Diário de Notícias

750 mil na marcha pela libertação dos “presos políticos”

Catalunha. Carme Forcadell, livre após pagar a fiança, não foi à manifestaç­ão por conselho do advogado. Ada Colau criticou Puigdemont

- SUSANA SALVADOR

“Obrigado por nos lembrarem que não estamos sozinhos, como vocês também não estão, e que juntos, apesar das dificuldad­es, vamos conseguir.” A mensagem de Raül Romeva, ex-conselheir­o para os Assuntos Externos da Generalita­t detido em Madrid, foi lida diante das 750 mil pessoas que, segundo a polícia municipal, ontem se manifestar­am em Barcelona para pedir a libertação dos “presos políticos”. Na multidão não estava a presidente do Parlamento, Carme Forcadell, a conselho dos advogados.

O protesto foi convocado pelas associaçõe­s independen­tistas Assembleia Nacional Catalã (ANC) e Òmnium Cultural, cujos líderes Jordi Sànchez e Jordi Cuixart, foram os primeiros a ser presos a 18 de outubro. São acusados de sedição nos protestos prévios ao referendo de 1 de outubro. Da parte do ex-governo catalão, são oito os detidos desde o dia 2 de novembro. Estão acusados de rebelião, sedição e peculato na organizaçã­o desse mesmo referendo e consequent­e declaração unilateral de independên­cia. Foram lidas cartas de todos.

Desde Bruxelas, o ex-presidente da Generalita­t, Carles Puigdemont, que aguarda a decisão da justiça belga sobre o pedido de extradição junto com quatro ex-consellers, enviou uma mensagem de vídeo pedindo aos catalães que “continuem ativos”. E no Twitter partilhou uma foto onde se via os manifestan­tes a usarem os telemóveis como se fossem velas para iluminar a Rua Marina, em Barcelona: “A vossa luz che- ga-nos a Bruxelas e ilumina o caminho que temos de continuar a seguir. São a nossa força”, escreveu.

Carme Forcadell, a presidente do Parlamento catalão que pagou 150 mil euros para não ter de aguardar o decorrer do processo na prisão, foi aconselhad­a pelos advogados a não estar presente na marcha. Investigad­a também por rebelião, sedição e peculato na organizaçã­o do referendo, Forcadell foi avisada que poderia voltar a ser presa caso insistisse no processo independen­tista.

Diante do juiz Pablo Llarena, do Supremo Tribunal, a líder do Parlamento admitiu que a declaração unilateral de independên­cia foi simbólica. Também acatou o artigo 155.º da Constituiç­ão e compromete­u-se a seguir a atividade política apenas dentro da legalidade. Ausente da manifestaç­ão, Forcadell lembrou o nome de todos os detidos no Twitter, acabando a mensagem com a palavra “liberdade”.

Segundo disseram à agência EFE fontes da Esquerda Republican­a da Catalunha (ERC), que lhe reservou um lugar nas suas listas para as eleições autonómica­s de 21 de dezembro, Forcadell estará inclinada a não repetir a candidatur­a. Militante da ERC, a líder do Parlamento candidatou-se em 2015 como independen­te dentro do Junts pel Sí, tendo sido antes presidente da ANC.

Outra das militantes da ERC que faz parte da Mesa do Parlamento, e que teve de pagar 25 mil euros para não ser detida ao abrigo do mesmo processo que Forcadell, já anunciou oficialmen­te no Twitter que não se candidata. Anna Simó, que estava no quarto mandato, indicou que tinha tomado a decisão pessoal há mais de dois anos de que esta seria a sua última vez como deputada.

A ERC, que recusou a ideia de uma lista única independen­tista defendida pelo Partido Democrata Europeu Catalão de Puigdemont, terá Oriol Junqueras como cabeça-de-lista. O ex-vice-presidente da Generalita­t é um dos detidos. Os outros militantes que estão presos ou que foram para Bruxelas, têm tam- bém lugar na lista, que só tem de ficar fechada a 17 de novembro.

A presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau, esteve na manifestaç­ão, apesar de horas antes ter criticado o antigo governo catalão. “Eles fizeram a declaração de independên­cia enganando a população por interesses partidário­s”, afirmou antes do protesto. Colau acusou-os ainda de “ter causado tensão na Catalunha” e “criado um prejuízo eco-

Carme Forcadell tem lugar nas listas da ERC para as eleições autonómica­s de 21 de dezembro, mas estará inclinada a não ser candidata “Em vez de convocar eleições, fizeram a declaração unilateral de independên­cia e desaparece­ram”, disse Colau, num ataque a Puigdemont

nómico terrível” com os seus gestos.

“Queremos que os presos sejam libertados, mas também queremos que um governo irresponsá­vel que conduziu o país ao desastre enfrente [as suas responsabi­lidades] e reconheça os seus erros”, disse. Colau atacou também Puigdemont: “Em vez de convocar eleições, fizeram a declaração de independên­cia e desaparece­ram”, deixando a Catalunha “sozinha face à incerteza”.

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 ??  ?? Manifestan­tes usaram telemóveis para iluminar Barcelona. “Também sou um deles”, lia-se nas grades falsas com o nome dos detidos
Manifestan­tes usaram telemóveis para iluminar Barcelona. “Também sou um deles”, lia-se nas grades falsas com o nome dos detidos
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