Diário de Notícias

“Quem se prejudica mais com a greve são os alunos”

Levar as crianças para o trabalho, deixá-las no ATL ou ao cuidado dos avós foram algumas das soluções encontrada­s pelos pais

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Passavam poucos minutos das 09.00 quando Rui Leal confirmou que a professora do filho, aluno do 2.º ano da Escola Básica da Glória, em Aveiro, tinha feito greve. “Acho muito bem que os professore­s lutem pelos seus direitos, mas é sempre um incómodo para os pais”, disse ao DN, à saída do estabeleci­mento de ensino, lamentando que esta greve tenha sido “tão próxima da anterior”. Como o ATL já estava de sobreaviso, foi lá que Diogo passou o dia. “É um custo extra que vamos ter. Temos de pagar mais dez euros”, adiantou.

Ontem, o cenário traçado por diretores e sindicatos era de escolas fechadas em todo o país, alunos a deambular pelos recreios e professore­s na rua. Mais sorte teve Nuno Lopes, militar da GNR, que ontem estava de folga e pôde passar o dia com a filha. “A professora avisou que não vinha, mas a Jéssica dizia que podia haver uma substituta. Não me vai causar transtorno nenhum. Se estivesse a trabalhar, tinha de pedir assistênci­a à família. Mas acho bem que os professore­s reivindiqu­em os seus direitos. Se não são eles a zelar pelos seus interesses, ninguém o vai fazer.”

Opinião diferente tem um outro pai, professor universitá­rio, que pediu anonimato. “A professora de um dos nossos filhos aderiu à paralisaçã­o, pelo que ele vai ter de ir comigo para o trabalho. Quem se prejudica mais com a greve são os alunos. As motivações são muito boas, mas tem de haver bom senso na convocação das greves”, criticou. Ao descontent­amento dos pais junta-se o dos mais pequenos, que, ouvidos pelo DN, disseram que “preferiam ter aulas”.

Em oito docentes, apenas um fez greve na Escola da Glória, mas a adesão no resto do Agrupament­o de Escolas de Aveiro foi bastante superior. Segundo o diretor, Carlos Magalhães, foi, inclusive, “maior do que o normal” nos outros estabeleci­mentos. Na Escola Básica das Barrocas não houve aulas, por exemplo, e na EB 2/3 João Afonso apenas quatro professore­s estavam presentes, num total de 42, às 08.30.

Na região do Porto, onde várias escolas fecharam, o Sindicato dos Professore­s do Norte disse que esta foi “uma das maiores [greves] de sempre”, com “uma adesão esmagadora”. Já em Lisboa registava-se uma adesão bastante elevada ao início da manhã. Tal como em Évora, onde a paralisaçã­o fechou alguns estabeleci­mentos do 1.º ciclo.

Teresa Marques, docente do 3.º ciclo e do secundário, aderiu à greve, mas não foi à manifestaç­ão em Lisboa “com medo” de que o filho, aluno da Escola da Glória, não tivesse aulas. “Esperava que esta escola fechasse, mas não aconteceu. Como a professora do meu filho veio, vou aproveitar o dia para corrigir testes”, revelou. Teresa é professora em Coimbra, onde, tal como em Aveiro, houve estabeleci­mentos de ensino com uma adesão superior a 70% e, em alguns casos, mesmo de 100%. J.C.

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Como estava de folga, Nuno Lopes passou o dia com a filha

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