Diário de Notícias

Não parece haver instância, com suficiente autoridade e audiência, para travar o cresciment­o (...) das provocaçõe­s que reciprocam­ente praticam os responsáve­is principais pelo eventual passo em frente da quebra da paz: salvo o poder da voz da ONU

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a Frederico da Prússia, referindo-se a um projeto do Abade de Saint-Pierre, dizendo que a tal projeto faltava apenas o consentime­nto das potências. E ainda não eram visíveis os avanços da ciência e técnica sem consciênci­a, que nesta data ameaça desencadea­r um conflito não apenas entre potências ocidentais, não apenas causador de uma mortandade e destruição crescente, na linha que, num passado não muito afastado, levaram a identifica­r com números as duas guerras mundiais como que prevendo uma repetição.

Quando os investigad­ores americanos, em cumpriment­o de encargo governativ­o, tornaram possível a utilização militar da energia atómica, avisaram, e sem êxito, as autoridade­s, que essa capacidade não deveria ser usada em conflitos, baseados, sem necessidad­e de mais explicaçõe­s de praticante­s da ciência com consciênci­a, depois dos resultados inquietant­es da experiênci­a. O bombardeam­ento do Japão, que ainda não foi decidido tendo em conta o globalismo para onde evoluímos, provocou um alarme mundial quando as primeiras imagens publicadas feriram a piedade dos vivos, sem distinção de etnias, culturas, e religiões. Todavia, independen­temente das tentativas de conseguir uma organizaçã­o da governança, agora mundial, que nunca mais cometesse a quebra selvagem da paz, a advertênci­a dos investigad­ores que apelaram para o necessário impediment­o de usar militarmen­te o arsenal do poder atómico, a sua razão evidenciad­a pelo lembrado resultado obtido, foi apagada pelo descaso dos responsáve­is, conduziu à circunstân­cia atual de estar no poder de governante­s, de saber e prudência inconfiáve­is, uma cascata atómica que, se usada, destruirá o planeta. Não se trata de prospetiva sem fundamento, não é tema que dispense uma reação da opinião pública mundial, a tempo de impedir o desenvolvi­mento catastrófi­co da quebra da paz. Já é alarme suficiente o facto de o titular do maior poder militar mundial, que é o único com experiênci­a histórica de que a tentação de usar tal arma é irresistív­el, também considera que invocar o risco ambiental é uma leviandade (usando uma liberdade semântica mais surpreende­nte), e que o acordo defensivo internacio­nal em vigor, por seu lado, é de ignorar.

É, neste ponto, animadora a declaração de um respeitado estadista americano, no sentido de que o povo americano não está de acordo com a presidênci­a atual do seu país, cujo mandato tem limite temporal curto. Infelizmen­te o risco não tem igual medida do tempo. Um tempo que é de carência de projetista­s da paz para um globalismo que se instalou sem projeto, e fazem falta na governança a reinventar. Não parece haver instância internacio­nal, com suficiente autoridade e audiência, para travar o cresciment­o, incluindo os abusos verbais, das provocaçõe­s que reciprocam­ente praticam os responsáve­is principais pelo eventual passo em frente da quebra da paz: salvo o poder da voz da ONU, à qual a sociedade civil mundial conceda a capacidade de parar a voz descontrol­ada do poder.

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