País de extremos
Portugal é um país de emoções extremas. Tão depressa ama como odeia a Web Summit. Ama a inovação, as cabeças arejadas que a Web Summit consegue trazer a Portugal, o ambiente que contagia positivamente os nossos jovens fazedores. Odeia quando esse arejamento mexe com os rituais, os velhos hábitos, a tradição. É o que está a acontecer com a Web Summit, por causa do jantar do Founders, que se realizou no Panteão Nacional e que ganhou um protagonismo exacerbado face ao que ele significa verdadeiramente.
A reação política foi também ela exacerbada, de forma incompreensível. Afinal no Panteão Nacional já foram realizados muitos outros eventos, como veio a confirmar-se.
Celebrar os mortos ou celebrar junto dos mortos não me parece justificação para tanta indignação. Mal comparando, por esse princípio todos os que ficaram tão indignados também assim ficariam com os milhares de turistas, nem todos crentes, que entram todos os dias nas igrejas portuguesas para simplesmente fotografar, falar, bater palmas, celebrar as férias e caminhar em cima dos túmulos onde estão sepultados muitos dos nossos nobres, no chão das igrejas.
Daí não vem mal ao mundo nem se abre uma crise mediática ou política por esse motivo. Haverá um aproveitamento político do tal jantar do Founders, com outro objetivo? Por detrás estará alguma uma intenção de reduzir a cinzas uma conferência que é muito mais do que isso e que muito pode trazer ainda ao ecossistema das startups e à economia do país?
O jantar do Founders no Panteão Nacional é discutível e, para muitos, não deveria sequer ter acontecido, assim como os outros eventos que ali se realizaram. Mas deixar este tema ganhar escala política é ainda mais discutível. Vale a pena perguntar aos políticos, e já agora também aos iluminados que investiram tanto tempo a escrever posts nas redes sociais a chamar “parolice” à Web Summit, o que já fizeram pelo país, o que já fizeram para contribuir para o desenvolvimento da inovação em Portugal.