ITÁLIA FICA FORA DO MUNDIAL 60 ANOS DEPOIS
O “apocalipse” aconteceu: a squadra azzurra, quatro vezes campeã mundial, fica de fora, afastada pela Suécia – que segurou o 0-0 em San Siro. Buffon despede-se em lágrimas
Os italianos, quatro vezes campeões mundiais, foram eliminados pela Suécia. Gianluigi Buffon anunciou o adeus à squadra azzurra.
Como imaginar um Campeonato do Mundo de futebol sem a Itália, uma potência planetária, quatro vezes campeã mundial (1934, 1938, 1982 e 2006) e presente na prova há 14 edições consecutivas? Seria “o apocalipse”, dramatizou o presidente da federação transalpina, Carlo Tavecchio, talvez ainda descrente de que isso pudesse acontecer. No entanto, a hecatombe italiana concretizou-se: a squadra azzurra vai mesmo ficar fora do Mundial, 60 anos depois, após ter sido eliminada ontem pela Suécia.
O destino tem destas coisas. A Itália, que não falhava o Mundial desde o Suécia 1958 e não ficava fora de uma grande competição desde o Campeonato da Europa também realizado na Suécia, em 1992, torna-se a maior ausente do Rússia 2018 ao cair aos pés da seleção nórdica. Os escandinavos – que segura- ram o 0-0 em San Siro (Milão), após terem vencido por 1-0, na primeira mão do playoff europeu de qualificação – regressam ao maior torneio global, 12 anos depois.
A façanha escandinava, obra de uma equipa sem grandes estrelas, órfã de Ibrahimovic (ontem brilhou o guarda-redes Robin Olsen, como antes se destacara o médio defensivo Jakob Johansson, autor do golo da 1.ª mão), surpreende. Mas o que espanta os adeptos de todo o globo é a ausência da Itália, crónica candidata ao título do Mundial 2018. Afinal, não é comum ver um campeão do mundo fora de prova: além da squadra azzurra, só Uruguai (1934, 1938, 1958, 1978, 1982, 1994, 1998 e 2006) e Inglaterra (1974, 1978 e 2004) falharam a competição após terem erguido o troféu. E a equipa transalpina era a segunda com mais participações (18), em igualdade com a Alemanha e só atrás do Brasil (20).
A primeira ausência (1930) foi na edição inaugural do Mundial, com a Itália a juntar-se a vários países europeus que abdicaram da prova, devido aos elevados custos das longas viagens de barco até ao Uruguai. A segunda (1958) aconteceu aos pés da Irlanda do Norte e de Portugal: depois de ter sido goleada em Lisboa (3-0), a equipa transalpina precisava de empatar em Belfast para carimbar o passaporte... mas perdeu 2-1, abrindo caminho à qualificação norte-irlandesa. Contudo, nenhuma surpreendeu como esta – mesmo que a squadra azzurra já tenha estado longe do sucesso nos dois últimos campeonatos, ao não ir além da fase de grupos.
Domínio sem golo; adeus de Buffon
Desta vez, ao azar do sorteio da fase de qualificação (em que a Itália calhou no grupo da Espanha) juntou-se a debilidade de uma seleção que não conseguiu renovar-se sob o comando de Gian Piero Ventura (que sucedeu a Antonio Conte após o Euro 2016): faltou entrosamento e faltaram golos, como se viu ontem, diante de uma Suécia remetida à defesa. Noventa minutos de domínio absoluto (23-4 em remates, 75%-25% em posse de bola) não chegaram para evitar o “apocalipse”. Foi, para os italianos, “uma vergonha futebolística intolerável”, como escreveu o Corriere dello Sport. “Um desastre anunciado, espelho fiel de um fiasco técnico e tático”, nas palavras da Gazzetta dello Sport.
E “tudo terminou com as lágrimas de Buffon, o capitão que por 20 anos honrou a camisola azul” e que deixou “o sonho de um sexto Mundial” por cumprir, como lembrou o Tuttosport. O guarda-redes – ainda, aos 39 anos, a maior referência da equipa – podia tornar-se o primeiro jogador a participar em seis edições do torneio (após 1998, 2002, 2006, 2010, 2014). Não vai consegui-lo. E abandonou o relvado em lágrimas, anunciando o adeus à seleção.
“É uma pena que o meu último jogo oficial tenha sido na qualificação em que falhámos o acesso ao Mundial. Não estou triste apenas por mim, mas por toda a gente. Somos orgulhosos, fortes e capazes de levantarmo-nos”, disse o guardião – que se estreara há 20 anos, num playoff de qualificação para o Campeonato do Mundo (ante a Rússia). Então, a squadra azzurra seguiu em frente e o guarda-redes lançou-se para uma carreira de 175 internacionalizações, tendo como ponto alto a conquista do Mundial 2006.
Agora, esse caminho termina – como deverão chegar ao fim os percursos internacionais de veteranos como Barzagli, de Rossi (também campeões em 2006) ou Chiellini, disse Buffon à Sky Sports. O tempo é de renovação, o que deve significar a saída de Ventura... e talvez de Tavecchio, o homem do “apocalipse”.