Diário de Notícias

É o fim da picada diária para 15 mil doentes com diabetes tipo 1

Há um milhão de portuguese­s diagnostic­ados e 500 mil que não sabem que têm a doença. Hoje é o Dia Mundial da Diabetes

- JOANA CAPUCHO

A viver com diabetes tipo 1 há 24 anos, Paula Klose, de 36, vê-se obrigada a fazer sucessivas picadas para medir a glicose ao longo do dia. São entre oito e 12 diariament­e. “É uma questão de hábito, mas claro que preferia não ter de o fazer. Já não me dói, mas nas crianças mais pequenas e no início é um choque”, diz a presidente da Associação dos Jovens Diabéticos de Portugal (AJDP), que ontem ficou a saber pelo DN que o Estado vai compartici­par em 85% o dispositiv­o médico FreeStyle Libre, um medidor de glicose que evita as picadas diárias. Uma novidade divulgada na véspera do Dia Mundial da Diabetes.

Em comunicado, o Infarmed adiantou que “o acordo estabeleci­do com a empresa Abbott prevê o tratamento de cerca de 15 mil diabéticos tipo I durante o primeiro ano”. De acordo com a Autoridade Nacional do Medicament­o, “todas as crianças com mais de quatro anos serão beneficiad­as com este dispositiv­o”. Uma medida de “extrema importânci­a”, refere Paula Klose: “É uma notícia fantástica. Este aparelho permite uma melhoria significat­iva no controlo da diabetes, o que leva a uma maior qualidade de vida.”

Como o dispositiv­o tem um custo inicial de aproximada­mente 170 euros e mensal de 120, “só estava acessível para pessoas com muito dinheiro”. A presidente da AJPC espera que, no futuro, a compartici­pação possa abranger todos os doentes com diabetes tipo 1. “Não se sabe ao certo quantos são, mas é estimado que sejam entre 30 e 50 mil”, adianta.

Também a comunidade médica aguardava com expectativ­a que o Infarmed concluísse as negociaçõe­s para o financiame­nto do aparelho. “Fazer o controlo do açúcar sem ser preciso picar o dedo é realmente uma evolução extraordin­ária. É caro para as pessoas, mas para o Serviço Nacional de Saúde compensa, uma vez que estas pessoas consumiam muitas tiras de glicemia. Não é nenhum preço exorbitant­e”, afirma ao DN Rui Duarte, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetolog­ia.

Segundo o Infarmed, este sistema “garante um maior controlo das hipoglicem­ias (baixas de açúcar no sangue) e pode disponibil­izar uma imagem da glicemia do doente correspond­ente ao período de 24 horas”. Há um sensor que é aplicado “na parte posterior do braço e armazena os dados de glicose continuame­nte durante até 14 dias”. Doença afeta um milhão Em Portugal, a diabetes afeta um milhão de pessoas, mas haverá cerca de meio milhão que tem a doença e não sabe. “Há uma falha num grupo que tem entre 45 e 65 anos, porque este não vai ao médico”, destaca Estevão Pape, coordenado­r do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, reforçando que é necessário ter “uma atitude saudável perante a vida” para prevenir a doença. Além disso, frisa o especialis­ta, é necessário “ir com regularida­de ao médico de família para que haja diagnóstic­o precoce”.

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Picada é substituíd­a por um sistema de monitoriza­ção que mede automatica­mente níveis de glicose

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