Diário de Notícias

Portugal interrompe convergênc­ia com a Europa outra vez

Último ciclo de divergênci­a durou seis anos, de 2010 a meados de 2016. Situação estava a melhorar, mas agora parou. PIB cresce 2,5%

- LUÍS REIS RIBEIRO

A convergênc­ia real da economia portuguesa com a Europa foi interrompi­da no terceiro trimestre deste ano. Os 28 países da União Europeia (UE) e a zona euro cresceram, em termos reais homólogos, 2,5% no período de julho a setembro; Portugal, penalizado pela desacelera­ção das exportaçõe­s, também cresceu a esse ritmo, pondo fim a quatro trimestres consecutiv­os (desde o terceiro trimestre de 2016) de expansão acima da média europeia, de acordo com a estimativa rápida do INE. E o pior é que em 2018, a confirmare­m-se as previsões de Bruxelas, vai ficar atrás.

A última vez que Portugal convergiu durante tanto tempo foi em 2008 e 2009. Depois disso, em meados de 2010, iniciou-se um longo ciclo de divergênci­a na sequência da crise da dívida e da austeridad­e aplicada pelo governo PSD-CDS e a troika. Duraria seis anos.

Esta dinâmica face à Europa é muito importante para Mário Centeno, ministro das Finanças, e para a política económica e orçamental (da forma que é concebida), uma vez que convergir é fundamenta­l para se aliviar o peso do défice e da dívida pública. Quanto mais o país crescer, mais fácil é “consolidar as contas públicas” no espírito do atual Pacto de Estabilida­de; e menor será a pressão para cortar despesa ou subir impostos. Na apresentaç­ão do Orçamento do Estado de 2018, Mário Centeno sublinhou que “Portugal tem tido um cresciment­o económico e um aumento do emprego que o coloca em rota de convergênc­ia com a UE, este cresciment­o económico conjugado com a redução do défice permitirá a redução da dívida pública”.

Agora, perante os números, desvaloriz­a. “Este cresciment­o correspond­e às expectativ­as traçadas pelo governo no Orçamento para 2018”, garantiu o ministro. Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, mostrou-se menos otimista. “Eu diria que é uma trajetória positiva, mas que ainda não é suficiente para o grande objetivo de que falava ontem [segunda-feira] o ministro das Finanças, que é conseguirm­os ir reduzindo claramente a nossa dívida pública. Temos de crescer um bocadinho mais”, declarou.

Mas a realidade é que essa rota de convergênc­ia foi agora interrompi­da. Pior. As previsões mais recentes da Comissão Europeia dizem que, neste ano (em média), o país ainda pode convergir (cresce 2,6%, a zona euro apenas 2,2%). Mas, no próximo ano, o ciclo acaba mesmo: Portugal avança apenas 2,1%, igual ao ritmo da zona euro. Em 2019, volta a divergir: a economia nacional avança apenas 1,8%, menos do que média europeia (1,9%).

Os números ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatístic­a deixam perceber que se o produto interno bruto (PIB) aumentar 2,2% no quarto trimestre deste ano (ou seja, se houver novo abrandamen­to), a projeção anual do governo (2,6%) é alcançada na mesma. Se a expansão real for superior a esses 2,2%, a meta do governo é superada. Exportaçõe­s fraquejam A procura interna foi, de novo, o motor do cresciment­o; pelo contrário, o comércio internacio­nal voltou a penalizar a dinâmica do PIB – as importaçõe­s estão, outra vez, a crescer mais do que as exportaçõe­s. “O contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou, verificand­o-se uma aceleração do consumo privado e um abrandamen­to do investimen­to”, refere o INE. “O contributo da procura externa líquida foi negativo, contrariam­ente ao registado no trimestre anterior, refletindo a desacelera­ção em volume das exportaçõe­s de bens e serviços e a aceleração das importaçõe­s.”

A nível europeu, o Eurostat indicou que o país da zona euro que mais cresceu no terceiro trimestre foi a Letónia (6,2%), o mais fraco foi a Bélgica (1,7%), seguido de perto por Itália (1,8%). A maior economia, a Alemanha, avançou 3%. O principal parceiro económico de Portugal, a Espanha, manteve um cresciment­o de 3,1%. Fora da zona euro, o Reino Unido aumentou apenas 1,5%. O país menos dinâmico da Europa é a Dinamarca (1,1% de expansão no terceiro trimestre); o cresciment­o mais forte acontece na Roménia, com uns impression­antes 8,6%.

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Centeno acredita que o país está “em rota de convergênc­ia com a UE”. Os números mostram o contrário
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