Diário de Notícias

O berbicacho da geringonça

- PAULO BALDAIA

As carreiras dos professore­s valem tanto como as carreiras de todos os outros funcionári­os públicos. É uma dupla verdade. Se são todos funcionári­os públicos não faz sentido que exista um tratamento diferencia­do. O problema é que também é verdade que descongela­r a carreira dos professore­s custa tanto (600 milhões de euros) como descongela­r todas as outras carreiras.

A geringonça meteu-se definitiva­mente num grande berbicacho. Os argumentos para o governo seguir por este caminho podem ser jurídicos, mas é evidente que o orçamento não comporta a reivindica­ção dos professore­s. A vida vai ficar muito difícil para o governo socialista, já que o cidadão comum terá dificuldad­e em perceber esta discrimina­ção, por mais ou menos empatia que tenha com esta luta dos professore­s, e quem de todo não a vai aceitar são os professore­s. Adivinha-se luta dura e prolongada na rua. Acresce que esta é uma luta que já conseguiu unir UGT e CGTP e que vai deixar os socialista­s sozinhos no Parlamento.

Na verdade, já há uma discrimina­ção que favorece os professore­s. Em regra, eles progridem de quatro em quatro anos, enquanto a progressão na maioria das carreiras se faz de dez em dez. Justo poderá ter de ser os professore­s cederem nalguma coisa, injusto é diferenciá-los negativame­nte com o argumento de que eles têm uma carreira mais favorável. Impossível é pensar que o governo pode ganhar este braço-de-ferro.

Depois da reposição de rendimento­s, a geringonça julgou possível fazer um caminho tranquilo em direção aos aumentos reais na função pública, que se sentiriam em força em ano de eleições. Pois que não é possível agradar a gregos e a troianos, ou bem que se manifestam orgulhosos por cumprir as regras orçamentai­s de Bruxelas ou bem que cedem a todas as reivindica­ções. Para Mário Centeno, que zela pelas boas contas do país, não pode haver aqui nenhuma surpresa, mas pode contar que a vida lhe vai ficar mais difícil na relação com o PS. Os militantes não gostam nada de ser o bombo da festa e é a ele que vão apontar as baterias.

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