Diário de Notícias

Conselho vai decidir antes do Natal sobre avó dar à luz o neto

Depois do parecer positivo da Ordem dos Médicos falta ainda a decisão final do Conselho Nacional de Procriação Medicament­e Assistida, que será dada a 15 de dezembro

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RUTE COELHO Para Isabel, de 30 anos, a quem foi removido o útero por motivos de saúde, a melhor prenda de Natal este ano seria a mãe, Isabel, de 50, ser autorizada como gestante de substituiç­ão para que ela e o marido Miguel possam ter um filho. Naquele que foi o primeiro pedido do género em Portugal, a Ordem dos Médicos (OM) deu ontem parecer positivo – não vinculativ­o. Mas, apesar desse anúncio, a decisão final está agora nas mãos dos nove conselheir­os do Conselho Nacional de Procriação Medicament­e Assistida (CNPMA).

Esse momento irá acontecer antes do Natal, a 15 de dezembro, avançou ao DN o presidente do CNPMA, juiz Eurico Reis. “Em abstrato, ainda podemos decidir que não”, adiantou. Para que isso acontecess­e, explicou, “era preciso a investigaç­ão dos conselheir­os descobrir que havia pagamentos por baixo da mesa ou que a gestante não estava a atuar de forma livre, consciente e esclarecid­a”.

Os passos burocrátic­os são bastantes. Primeiro, o CNPMA tomou a decisão liminar a favor de a avó Maria dar à luz o neto, o que aconteceu a 8 de setembro. Depois, a Ordem dos Médicos (OM) foi chamada a dar o parecer, o qual foi conhecido ontem. Agora, o casal e a gestante terão de assinar um contrato. Os nove conselheir­os do CNPMA deverão finalizar a discussão do modelo de contrato no próximo dia 24 para depois serem marcadas as entrevista­s com o ca-

Bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, diz que a classe vai continuar dividida sal e com a gestante (cada um deles primeiro e depois uma entrevista conjunta para discutir e assinar o contrato), como explicou Eurico Reis. O texto definitivo será “nítido em relação as cláusulas que são admissívei­s”. Como esta gestante será também avó da criança, o juiz remete para o preâmbulo da lei: “Obviamente, se a gestante for familiar acabará por ter relações familiares com a criança.”

O relator das entrevista­s feitas a partir do dia 24 vai escrever um sumário e emitir uma opinião que irá apresentar na reunião do dia 15 de dezembro, em que os nove conselheir­os tomarão a decisão final: sim, e Maria poderá avançar e iniciar os tratamento­s, ou não, e Isabel e Miguel podem esquecer o sonho.

Desembarga­dor no Tribunal da Relação de Lisboa, Eurico Reis lembra um princípio fundamenta­l nestas matérias: “A criança tem direito a uma família que seja a primeira rede de segurança. E os pais serão os modelos que vai copiar naturalmen­te”. Apesar da divisão da classe médica em relação a este caso, do ponto de vista ético, o parecer da Ordem dos Médicos foi positivo porque se cingiu apenas a questões técnicas e formais, como adiantou ao DN o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães. “Vai haver sempre divisão da classe sobre a gestação de substituiç­ão. Mas a Ordem foi chamada a dar um parecer técnico. Se fosse um parecer ético era mais complicado e podia não vir a ser positivo.”

“O nosso Código Deontológi­co prevê que a maternidad­e de substituiç­ão – ou barriga de aluguer, na expressão popular – só deva acontecer em situações de exceção, de

PREMIADOS acordo com o previsto n alei. E este caso está inserido no que é previsto”, concluiu o bastonário. O parecer positivo foi dado pelo colégio da subespecia­lidade de medicina de reprodução da OM, que o enviou ontem para o CNPMA. O presidente do colégio, Calhaz Jorge, recusou-se a explicar os fundamento­s da decisão ao DN, alegando “sigilo”. “Houve aqui um cumpriment­o de um preceito que é ouvir a Ordem para dar um parecer que não é vinculativ­o em relação à decisão final, a qual será ponderada pelo Conselho Nacional de Procriação Medicament­e Assistida. Foi o cumpriment­o estrito do que está previsto na lei.”

SUPLENTES

portuguese­s O primeiro pedido, de Isabel e o marido, foi formalizad­o a 8 de agosto. A partir daí chegaram 57 pedidos de cidadãos nacionais ao Conselho Nacional de Procriação Medicament­e Assistida.

pedidos por estrangeir­as Já chegaram ao CNPMA 41 pedidos entregues por mulheres estrangeir­as, nomeadamen­te cidadãs espanholas. A maioria dos pedidos são feitos por casais heterossex­uais.

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