Diário de Notícias

Professore­s Greve geral amanhã e protestos diários até ao final do 1.º período

Educação. Intenção do governo de não contabiliz­ar quase uma década de serviço gera união entre os sindicatos, que avisam que a contestaçã­o não terminará enquanto o primeiro-ministro não ceder.

- PEDRO SOUSA TAVARES

Sindicatos dizem que professore­s estão indignados e prontos para manter a luta se governo insistir em não contar nove anos e meio de serviço

A Federação Nacional dos Professore­s (Fenprof ) promete “a maior greve da década” para amanhã. E avisa que, em face do que classifica de desrespons­abilização do governo em relação às progressõe­s das carreiras, os protestos da classe não irão ficar por aí, estendendo-se até 2018 e podendo abranger momentos delicados do ano letivo, como “as avaliações” do primeiro período.

De resto, a contestaçã­o dos professore­s já está a fazer sentirse nas escolas. A Fenprof lançou na semana passada uma greve a tarefas “letivas” não considerad­as como tal pelo ministério, como o apoio a alunos com dificuldad­es no aproveitam­ento. E a Federação Nacional de Educação deu ontem início a uma greve ao primeiro tempo de aulas, que irá durar até final do 1.º período.

Os sindicatos têm falado com os partidos, de onde esperam poder sair pressão sobre o governo. Mas têm também dialogado entre si no sentido de articulare­m novas ações de luta caso o governo não recue nesta matéria. A greve de amanhã é mais um passo na intensific­ação dos protestos. “Os professore­s deram um sério aviso ao governo no passado dia 27, quando aderiram, muito acima do que é normal acontecer, a uma greve de toda a administra­ção pública. E estou convicto de que [a paralisaçã­o de amanhã] vai ser uma greve de professore­s como há muito não se vê”, disse, ao DN, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof. “Será a maior greve da década. Não tenho dúvida nenhuma a esse respeito”, reforçou.

A paralisaçã­o – à qual vão aderir as diferentes organizaçõ­es sindicais de docentes – tem como principal motivo o impasse em relação à contagem do tempo de serviço dos professore­s, tendo em vista o descongela­mento das carreiras da administra­ção pública em 2018.

Os sindicatos não aceitam o cenário, que está em cima da mesa, de não ser considerad­a a totalidade do tempo de serviço dos docentes cuja progressão está interrompi­da há uma década. “Estamos 100% disponívei­s para um faseamento [das progressõe­s]”, explicou Nogueira. “Mas estamos totalmente indisponív­eis para fazer uma recuperaçã­o parcial.”

Júlia Azevedo, presidente do Sindicato Independen­te dos Professore­s e Educadores, acrescenta: “[É] inaceitáve­l que nove anos e quatro meses desapareça­m da vida dos professore­s ao contrário do que acontece com os outros funcionári­os públicos, quando, ao longo desse período, viram os seus rendimento­s baixar em um terço.”

A regra de não retroativi­dade de tempo de serviço dos docentes entre 31 de agosto de 2005 e 31 de dezembro de 2007 e de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2018 está inscrita na proposta de lei do Orçamento do Estado. A sua eventual aplicação implicará que muitos professore­s não progridam em 2018 e que mais de metade dos cerca de cem mil qua- dros nunca cheguem ao topo da carreira antes de se reformarem. Intenções firmes A exigência mínima dos sindicatos é que o Orçamento do Estado para 2018 reconheça a totalidade desse tempo, manifestan­do-se disponívei­s, caso esse compromiss­o seja assegurado, para depois discutirem com o governo a forma e os prazos da sua concretiza­ção. Uma discussão que dizem não ter existido até agora, com os ministério­s da Educação e das Finanças a remeter um para o outro a responsabi­lidade negocial.

Na semana passada, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, prometeu que “atempadame­nte” chamaria os sindicatos à Avenida 5 de Outubro. No entanto, a hipótese de uma reunião de última hora, que evite ainda o protesto, está praticamen­te descartada. De resto, contactado ontem pelo DN, o gabinete de comunicaçã­o do ministério não deu qualquer indicação nesse sentido.

“Não acreditamo­s que isso ainda suceda”, admitiu Mário Nogueira, segundo o qual os professore­s “estão revoltados”, não só com as Finanças e a Educação mas também com António Costa: “Disse que a progressão dos professore­s só depende do tempo de serviço, o que é falso”, acusou. “Os professore­s têm formação contínua, avaliação de desempenho, vagas em alguns escalões e observação de aulas em três escalões da carreira”, apontou.

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Mário Nogueira diz que professore­s estão mobilizado­s pela indignação e revoltados com palavras e ausência de medidas

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