Puigdemont, o errático
Declarou a independência e agora diz que outra solução épossível. CarlosPuigdemont, presidente destituído do governo da Catalunha, continua assim a surpreender, agora na Bélgica, onde achou por bem se exilar para escapar à justiça espanhola. Na entrevista ao diário francófono
Le Soir deita as culpas da caótica situação política na Catalunha (sob tutela direta de Madrid até às eleições regionais de 21 de dezembro) aos sucessivos governos espanhóis, sobretudo os da direita, primeiro com José Maria Aznar e desde 2011 com Mariano Rajoy. Sinais de autocrítica (como alguns aliados) é que não,apesar de ter ousado encabeçar uma luta independentista que ele próprio já percebeu não levará a nada.A Catalunha até tem argumentos para ambicionar um caminho próprio, como as suas língua e cultura com um milhar de anos.Mas no quadro da Espanha democrática,e também no da União Europeia, uma história com especificidades é pouco para proclamar a independência: falta-lhe o apoio de uma sólida maioria da população (talvez conte com metade) e de uma razão de queixa válida,uma dessas opressões que alguns povos realmente sentem mundo fora. Puigdemont não percebeu que pelo menos metade dos catalães não comunga da sua ambição de independência; ignorou que os grandes partidos espanhóis estariam unidos contra a balcanização do país; não percebeu que a Europa não quer divisões mas sim aumentar a unidade; ignorou que as empresas sabem melhor do que ninguém que a alma do negócio, ou seja,a prosperidade catalã,tem mui toque ver comovas to mercado espanhole, portanto, reagiram ao referendo independentista de 1 de outubro votando com os pés.Só um grande resultado do bloco independentista a 21 de dezembro poderá dar algum ânimo a Puigdemont.Não que a independência passasse a estar mais perto,sim porque o caos teria terreno para se prolongar,com todos os imponderáveis associados.Mas com tantos ditos por não ditos,com tantas contradições acumuladas ao longo destes meses,Puigdemont cada vez mais parece o líder errático de uma causa perdida.