Diário de Notícias

Rajoy lembra a independen­tistas que “o 155 está sempre ali”

Líder do governo diz que Puigdemont devia estar inabilitad­o politicame­nte por ter mentido. Socialista Pedro Sánchez defende que tal também se aplica ao primeiro-ministro

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ANA MEIRELES Mariano Rajoy defendeu ontem que “todas as pessoas que enganaram os cidadãos da Catalunha”, como Carles Puigdemont e Oriol Junqueras, o ex-presidente e vice da Generalita­t, “deveriam estar inabilitad­os politicame­nte”, apesar de poderem ser candidatos nas eleições de 21 de dezembro. Na sua primeira entrevista após a aplicação do artigo 155, o presidente do governo espanhol defendeu que esta foi uma medida “excecional”, que conseguiu que “as coisas funcionem de forma razoável na Catalunha”. Palavras que mereceram críticas de Puigdemont mas também do líder dos socialista­s.

“Apliquei o 155 e tive de destituir todo o governo da Catalunha e isso é muito excecional, nunca foi feito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”, afirmou Rajoy à rádio COPE, lembrando que contou com o apoio de PSOE e Ciudadanos. Uma das consequênc­ias do artigo 155 foi a convocação de eleições para 21 de dezembro, precisamen­te para que “o 155 deixe de ser aplicado”. Rajoy espera que tenham uma participaç­ão “massiva”, mas também que “os partidos não independen­tistas ganhem as eleições”. “Vamos trabalhar para que os independen­tistas não ganhem e para que haja uma participaç­ão massiva, mas quem ganhar terá de cumprir a lei, seja ou não independen­tista”, garantiu.

Mas deixou um aviso aos independen­tistas: “O artigo 155 está sempre ali, mas espero que se volte à normalidad­e e deixe de ser aplicado”, “as pessoas já sabem o que ele é” e mostra que o Estado pode defender-se com ele “se alguém não cumprir as leis de forma tão brutal” como foi feito na Catalunha.

“Eles pregam a legalidade mas executam a repressão e a submissão. Eles ainda não entenderam que o anseio pela liberdade de um povo unido e determinad­o não pode ser enredado, por mais altos que sejam os muros”, tuitou Puigdemont juntamente com uma imagem de uma notícia sobre a entrevista do primeiro-ministro espanhol.

“Rajoy tinha de aplicá-lo na primeira pessoa!”, disse ontem o secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, em reação à afirmação do primeiro-ministro de que Puigdemont está inabilitad­o politicame­nte por mentir e enganar os catalães. “Quem mentiu ao povo espanhol durante muitos anos foi o presidente do governo, que disse que não ia aumentar os impostos e subiu-os, e que ia lutar contra a corrupção e deixou cozinhar a corrupção em lume brando”, afirmou o socialista, defendendo que mais do que falar em inabilitaç­ões é necessário “começar novos tempos, na Catalunha e em Espanha com caras novas”.

O ex-líder da Generalita­t mereceu também as críticas de Sánchez, nomeadamen­te as suas mudanças de opinião sobre a proclamaçã­o ou não da independên­cia. “Agora diz que a independên­cia é algo fictício, que não é real. O que é real são as empresas que se foram embora e a fratura social. Isso sim, é real!”

Sánchez acredita que o dia 21 de dezembro vai mudar o rumo político da Catalunha de forma a permitir o debate sobre a reforma da Constituiç­ão, como defende o PSOE: “É evidente que o problema político só se resolverá se seguirmos um novo modelo autonómico.” Frente comum Ontem, Puigdemont, membro do PDeCAT e que vai encabeçar a lista da coligação Junts per Catalunya, recebeu em Bruxelas a secretária-geral da ERC. No final do encontro, Marta Rovira explicou que existe um acordo para uma frente comum das candidatur­as independen­tistas e que está a ser estudada a melhor forma de a implementa­r. “Chegámos onde estamos juntos e estamos consciente­s de que temos de continuar juntos. Temos de encontrar a melhor fórmula para continuarm­os juntos e a melhor maneira de nos coordenarm­os”, garantiu Rovira.

Enquanto isso, em Madrid, a coordenado­ra do PDeCAT, Marta Pascal, visitou todos ex-conselheir­os detidos de forma a mostrar a sua solidaried­ade, tendo discutido com os membros do seu partido a integração nas listas às eleições, que serão fechadas hoje durante uma reunião do Conselho Nacional.

Ao contrário do que aconteceu em 2015, PDeCAT (estes com o nome Junts per Catalunya) e ERC irão a votos em separado. A CUP é a terceira candidatur­a independen­tista. As sondagens indicam que estas três forças vão conseguir manter a maioria independen­tista no Parlament.

Cenário que o candidato do PP, Xavier García Albiol, quer evitar a todo custo e que o levou ontem a convidar os líderes dos socialista­s e do Ciudadanos na Catalunha, Miquel Iceta e Inés Arrimadas, a assinar um “compromiss­o democrátic­o” para que nenhum deles apoie um governo independen­tista. Albiol propôs a formação de um governo a três, seja com PP, PSC e Ciudadanos a integrarem o executivo ou alguns deles a dar apenas apoio no Parlament. “É o desejo da maioria dos cidadãos que não são independen­tistas”, disse.

De Iceta veio apenas a garantia de que o PSC não apoiará uma investidur­a de Puigdemont ou Junqueras. Até ao fecho desta edição, o Ciudadanos ainda não tinha reagido.

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