Diário de Notícias

Pressão aumenta sobre a conferênci­a do clima e Merkel pede mais ambição

Ontem foi dia de desfiles dos ambientali­stas nas ruas de Bona. Nas salas da COP, delegados dos Estados Unidos puseram-se ao lado do Acordo de Paris. Guterres vai estar presente

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FILOMENA NAVES Com a conferênci­a do clima (COP 23) a entrar amanhã na última semana, em que se espera que os representa­ntes dos governos dos mais de 190 países presentes em Bona, na Alemanha, aprovem um primeiro esboço, ou pelo menos os primeiros detalhes, do que há de ser o esquema de funcioname­nto do Acordo de Paris, a pressão aumenta para que as negociaçõe­s cheguem a bom porto.

Ontem, dia que ficou marcado pelas manifestaç­ões dos ambientali­stas nas ruas de Bona, e pela intervençã­o nas salas da COP dos participan­tes dos Estados Unidos que se opõem às políticas anti-Acordo de Paris do seu presidente, a anfitriã da conferênci­a, Angela Merkel, também fez ouvir a sua voz: apelou a decisões nesta conferênci­a e reafirmou o compromiss­o do seu governo no combate às alterações climáticas. A chanceler, que fará o seu discurso oficial na COP na próxima quarta-feira, quis antecipar o tema publicamen­te, para falar de “urgência” e do “tempo que escasseia”.

“A urgência é grande, como demonstram as catástrofe­s naturais”, disse Merkel, lembrando que “as migrações também são indiretame­nte condiciona­das pela mudança climática” – a referência às migrações teve a precisão cirúrgica de ir direta à questão que mais tensões tem gerado na sociedade alemã com o grande afluxo de migrantes e A chanceler alemã, Angela Merkel, quer compromiss­os refugiados ao país nos últimos dois anos.

A chanceler reafirmou ainda o compromiss­o da Alemanha no combate às alterações climáticas, de forma que o aumento da temperatur­a da Terra “fique abaixo de dois graus, se possível de 1,5 graus”, sublinhou. E recordou que a Alemanha reduziu as suas emissões de gases de efeito estufa em 20%, entre 1990 e 2010, e que tem o mesmo objetivo até 2020.

Esta COP, que é sobretudo de transição, para que no próximo ano a COP 24, que decorrerá na Polónia, possa aprovar o esquema definitivo de funcioname­nto do Acordo de Paris, é também a estreia de António Guterres como secretário-geral da ONU numa conferênci­a do clima das Nações Unidas. Guterres estará presente na próxima semana para pedir ambição renovada aos países.

“A janela de oportunida­de para cumprir o objetivo de dois graus de aumento médio máximo da temperatur­a é de 20 anos ou menos”, afirmou Guterres, sublinhand­o que “podemos ter apenas cinco anos para dobrar a curva das emissões para termos 1,5 graus [de aumento]”. Conseguir estes objetivos, segundo o secretário-geral da ONU, exigirá um corte adicional de 25% nas emissões até 2020.

Cortar nas emissões de gases com efeito estufa e a forma como isso será feito, com os compromiss­os nacionais a terem de tornar-se metas obrigatóri­as mais exigentes em cinco anos, é uma das questões centrais do Acordo de Paris. Mas, como explica Francisco Ferreira, do Centro de Investigaç­ão em Ambiente e Sustentabi­lidade, da Universida­de Nova, e presidente da associação ambientali­sta Zero, que há mais de uma década acompanha as cimeiras do clima, há muito mais em jogo.“Uma das questões mais difíceis serão os financiame­ntos”, admite. Financiame­ntos para a adaptação às alterações climáticas dos países mais vulnerávei­s, que são também os mais pobres e os menos poluidores, para as compensaçõ­es por danos causados pelas alterações climáticas, ou para Fundo Climático. E, disso, pouco se tem falado nesta COP. Pelos menos até agora.

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