Do Canadá ao Reino Unido: o primeiro clube transatlântico
Primeira equipa profissional canadiana, Toronto Wolfpack, joga na liga inglesa e paga as viagens intercontinentais dos adversários
Criar uma equipa profissional de râguebi num país sem tradição na modalidade e torná-la o “primeiro clube transatlântico” da história do desporto não pareceu uma façanha impossível para quem – como Eric Perez – acredita que “as fronteiras são linhas artificiais”, feitas para serem derrubadas. O insólito projeto tornou-se realidade neste ano (e com sucesso imediato): os canadianos Toronto Wolfpack começaram a competir na 3.ª divisão da liga inglesa de rugby league (a variante de 13 jogadores) e logo garantiram a subida ao escalão superior.
Os cerca de seis mil quilómetros que separam o Canadá do Reino Unido não abalaram a ambição de Eric Perez que, depois de se apaixonar pela variante de rugby league, decidiu criar a primeira equipa profissional canadiana e pô-la a jogar no melhor campeonato do mundo. Após quatro anos de insistência com a liga inglesa (“de início pensaram que eu era maluco”), o CEO dos Wolfpack levou a ideia avante: neste ano, a equipa – financiada pelo milionário australiano David Argyle e patrocinada por uma companhia aérea – foi aceite na League 1, assumindo a despesa das viagens intercontinentais de todos os... adversários. “Fomos apanhados de surpresa. Ninguém tinha propriamente aberto a mente à possibilidade de um clube transatlântico entrar nos nossos campeonatos”, admitiu o diretor da liga inglesa (Rugby Football League), Nigel Wood. No entanto, com algum malabarismo logístico – os Wolfpack fizeram os primeiros sete jogos da época fora de casa, instalados durante dois meses em Inglaterra – tudo se concretizou. E os estreantes juntaram-se aos outros forasteiros das competições inglesas (dois clubes galeses na League 1, um francês no Championship e outro francês na Super League).
A estreia, contra uma maioria de equipas semiprofissionais, foi arrasadora. A equipa de Toronto sagrau-se campeã e garantiu a promoção ao Championship, com 20 vitórias, um empate e uma derrota. Todavia, os responsáveis da equipa canadiana não querem ficar por aí. “A subida foi fantástica mas queremos chegar ao topo e sentimos que seremos capazes”, afiança o treinador, Paul Rowley. “A primeira etapa está completa, mas este é um desafio com três níveis – dos quais o último é competir na Super League. Só quando lá chegarmos é que veremos o verdadeiro potencial desta equipa”, sublinha Eric Perez.
Só então é que se poderá perceber também se este modelo de expansão comercial da liga inglesa para a América do Norte tem futuro (neste momento já se perspetiva a candidatura de mais uma equipa canadiana e de outra com sede em Nova Iorque). Em Toronto, cidade mais dedicada às suas equipas de hóquei no gelo (Maple Leafs), basquetebol (Raptors), basebol (Blue Jays) e futebol (Toronto FC), que competem nas principais ligas dos EUA, os Wolfpack têm feito os possíveis para captar público: os cerca de oito mil espectadores que assistiram à vitória sobre os Barrow Raiders, que selou a vitória na League 1 e subida ao Championship, quase lotaram o Lamport Stadium.
Com um modelo de entretenimento à imagem das grandes ligas norte-americanaca (incluindo um avião da Força Aérea a sobrevoar o recinto e um canhão a lançar cachorros quentes para as bancadas, no intervalo dos jogos...), os responsáveis dosWolfpack acreditam mesmo que podem revolucionar o râguebi na Europa. “Não vai ser fácil chegar lá, mas podemos oferecer à Super League algo completamente diferente e ajudar este desporto a crescer”, nota Paul Rowley.
A promessa está feita. Mas antes há que garantir um lugar de subida no Championship. A prova começa a 4 de fevereiro de 2018 mas o emblema canadiano só se estreia em casa a 28 de abril, depois de fazer 11 jogos na Europa: contingências de ser um pioneiro transatlântico.