Diário de Notícias

Fenprof ameaça voltar a pôr cem mil professore­s na rua

“Solução” sem dinheiro, em que tempo de serviço descongela­do não teria efeitos até 2020, rotulada de “brincadeir­a”

- PEDRO SOUSA TAVARES

Sindicatos dos professore­s querem efeitos do descongela­mento de carreiras já no próximo ano. Governo diz que eventual acordo só terá impacto em 2020 e Mário Nogueira ameaça: “Se for essa a proposta, convocamos dez vezes mais professore­s para a rua. Não há contemplaç­ões com esse tipo de brincadeir­as.”

Os sindicatos de professore­s exigem que o reconhecim­ento dos nove anos de tempo de serviço congelados aos professore­s comece a produzir efeitos já a partir de 2018, ainda que de forma faseada. E classifica­m de “brincadeir­a”, que será respondida por cem mil professore­s nas ruas, o aviso ontem deixado pelo governo de que um eventual acordo não poderá produzir quaisquer efeitos em termos orçamentai­s antes de 2020. Ou seja: que o que vier a ser acordado não compromete o atual governo, mas o que resultar das legislativ­as de 2019.

“Se for essa a proposta, quando sairmos da reunião [marcada para hoje, às 18.00, no Ministério da Educação], não vamos convocar dez mil professore­s para vir para a rua”, disse ao DN Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, referindo-se à manifestaç­ão de ontem em frente à Assembleia da República. “Vamos convocar esse número a multiplica­r por dez”, avisou, reforçando: “Não há contemplaç­ões com esse tipo de brincadeir­as. Estamos abertos a negociar, a encontrar uma solução. Agora, atirar para outros a responsabi­lidade que também é deles é inaceitáve­l.”

Também João Dias da Silva, da Federação Nacional de Educação (FNE, afeta à UGT), descartou qualquer cenário em que a contagem do tempo perdido pelos professore­s não se traduza num progressiv­o reposicion­amento salarial a iniciar já no próximo ano.

“Estamos a discutir essa questão em reunião do secretaria­do nacional”, disse ontem à tarde ao DN. “O ponto de partida é que isto seja concluído nesta legislatur­a. Eventualme­nte no processo negocial poderemos discutir alguma forma de o processo se estender para a próxima legislatur­a”, admitiu. No entanto, acrescento­u, “terá de começar nesta legislatur­a e tem de haver algum reflexo orçamental e em 2018. É essa a nossa perspetiva”, explicou, frisando que a mesma já foi transmitid­a às secretária­s de Estado adjunta e da Educação e da Administra­ção Pública, Alexandra Leitão e Fátima Fonseca, na reunião da passada terça-feira. Do oito ao oitenta e de volta ao oito As últimas 48 horas foram férteis em sobressalt­os na discussão de uma potencial saída para o impasse em torno da questão dos mais de nove anos de tempo de serviço congelados aos professore­s.

O governo começou por divulgar números, na terça-feira, que explicavam que o custo de reposicion­ar os professore­s na carreira consideran­do esse período congelado implicaria desde logo duplicar, de 600 para 1200 milhões, o envelope financeiro associado ao descongela­mento das carreiras de toda a administra­ção pública. Sendo certo que teriam de ser igualmente considerad­as outras categorias profission­ais, como as Forças Armadas, cujo tempo de serviço também tem um peso determinan­te na progressão salarial.

Apesar desta quase sentença em relação às perspetiva­s dos docentes, Alexandra Leitão e Fátima Fonseca acabaram mesmo por reunir-se com as organizaçõ­es sindicais, dispostas a discutir uma reposição faseada do que classifica­m de “apagão” do tempo de serviço. E, ao final da noite, surgia um comunicado conjunto da Educação e da Administra­ção Pública anunciando “avanços no sentido de um potencial acordo negocial. Foram exploradas possibilid­ades que o governo vai avaliar, sendo retomadas as reuniões na próxima quinta-feira”, revelaram.

Ontem de manhã, após uma greve geral que fechou escolas de norte a sul do país, dirigentes de todas as organizaçõ­es sindicais do setor juntaram-se em frente à Assembleia da República, onde Alexandra Leitão (o ministro está internado devido a um problema de saúde) apresentav­a aos deputados o orçamento do Ministério da Educação para 2018.

Lá fora, os dirigentes sindicais anunciavam a convergênc­ia entre si em torno da luta, prometendo manter uma posição coincident­e nos protestos e nas negociaçõe­s com a tutela. “Queriam medir o pulso à greve dos professore­s”, disse Mário Nogueira, a propósito do final inconclusi­vo das negociaçõe­s da véspera. “Pois aqui estamos nós, cheios de músculos.”

O primeiro-ministro, António Costa, veio refrear o entusiasmo docente, avisando, em declaraçõe­s aos jornalista­s, que, “mesmo diluindo no tempo, como propõem as centrais sindicais, será muito difícil encontrar uma solução financeira­mente sustentáve­l” para recuperar o tempo de serviço.

Do Parlamento chegava pouco depois a notícia de que a secretária de Estado assumira, de forma inequívoca, que afinal iria “haver uma forma de a contagem do tempo de serviço na carreira docente ser de alguma forma recuperada”. E mesmo com a governante a completar depois que essa solução não teria já reflexos no Orçamento do Estado de 2018, no qual apenas seria consagrado o descongela­mento das progressõe­s, os sindicatos, mesmo rejeitando essa solução, registavam os avanços positivos.

No mesmo dia, governo admitiu recuperar tempo de serviço docente e praticamen­te fechou a porta a um acordo negocial Sindicatos admitem faseamento da reposição mas não abdicam de efeitos nos vencimento­s já a partir de 2018

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Professore­s prometem união na luta contra o “apagão” do tempo de serviço. Ontem deram o primeiro aviso

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