Independência? Puigdemont diz existirem alternativas
ERC, o partido do ex-vice-presidente da Generalitat, admite que o govern não estava preparado para avançar com a república
O discurso de Carles Puigdemont sobre a declaração de independência da Catalunha tem sido pautado por avanços e recuos, intervalados por apelos ao diálogo com Madrid. Ontem, a pouco mais de um mês das eleições, o ex-presidente da Generalitat voltou a falar sobre o futuro da região, dizendo que há alternativas à separação de Espanha.
“Uma outra solução que não a independência é possível”, afirmou Puigdemont numa entrevista ao jornal belga Le Soir. “É sempre possível! Trabalhei durante 30 anos para obter outro estatuto para a Catalunha em Espanha! Trabalhámos muito nisso, mas a chegada do senhor Aznar ao poder travou esse caminho”, prosseguiu o catalão.
Quando questionado sobre se os independentistas apenas querem a independência, a resposta de Puigdemont é clara: “Não é verdade! Estou disposto e sempre estive disposto a aceitar a realidade de outra relação com Espanha.” “Continuo a ser a favor de um acordo, mas a origem de tudo é a anulação em 2010 do estatuto de autonomia, que tinha sido aprovado pelos parlamentos catalão e espanhol. Sabes quantos deputados independentistas havia então no Parlament? 14 em 135. Agora são 72. O responsável pela vaga independentista é, em primeiro lugar, o PP”, referiu.
Com eleições marcadas para 21 de dezembro, e perante um cenário de nova maioria independentista (como indicam as sondagens), o ex-presidente da Generalitat considerou: “Teremos de nos sentar novamente à mesa das negociações”, mas disse que “uma nova vitória mostrará que esta história não é coisa de quatro iluminados.”
O porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Sergi Sabrià, evitou entrar em polémicas com as declarações de Puigdemont sobre a existência de alternativas à independência, preferindo sublinhar que o ex-presidente da Generalitat está em Bruxelas por causa do seu compromisso com o referendo de 1 de outubro. “Queremos recordar que Puigdemont está em Bruxelas exilado por querer cumprir o mandato dos catalães expresso nas urnas. Não ponhamos em causa o compromisso de Puigdemont. Em caso algum entendemos que agora exista uma situação de retrocesso”, afirmou. A ERC é um dos partidos que faziam parte da coligação independentista maioritária Junts pel Sí e cujo líder, Oriol Junqueras, era o vice-presidente da Generalitat.
Sabrià admitiu também que o governo da Catalunha destituído não estava preparado para avançar com a constituição de uma república contra “um Estado autoritário e sem limites na hora de aplicar a repressão e a violência”, explicando que o executivo tinha “uma linha vermelha inultrapassável que era que não houvesse violência e que o processo fosse pacífico”.
Horas antes, a ex-conselheira da Educação Clara Ponsatí havia reconhecido, a partir de Bruxelas, que o governo do qual fazia parte não estava suficientemente preparado para dar seguimento à decisão do referendo de 1 de outubro e que essa “falta de preparação foi um erro”.
Embora ERC e Junts pel Catalunya se apresentem em separado às eleições de 21 de dezembro, o deputado republicano no Congresso de Madrid Gabriel Rufián defendeu ontem que a luta desta ida às urnas é pela “restituição das instituições, governo e presidente legítimo da Catalunha, Carles Puigdemont”.
A ERC terá como cabeça-de-lista Oriol Junqueras, atualmente detido, bem como vários conselheiros destituídos e igualmente em prisão preventiva, como Raül Romeva. De fora fica Anna Simó, a primeira secretária da Mesa do Parlament e investigada pelo Supremo, que anunciou a sua exclusão no sábado por vontade própria. Por saber está ainda se Carme Forcadell, a presidente do Parlament, fará ou não parte das listas republicanas. Fontes do partido adiantaram ao ElNacional.cat que Forcadell tem reservado um lugar na lista por Barcelona, mas que aguardam a sua decisão. O prazo de registo das candidaturas termina sexta-feira. Já Carles Puigdemont encabeçará uma candidatura da coligação Junts per Catalunya e que junta o PDeCAT do ex-presidente da Generalitat e a Convergência Democrática da Catalunha. Fica assim posta de parte a intenção de o ex-presidente da Generalitat apresentar uma coligação de cidadãos, para a qual chegou a fazer-se recolha de assinaturas, mas que tinha como inconvenientes o facto de não ter direito a tempo de antena nos media e a subvenções estatais.
No domingo ficou também a saber-se que a CUP vai participar nas eleições de 21 de dezembro, apesar de as considerar “ilegítimas”. A decisão foi tomada com o voto a favor de 91,64% dos militantes da terceira força independentista com representação parlamentar.