Diário de Notícias

Árbitros têm rendimento­s acima da média nacional

O internacio­nal Jorge Sousa ganhou mais de sete mil euros em outubro. Mas há países onde os árbitros ganham bem mais

- CARLOS NOGUEIRA

O que faz correr os árbitros? A pergunta é recorrente ao comum adepto quando semana após semana constata a pressão a que estes profission­ais estão constantem­ente sujeitos, muitas vezes até alvos de ameaças. As questões subjetivas, como o gosto pela atividade, não são facilmente analisávei­s, pelo que as materiais podem dar alguns sinais sobre se existe a justa compensaçã­o para quem todas as semanas está no olho do furacão. Desde novembro de 2013, Portugal passou a ter árbitros profission­ais, com uma remuneraçã­o fixa mensal bem acima do salário médio praticado nas empresas privadas no nosso país, que em 2017 é pouco superior a 1100 euros. São nove os internacio­nais que foram abrangidos pela profission­alização. Jorge Sousa, Artur Soares Dias, Carlos Xistra, Hugo Miguel, Fábio Veríssimo, João Pinheiro, Tiago Martins, Luís Godinho e João Capela auferem 2500 euros brutos de salário mensal. Aos quais acrescem 500 euros de subsídio de treino, além de uma diária de 134 euros quando são designados para dirigir partidas em dias de semana, parcelas que são também pagas aos outros árbitros de primeira categoria.

Estes montantes são pagos pela Federação Portuguesa de Futebol, aos quais é preciso acrescenta­r os prémios por jogo praticados pela Liga e que abrangem também todos os árbitros não profission­ais. Estes últimos não têm uma remuneraçã­o-base, ganhando 1342 euros por cada jogo da I Liga que dirigem e 939 euros por partida da II Liga. Se forem designados como quarto árbitro auferem 320 euros no escalão principal e 235 euros no segundo escalão.

Pegando no exemplo do internacio­nal Jorge Sousa, podemos verificar que durante o mês de outubro auferiu uma remuneraçã­o global sete vezes superior à media praticada nas empresas privadas durante este ano. O juiz portuense recebeu 7294 euros, pois além do salário-base de 2500 euros e do subsídio de treino de 500 euros recebeu mais 4026 euros pelos três jogos da Liga que dirigiu e ainda 268 euros de diária porque duas dessas partidas realizaram-se em dias de semana.

Os árbitros de primeira categoria sem o estatuto de profission­ais, como têm outra atividade profission­al, apenas recebem consoante os jogos que dirigem, razão pela qual, por exemplo, durante o mes- mo mês de outubro Vasco Santos ganhou 3839 euros, correspond­entes a dois jogos que dirigiu na I Liga (2684 euros), um jogo como videoárbit­ro (335 euros) e outro como quarto árbitro (320 euros), aos quais é preciso somar os 500 euros de subsídio de treino.

Arbitragem “é o parente pobre”

Está em curso uma negociação entre a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) e a Liga para o aumento das remuneraçõ­es por cada partida realizada, que teve um pequeno ajuste em 2011, quando os juízes de primeira categoria perderam o patrocínio nas camisolas (na altura a imobiliári­a ERA), razão por que estão agora a ser renegociad­os os novos valores.

“As negociaçõe­s decorrem e o que posso dizer neste momento é que as partes não estão longe de chegar a um entendimen­to”, revelou Luciano Gonçalves, presidente da APAF, ao DN, acrescenta­ndo que faltam apenas alguns detalhes para se chegar a um acordo de aumento para os árbitros. Este responsáve­l considera que a arbitragem “é o parente pobre do futebol

Os árbitros profission­ais têm um salário-base de 2500, os restantes de primeira categoria recebem consoante os jogos que apitam Os árbitros FIFA espanhóis têm um salário-base de 15 mil euros, o mais elevado entre as cinco principais ligas europeias

português”, “tendo em conta a responsabi­lidade” que têm “e o clima de instabilid­ade que os rodeia”.

Essa discrepânc­ia acentua-se quando olhamos para o panorama internacio­nal, nomeadamen­te para os cinco principais campeonato­s europeus, embora, como faz questão de dizer Luciano Gonçalves, “não se possa comparar a realidade portuguesa com a das principais ligas europeias, pois um trabalhado­r em Portugal em qualquer atividade tem um salário mais baixo do que nesses países”. E nesse sentido, sublinha o presidente da APAF, “é preciso olhar para estas questões tendo em conta a proporção de cada país”.

Em jeito de curiosidad­e, podemos dizer que os árbitros profission­ais em Espanha são os mais bem pagos entre as cinco principais ligas da Europa. São 15 mil euros brutos mensais, valor ao qual acresce mais 3700 euros por cada jogo que fazem. Em Inglaterra, os árbitros de elite Martin Atkinson e Mark Clattenbur­g auferem 11 300 euros mensais, estando Mike Dean num escalão intermédio, com um ordenado mensal de 9436 euros, enquanto os juízes habilitado­s a dirigir jogos da Premier League ganham 6132 euros mensais.

Os árbitros das big five com ordenados mais baixos são os franceses, com 6283 euros pagos a cada internacio­nal, que ainda recebem 2931 euros por cada jogo que fazem. Refira-se que os juízes de elite da Bundesliga são, a seguir aos gauleses, os que menos auferem no que diz respeito a salário-base (6583 euros), mas em contrapart­ida são os que mais ganham por jogo, nada mais nada menos do que cinco mil euros por cada vez que entram em campo. Alemanha e Itália são os únicos campeonato­s dos principais europeus com videoárbit­ro, recebendo os italianos 1500 euros por cada vez que desempenha­m as funções de VAR, mais 250 euros do que os VAR da Bundesliga.

Nesse parâmetro, os portuguese­s são “goleados”, uma vez que só recebem 335 euros por cada jogo, mas aqui é bom também ter em conta a proporção dos países.

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*aplicável a todos os árbitros de 1ª categoria
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Artur Soares Dias, aqui a aquecer com a sua equipa num jogo da Champions, é um dos nove árbitros internacio­nais portuguese­s

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