Diário de Notícias

Novos tratamento­s prolongam vida com mais qualidade

Encontro internacio­nal debateu em Lisboa novas abordagens terapêutic­as no cancro. Especialis­ta português que está a trabalhar nos Estados Unidos em ensaios clínicos no cancro da próstata trouxe novidades nesta área

- FILOMENA NAVES

A combinação da hormonoter­apia com a quimiotera­pia para tratar o cancro da próstata em fase avançada (quando já existem metástases) permite prolongar a vida destes doentes entre mais um ano a ano e meio, em comparação com o tratamento que até há cerca de três anos era o padrão para estes casos – primeiro era feita a hormonoter­apia, e só depois, quando o tumor se tornava resistente a ela, se fazia a quimiotera­pia.

“Há um benefício maior para a qualidade de vida do doente, quando a combinação dos dois tratamento­s é feita à partida e o prolongame­nto da vida é muito significat­ivo”, assegura Pedro Barata, médico oncologist­a na Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, que esteve em Lisboa para falar do tema, no encontro Internatio­nal Meeting on Cancer Innovation, organizado pela CUF.

No cancro da próstata em fase avançada, “não é possível, hoje, falar de cura”, diz o especialis­ta português que trabalha em investigaç­ão clínica e em ensaios clínicos em oncologia, para os tumores da próstata, rins e bexiga. No entanto, os tratamento­s têm evoluído e ainda há menos de seis meses os resultados de um ensaio clínico confirmara­m que, além da combinação entre a hormonoter­apia e a quimiotera­pia, conseguem-se os mesmos benefícios juntando a mesma hormonoter­apia e com um outro produto chamado acetato abirateron­a.

“Tanto a quimiotera­pia como o tratamento com acetato abirateron­a já estavam aprovados para os doentes, para a fase em que já existe resistênci­a à hormonoter­apia, mas os ensaios clínicos mostraram que é melhor associar logo os tratamento­s”, explica Pedro Barata, sublinhand­o que estas são “excelentes novidades para os doentes”.

O que se segue nesta área são mais ensaios clínicos, nos quais Pedro Barata vai estar envolvido na unidade clínica onde trabalha, nos Estados Unidos. “Vamos fazer um ensaio clínico em Cleveland, em doentes com cancro da próstata com metástases, mas com um número limitado de metástases”, explica o especialis­ta.

“A ideia é estabelece­r tratamento­s mais intensivos para este tipo de doentes, fazendo combinaçõe­s de tratamento­s com hormonoter­apia e quimiotera­pia, por exemplo, e juntando-lhes um tratamento local, que pode ser cirurgia ou radioterap­ia.” O objetivo destes ensaios “é perceber se este tipo de abordagem, combinando o tratamento local para as metástases e o tratamento sistémico médico, se traduz num benefício clínico para os doentes, prolongand­o-lhes a vida, ou mesmo curando a doença”, adianta Pedro Barata.

Os resultados destes ensaios clínicos, com a resposta a estas questões, vão demorar “entre um e três anos”, o que faz antecipar mais novidades a curto prazo. “Vamos conseguir perceber que tipo de combinaçõe­s terapêutic­as poderão beneficiar estes doentes que têm um menor número de metástases, e se é possível, nesses casos, chegar à cura da doença”, explica o médico.

O cancro da próstata é atualmente o segundo cancro mais frequente no homem e está em quarto lugar como causa de morte por cancro no homem, nos países ocidentais, incluindo Portugal. Se não existirem metástases, no entanto – este é um cancro de evolução lenta –, as taxas de cura são elevadas.

“Se a doença estiver localizada e não houver metástases, no caso dos cancros de baixo risco a esmagadora maioria dos doentes curam-se”, explica Pedro Barata, sublinhand­o que “nos doentes de médio risco, essa percentage­m ainda é bastante grande, e nos de alto risco conseguem-se curar mais de 30% dos doentes”.

Pedro Barata está há dois anos a trabalhar nesta área nos Estados Unidos. “Quando fiz a especialid­ade em oncologia médica, nos Hospitais Centrais de Lisboa, estive durante seis meses nos Estados Unidos, e quando acabei a especialid­ade recebi o convite da Cleveland Clinic para continuar a aperfeiçoa­r-me lá nesta área da investigaç­ão clínica e ensaios clínicos.” Voltar a Portugal? Ainda não decidiu. “Quero regressar quando sentir que posso ajudar a oncologia médica em Portugal, fazendo o que faço agora : conduzir e reportar ensaios clínicos, que é a forma de fazer evoluir a medicina e, neste caso, a oncologia.”

Próximos ensaios clínicos vão avaliar benefícios de tratamento­s mais intensivos em doentes com menos metástases A ideia é testar a possibilid­ade de, nos casos em que há um menor número de metástases, o cancro poder ser curado

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O oncologist­a Pedro Barata faz investigaç­ão clínica nos Estados Unidos

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