Diário de Notícias

Quase mil médicos sem vaga de acesso à especialid­ade

Há 2633 inscritos para a Prova Nacional de Seriação de hoje, mas apenas 1700 vagas para especialid­ades. O temido exame Harrison vai ser substituíd­o, com teste-piloto já em 2018

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CYNTHIA VALENTE Os jovens médicos chamam-lhe “o bicho papão”, “a prova do tudo ou nada”. A Prova Nacional de Seriação – o famoso exame Harrison – realiza-se hoje já com os dias contados. No próximo ano vai ser testado um novo modelo de prova, que entrará oficialmen­te em vigor em 2019. Há 2633 inscritos para o exame de hoje, que dá acesso à especialid­ade médica, mas apenas 1700 vagas. Serão, assim, quase mil os profission­ais que não poderão ingressar na carreira escolhida.

Para conseguire­m um lugar na carreira escolhida, os estudantes de Medicina terão de conseguir uma avaliação elevada, numa prova de cruzes em que a avaliação vai de 0 a 100%. Em anos anteriores, em algumas especialid­ades como a dermatolog­ia, só os candidatos com quase 100% de respostas corretas conseguira­m vaga.

Em vigor há 40 anos, o exame Harrison, que tem sido duramente criticado ao longo das décadas, vai ser substituíd­o, mas só no próximo ano se sentirão as alterações. Em 2018, haverá um “grupo-piloto” a realizar a prova com um novo modelo que “passará de 100 para 150 perguntas, mas tendo por base histórias clínicas que porão à prova o raciocínio dos candidatos”. “Vai deixar de ser uma prova de cruzes apenas para a memorizaçã­o, mas vai ter de incluir uma área de raciocínio em todas as áreas”, já tinha explicado o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Contudo, hoje, às 15.00, os candidatos a especialis­tas ainda vão submeter-se a uma prova cuja classifica­ção depende da capacidade de memorizaçã­o do manual de referência Harrison’s Principles of Internal Medicine, um livro em dois volumes e cerca de 3000 páginas.

Joana Justo Gonçalves, médica de medicina interna, fez a prova em 2006 e conseguiu a nota desejada, mas “com muito esforço e dedicação”. “Estudei um ano para o exame. Desse período, seis meses foram em dedicação total, com 8 a 10 horas de estudo diário. Era um bicho-de-sete-cabeças e, nessa altura, no final do curso de Medicina e ainda sem experiênci­a, faltava-me maturidade. É um exame que define o nosso futuro e resume-se à capacidade de memorizaçã­o, deixando de fora a análise de casos clínicos

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