Diário de Notícias

Num país a sério...

- PAULO BALDAIA

Num país a sério, não gastávamos tanto tempo a discutir uma questão de lana-caprina. Não queremos jantares no Panteão Nacional? Gerou-se nas redes sociais um consenso generaliza­do sobre esta matéria? Está decidido, não haverá mais jantares no Panteão. Ponto final, parágrafo. Também é verdade que, num país a sério, não deixamos que sejam as redes sociais a governar, tanto mais que a intensidad­e da indignação contra o dito jantar é proporcion­al à indignação dos que não percebem que se perca tempo a discutir o dito jantar. Num país a sério, toda a gente sabe que se a diretora do Panteão tivesse proibido o dito jantar estaria agora a ser crucificad­a por ter impedido o repasto daWeb Summit, depois de outros jantares terem sido permitidos. É que convém não esquecer: a Web Summit é a “feira” que recebe todos os apoios possíveis e imaginávei­s do Estado, no pressupost­o de que tudo lhe deve ser permitido porque o país tem tudo a ganhar com a “feira”. Nesta hipocrisia de um país que se alimenta de todas as polémicas, nem vale a pena perder tempo com o debate político assente no passa-culpas. Ninguém passa fome, todos conseguem atirar polémica para cima dos outros. Entre quem fez o despacho e quem autorizou o evento com base no despacho, não existem uns que são mais culpados do que outros. Até agora estava tudo bem, a festa e a festança onde estava sempre a Dona Constança era boa para o país porque ajudava a manter de pé os monumentos. A indignação coletiva diz que tem de ser posta ordem na balbúrdia, faça-se então o que o povo indignado diz que tem de ser feito. Proíba-se! Agora, não estranhem que as mesmas redes sociais, depois de se terem mostrado indignadas com o jantar, se manifestem agora indignadas com a importânci­a que lhe está a ser dada. Num país a sério, há prioridade­s. O problema gravíssimo da seca está resolvido? No calor infernal que se vai fazer sentir no próximo verão, a prevenção e o combate aos fogos vão funcionar? A tropa agora já guarda como deve ser os seus quartéis? O SNS que existe para nos salvar, não está ele à espera de que o salvem? O poder político, maioria e oposição, precisa mesmo que se lhes recorde a lista de prioridade­s.

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