Diário de Notícias

A cidade das Filipinas onde Trump é visto como herói

Visita. Em Subic, onde vivem militares americanos reformados, o presidente é admirado. ONG pede a Trump que condene violência da guerra à droga levada a cabo por Duterte

- PATRÍCIA VIEGAS

Numa das ruas principais de Subic há bares que se chamam Alasca, Crazy Horse ou Rolling Stone. Os restaurant­es oferecem descontos para militares e têm nos menus pratos como hambúrguer­es chamados shotgun e omeletes sheriff. Há lojas de tatuagens, de bebidas alcoólicas, oficinas de motos especializ­adas em Harley Davidson. Esta cidade das Filipinas, que fica a três ou quatro horas de carro da capital, Manila, tem cem mil habitantes. Muitos são americanos. Militares reformados que ali vivem. Durante muito tempo, até 1992, foi ali que os Estados Unidos tiveram uma das suas maiores bases navais em todo o mundo. Em Subic, apesar de todo o criticismo de que é alvo, o presidente Donald Trump, que hoje está de visita às Filipinas, é admirado e até visto como herói.

“Eu apoio Trump. Os opositores dele não o querem deixar governar, mas ele é mais esperto, está sempre um passo à frente deles. Ele apenas faz as coisas de forma diferente, ele tuíta, tem palavras fortes, mas onde é que ele já errou? Eu, se ele me pedisse para ir ter com ele a Manila, ia em menos de nada”, diz à Reuters Mike McCarthy, antigo master chief na U.S. 7th Fleet da Marinha dos EUA, enquanto bebe uma cerveja num dos bares. “Ele defende o povo americano. Espero que venha a ser reeleito. Adorava conhecê-lo e poder tomar uma cerveja com ele. Estou muito contente que Donald Trump venha aqui e acho que ele e o presidente [filipino Rodrigo] Duterte se vão entender lindamente”, disse por sua vez ao jornalista Martin Petty o veterano James Goodman. Aos 51 anos, 13 deles nas Filipinas, é dono de seis bares em Subic.

Questionad­o recentemen­te sobre o que diria se o homólogo americano lhe falasse de direitos humanos durante a visita às Filipinas, Rodrigo Duterte respondeu: “No meu país mando eu.” E na quinta-feira, noVietname, falando à comunidade filipina, admitiu ter matado um homem à facada quando tinha apenas 16 anos. “Quando era adolescent­e, entrava e saía da cadeia. Tinha lutas aqui e ali. Com 16 anos matei uma pessoa. Esfaqueei-a. Só porque nos olhámos. O que é que mais é preciso? Agora que eu sou presidente?”, lançou, num discurso falado meio em inglês meio em tagalo, citado pelos media internacio­nais depois de o vídeo ter ido parar ao YouTube. Em maio, aos militares, explicou assim o que estes podiam fazer enquanto estivesse em vigor a lei marcial, imposta para combater a insurreiçã­o islamita no Sul do país: “Se tiverem violado três mulheres, cumpro a sentença. Mas se se casarem com quatro, levam porrada.”

Antes da chegada de Trump, a Amnistia Internacio­nal (AI) pediu ao presidente americano para confrontar o líder filipino com o balanço sangrento da violenta guerra contra o narcotráfi­co. “É hora de o presidente Trump dizer a Duterte que este deve pôr fim às execuções extrajudic­iais, à impunidade dos abusos policiais e aos ataques aos defensores dos direitos humanos”, declarou a ONG em comunicado a partir da sua delegação nas Filipinas. Num ano e quatro meses, a guerra contra a droga de Duterte já fez mais de seis mil mortos e, desses, quatro mil poderão ter sido abatidos pela polícia, sublinha aquela organizaçã­o.

A AI acredita que Trump tem “o dever moral de confrontar Duterte para demonstrar o compromiss­o da sua administra­ção com a defesa dos direitos humanos”. Contudo, analistas consideram ser pouco provável que Trump o faça uma vez que elogiou anteriorme­nte a eficácia da operação antidroga nas Filipinas numa conversa telefónica que manteve com Duterte, como este revelou em maio. O governo filipino, por sua vez, assegura que não existem execuções extrajudic­iais e que a polícia só dispara quando os suspeitos resistem.

Trump vai estar em Manila durante três dias para participar na cimeira da Associação das Nações do Sudeste Asiático – ASEAN – composta por Birmânia (Myanmar), Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietname. Nas Filipinas, segundo dados do Departamen­to de Estado dos Estados Unidos citados pela Reuters, vivem atualmente 222 mil americanos. A maioria deles são militares reformados. Além disso, 650 mil turistas americanos visitam o país todos os anos.

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James Goodman, dono de seis bares em Subic, elogia Trump. O presidente dos EUA é esperado hoje em Manila
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