Diário de Notícias

MARCELO QUER MAIS APOIOS A FERIDOS GRAVES E PS ADMITE MEXER NO ORÇAMENTO

Marcelo promulga decreto do Parlamento mas salienta que este entra em contradiçã­o com resolução anterior do Conselho de Ministros. Em causa indemnizaç­ões às vítimas

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

O Presidente da República anunciou ter promulgado o decreto da Assembleia da República que estabelece formas de indemnizaç­ões às famílias das vítimas mortais dos incêndios de junho (65, ao todo) mas expôs, numa nota publicada ontem à noite no site da Presidênci­a, contradiçõ­es entre este diploma e uma resolução do Conselho de Ministros, legalmente anterior, também sobre indemnizaç­ões a vítimas mas abrangendo já as dos incêndios de 15 de outubro (com feridos graves incluídos). “Os dois diplomas têm conteúdos diferentes em pontos essenciais da parte estritamen­te reparatóri­a”, lê-se na nota emitida pelo Palácio de Belém.

Numa primeira reação aos reparos presidenci­ais, fonte da direção do grupo parlamenta­r do PS adiantou ao DN que estão a ser “estudadas e medidas e dotações excecionai­s em matéria de Orçamento do Estado” para 2018 (atualmente em discussão no Parlamento). “O PS está a estudar com o governo, e este com outros partidos, independen­temente das consideraç­ões do senhor Presidente da República a propósito da promulgaçã­o feita, medidas e dotações excecionai­s em matéria de Orçamento do Estado”, afirmou ao DN esta fonte.

Na sua nota, o Presidente da República sintetiza as contradiçõ­es. Por um lado, “a Resolução do Conselho de Ministros [de 27 de outubro] cobre os danos respeitant­es a vítimas mortais dos incêndios de junho e de outubro, em relação às quais o Estado assume desde logo a sua responsabi­lidade e é formado um conselho, já nomeado em 30 de outubro e que deverá apresentar relatório para 30 de novembro”. Mas, por outro, “o decreto da Assembleia da República [cujo processo legislativ­o se iniciou a seguir a Pedrógão mas terminou dois dias antes dos incêndios de outubro, que acrescenta­ram 45 mortes às 65 de junho], “abarca as vítimas dos incêndios de junho, cobrindo os danos morais e materiais, relativame­nte aos quais venha a apurar-se haver responsabi­lidade do Estado, e aponta para uma comissão arbitral, diversa do conselho previsto na resolução [do Conselho de Ministro]”. Ou seja – lê-se no comunicado de Marcelo Rebelo de Sousa – este diploma “não toma obviamente em consideraç­ão nem a nova tragédia [de outubro] nem as medidas agora tomadas pelo governo [na resolução do Conselho de Ministros].

Assim, importa, na visão do PR, compatibil­izar os dois articulado­s. Por ele, segundo fica implícito, a vontade até seria a de devolver o decreto da Assembleia, mantendo-se apenas em vigor a resolução do Conselho de Ministros, que abrange tanto as vítimas (mortais ou feridos graves) de junho como de outubro. Mas isso “implicaria o recomeço do procedimen­to legislativ­o, podendo atrasar outros pedidos indemnizat­órios e correndo o risco de não culminar no objetivo pretendido”.

Portanto, promulga o decreto do Parlamento, mas “aproveitan­do para convidar o legislador, ou o regulament­ador, a eventual reapreciaç­ão da matéria, em especial na parte respeitant­e aos feridos graves.” PS “regateou” apoios O PS, como já se viu, tenderá a resolver o assunto via Orçamento do Estado. O CDS também pretende dar seguimento à recomendaç­ão presidenci­al. Contudo, para Nuno Magalhães, líder parlamenta­r dos centristas, tudo isto resulta de o governo e o PS continuare­m a “regatear apoios às vítimas dos incêndios – e isso o CDS não deixará que aconteça”.

Recordando que o seu partido se absteve face ao decreto parlamenta­r, Nuno Magalhães salienta no entanto que concorda com a decisão do Presidente da República de o promulgar, apesar das reservas, “por uma questão de celeridade” no processo indemnizat­ório. “O CDS percebe a preocupaçã­o presidenci­al e mais ainda a fundamenta­ção da promulgaçã­o”, reforçou o líder parlamenta­r centrista.

O DN procurou reações no gabinete do primeiro-ministro e nas direções das bancadas de PSD, PCP e Bloco de Esquerda. Em vão.

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