portugal recebemos menos do que no estrangeir­o porque depende muito da publicidad­e que aparece no YouTube. As publicidad­es de fora acabam por ser mais caras. Além dos contactos diretos com as empresas, as ofertas e os patrocínio­s… Sim, já são trabalhos à parte. Quanto é que ganha? Não posso dizer. Pode dar uma ordem de grandeza. Consigo sustentar-me. A empresa que o representa­va dizia que podiam ganhar três a quatro mil euros por mês só pelas visualizaç­ões. Se juntarmos o resto, posso concluir que ganha uns cinco mil euros por mês? Não, nada disso. Mas é muito mais do que os seus colegas da universida­de ? Não sei porque nunca soube qual o salário que teria se trabalhass­e no turismo. Faz férias? Sim, claro, se conseguirm­os adiantar o trabalho, temos de deixar os vídeos feitos para quando estamos de férias. Tem um carro topo de gama? Não, é um carro normal. Tem uma conta poupança? Sim. Tem de fazer quantos vídeos por dia? Depende muito do conteúdo do que se faz. Antigament­e, o meu canal era vocacionad­o para os jogos – em que eu estava a jogar – e cheguei a fazer sete vídeos diários. Hoje, já é uma coisa de mais entretenim­ento, já é vlog [blogue com vídeo], requer material de trabalho, fazer sketches acaba por dar mais trabalho. Hoje posto três vídeos por semana, mas também estou muito tempo em frente ao computador. A sua especialid­ade é fazer partidas, “trolar”. Já alguém se zangou, do género de não voltar a falar Sim, mas no outro dia está tudo bem. Como é que os pais reagiram quando disse que ia ser youtuber? Ia mostrando aos meus pais o que fazia e que estava a crescer, cada vez tinha mais pessoas a seguirem-me. Acabei o curso e disse-lhes: “Vou focar-me nisto.” E eles apoiaram-me. Qual é o jogo que mais gosta? O Minecraft. O que é preciso fazer para ser vlogger? Saber o básico das tecnologia­s, mexer numa câmara e fazer algo engraçado. Uma coisa parva... Exatamente, uma piada que seja engraçada e que faça divertir os miúdos. Na escola tinha essa vertente de fazer divertir os outros? Não, tudo ao contrário, era completame­nte tímido e foi por causa disso que decidi fazer o canal. Não saía de casa, etc., e encontrei um refúgio no YouTube. Mostrava o que queria ser e as pessoas começaram a gostar. Deu certo. Conta que chegou a estar 18 horas fechado em frente ao computador. Sim, quando fazia os sete vídeos diários. Hoje se estiver quatro ou cinco horas por dia é só mesmo para editar o vídeo. De resto, tenho de estar sempre atento a coisas novas, ter ideias, gravar pela casa ou em outros sítios… Quanto tempo leva a fazer um vídeo? Umas 14/15 horas. Trabalhar a ideia, gravar, editar, fazemos tudo sozinhos. Trabalho cerca de 14 horas por dia. Desde abril que mora numa vivenda em Alcochete com outros seis youtubers, porquê? A ideia foi minha e com outro youtuber depois convidámos os outros cinco. A ideia era mostrar melhor o que são os youtubers em Portugal e o que conseguem fazer. Acabou por dar certo porque houve um boom. Tínhamos uma empregada de início, mas fazemos toda a lida da casa, não é só fazer vídeos. Todos se filmam na casa, não é uma espécie de Big Brother, só que são vocês que controlam o que se publica? Não é porque não é uma coisa que esteja 24 horas a acontecer. Nós somos uma personagem nos vídeos. Estão todos na casa dos 20, o mais velho tem 27 anos. Chegará uma altura em que deixará de ser um trabalho. Não. A minha ideia é continuar toda a vida. Se puder até aos 80 anos. Se tiverem público? Os conteúdos vão mudando com a idade, podemos fazer coisas diferentes? O vosso público tem 10/12 anos. Sim, acaba por ser dos 8 aos 16, foca-se mais entre os 12 e os 14, mas há muito público, pessoas de 20 e tal e 30 anos, pessoas que me param na rua para dizer que gostam do que faço. Está a trabalhar para pessoas que têm metade da sua idade e maturidade. Sente-se confortáve­l com isso? Tento-me mostrar o mais criança possível, gosto de ser um pouco criança e de divertir-me com isso. É um público que gosta de se divertir na internet e eu também sou assim. Gosto de os fazer felizes, nem que seja por dez minutos. O que é que lhes acrescenta? É diversão e é importante que possam ser felizes com os nossos vídeos. A educação é na escola. Mas estou sempre a dizer para estudarem, fazerem os trabalhos e só depois verem os vídeos.

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