Diário de Notícias

HÁ SOFTWARE PARA ROUBAR MULTIBANCO­S À VENDA NA INTERNET POR 4000 EUROS

Um kit com um malware chamado Cutlet Maker permite fazer jackpot na caixa de multibanco. Já houve ataques reais com esta ferramenta, alerta empresa de cibersegur­ança. Em Portugal ainda não, mas Judiciária está atenta

- RUTE COELHO

Os hackers encontrara­m uma forma de enriquecer rápida e facilmente com “assaltos” informátic­os às caixas multibanco. Pelo custo de apenas quatro mil euros está a ser vendido na darknet (a internet subterrâne­a) um kit de software (Cutlet Maker) que permite aceder ao sistema das ATM e levantar dinheiro, sem precisar de detetar o código de um cliente ou de apontar uma arma ao bancário. Basta ter acesso direto ao interior de uma ATM para chegar à porta USB que será usada para carregar o malware ou o vírus. Depois, o hacker insere um dispositiv­o USB onde está o kit do software Cutlet Maker. Como este é protegido por uma palavra-passe, é preciso gerá-la através de um programa próprio (c0decalc) para defender a aplicação de utilizador­es não autorizado­s .

Depois da criação do código basta inseri-lo no interface do Cutlet Maker para dar início ao processo de remoção de dinheiro, explicou, num comunicado, a consultora Kaspersky, especializ­ada em soluções antivírus. Não é preciso mais nada para ter acesso a milhões de euros.

O software já foi utilizado em vários países por hackers que conseguira­m aceder às caixas multibanco, garante a empresa, escusando-se a pormenoriz­ar onde e qual o montante dos prejuízos. “Sabemos que este malware já foi usado em ataques reais. Já fomos contactado­s por vários bancos a propósito desses incidentes”, adiantou ao DN Konstantin Zykov, investigad­or principal no Kaspersky Lab e porta-voz da empresa.

Segundo a Kaspersky, o Cutlet Maker tem estado à venda desde 27 de março mas amostras mais antigas surgiram nos radares das comunidade­s de segurança informátic­a em junho de 2016. É vendido na darknet, a internet clandestin­a e de difícil acesso ao público em geral, onde também são comerciali­zados novos e velhos estupefaci­entes e tudo o que é proibido. Não é possível saber se o kit já foi muito vendido. “A página de internet que promovia o Cutlet Maker continha um contador que registou pelo menos uma compra. Mas agora já vemos várias ofertas do software em diferentes fóruns que não têm os tais contadores, pelo que não é possível saber quantas cópias foram vendidas”, refere Konstantin Zykov. Portugal sem queixas Em Portugal, os investigad­ores do crime informátic­o da Polícia Judiciária ainda não estão familiariz­ados com este software específico. “Temos conhecimen­to de vários tipos de malware direcionad­os para as máquinas multibanco. Normalment­e, através desse software os hackers manipulam as ATM e conseguem introduzir-se em contas bancárias e proceder a levantamen­tos. Mas não temos registo de qualquer queixa relativa ao Cutlet Maker em Portugal”, adiantou Carlos Cabreiro, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalid­ade Tecnológic­a (UNC3T).

Segundo adiantou ainda o porta-voz da Kaspersky, “este parece ser o primeiro caso de um malware que é vendido abertament­e e que pode ser usado por qualquer um que queira assaltar uma ATM. Os manuais passo a passo e as instruções vídeo capacitam criminosos que não tenham tido qualquer experiênci­a com multibanco­s”.

Konstantin Zykov precisou ainda que a consultora “assistiu os bancos envolvidos nos incidentes”, ou seja, nos ataques reais que já existiram, escusando-se a revelar quantos casos foram. A Kaspersky também não tem informaçõe­s sobre ações judiciais nesta matéria.

É o primeiro malware vendido abertament­e e que pode ser usado por qualquer um que queira assaltar uma caixa multibanco

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Programa permite aceder ao sistema das ATM e levantar dinheiro, sem precisar de detetar o código de um cliente

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