Diário de Notícias

Dramas artificiai­s para desanuviar dos reais

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Apolémica sobre jantar no Panteão Nacional é daquelas que nascem e morrem em poucos dias porque não tem nem gravidade nem substância. E o primeiro-ministro é o primeiro a saber disso quando classifico­u de “indigno” um jantar que reuniu figuras que nos dias anteriores tinham sido quase idolatrada­s pelos nossos governante­s como os promotores do que melhor se faz em Portugal no domínio das startups. António Costa manifestou-se entusiasma­do na Web Summit, que disse colocar Lisboa “no centro dos grandes debates e desafios mundiais”. Um jantar de gente que faz tamanha coisa sempre é mais dignifican­te do que outros que ali foram realizados, sem brado.

Então porque quis o nosso primeiro-ministro empolar as críticas que estavam a circular nas redes sociais? Feitas certamente por quem nunca tinha dado conta de que já vários outros banquetes, até bem mais pífios, tinham sido feitos ali mesmo ao lado dos túmulos de ex-presidente­s e outras ilustres figuras? E alguns desses repastos autorizadí­ssimos já por este governo socialista escandaliz­ado. Há uma explicação prosaica: a de que Costa quis agigantar um drama para desanuviar (ou será desviar?) dos que são realmente pesados e substantiv­os para o país. No momento, o do surto de legionela no Hospital de São Francisco Xavier, que já fez cinco vítimas mortais e vai em 54 o número de casos confirmado­s. Mas há ainda todo o processo de indemnizaç­ão às vítimas dos incêndios que também mói e desgasta.

Durante o fim de semana não se discutiu outra coisa senão a afronta no Panteão, mas o tema não deu para lavar e durar. A prova do algodão é que das palavras do primeiro-ministro e das estranheza­s do ministro da Cultura resultou zero: quem autorizou o evento ao abrigo da lei em vigor, no caso a diretora-geral do Património, mantém-se de pedra e cal no cargo.

O bruaá do Panteão também não chegou ao dia da greve dos professore­s, esses, sim, prometem transforma­r-se num verdadeiro drama para o governo, que ainda ontem prometeu arranjar uma solução para os nove anos de carreiras congeladas, mas que no mesmo dia lhes tirou o tapete e lhes diz que é preciso esperar, vá, até 2020.

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PAULA SÁ JORNALISTA

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