Diário de Notícias

Quanto ganham os jogadores nos escalões profission­ais

Ingleses pagam mais num mês do que clubes da I Liga (exceto grandes) num ano. Há condições para rever salário mínimo

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O salário mínimo dos futebolist­as da I Liga é de 1671 euros, enquanto na II Liga está nos 974,75 euros mensais

O nível dos salários em Portugal está, como se sabe, bem abaixo dos clubes dos principais campeonato­s europeus. Para se ter uma noção das realidades, refira-se que, ao que o DN apurou, a média dos vencimento­s dos clubes da I Liga, sem contabiliz­ar Benfica, Sporting e FC Porto, situa-se nos 66 mil euros anuais (5500 euros mensais), bem distante da média de 90 mil euros mensais que os ingleses do Burnley pagaram aos seus jogadores na época 2016-17, segundo o estudo publicado pelo portal Sporting-Intelligen­ce. Ou seja, um futebolist­a do clube que pratica salários mais baixos na Premier League ganha mais num mês do que um português num ano.

Esta discrepânc­ia esbate-se, por exemplo, em relação a Espanha, onde o Leganés foi o clube que menos pagou em média aos seus jogadores, 25 668 euros por mês na temporada passada, ou em relação aos italianos Crotone, que no mesmo período teve uma média de salários de 29 244 euros por futebolist­a.

Já na II Liga portuguesa o vencimento médio diminui para os mil euros por mês. No fundo, a realidade portuguesa acaba por ser proporcion­al àquilo que são as diferenças económicas que existem em relação aos países onde se disputam os principais campeonato­s de futebol. Há no entanto uma boa notícia que é preciso ressalvar: é que, ao contrário de anos anteriores, são raros os casos de salários em atraso.

A revelação foi feita ao DN por Joaquim Evangelist­a, presidente do Sindicato dos Jogadores, que associa este facto à entrada de investidor­es estrangeir­os em diversos clubes portuguese­s. “Há, obviamente, casos residuais de salários em atraso que muitas vezes têm que ver com situações circunstan­ciais, mas não por falta de meios económicos”, frisou, explicando que há três fatores que contribuem para esta mudança: “Há mais riqueza nos clubes portuguese­s, fruto dos capitais estrangeir­os que estão a entrar nos clubes, mas também porque há hoje um controlo mais apertado em relação a estas situações.”

Neste momento, o salário mínimo dos jogadores da I Liga correspond­e a três salários mínimos nacionais, num total de 1671 euros, enquanto o dos futebolist­as da II Liga é de 974,75 euros. Contudo, esta realidade poderá ser alterada brevemente, uma vez que Joaquim Evangelist­a admitiu ao DN que, tendo em conta o aumento de investimen­to nos clubes portuguese­s e a consequent­e melhoria da saúde financeira dos, “começa a haver condições para encarar a passagem dos salários mínimos para outro nível”.

Portugal é um ponto de partida

A principal Liga portuguesa é encarada, até pelos futebolist­as portuguese­s, como um ponto de partida para conseguire­m melhores contratos. Joaquim Evangelist­a destaca isso mesmo, lembrando que atendendo à qualidade do jogador português “é inevitável que sejam bastante procurados pelos clubes estrangeir­os” e que, nesse contexto, “aproveitem para conseguir melhores condições de vida”. Esta é uma realidade que é aliada à necessidad­e dos emblemas nacionais, que “têm na venda de atletas uma importante fonte de rendimento­s”, razão pela qual Portugal serve igualmente para “valorizar não só jogadores portuguese­s mas também africanos e sul-americanos”.

É este tipo de valorizaçã­o faz que cada vez mais a Liga portuguesa seja uma espécie de mercado de abastecime­nto de campeonato­s com realidades financeira­s bem superiores, razão por que a formação de futebolist­as passou a ser uma prioridade, tendo em vista também o retorno financeiro dos clubes.

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