Tancos leva chefe do Exército ao Parlamento
Nova audição do general Rovisco Duarte sobre furto justificada com declarações sobre descoberta do material
MANUEL CARLOS FREIRE A recuperação do material de guerra furtado dos paióis de Tancos, mas que se desconhecia lá estar, leva o comandante do Exército mais uma vez ao Parlamento na próxima terça-feira.
Na base do requerimento do CDS está a revelação feita pelo general Rovisco Duarte de que tinha sido recuperada uma caixa de petardos que o Exército aparentemente desconhecia ter sido furtada com o restante material (nomeadamente explosivos, granadas ofensivas e de gás lacrimogéneo, munições e lança-granadas foguete anticarro).
Por agendar, mas também já aprovada a pedido do PS, está uma segunda audição do ministro da Defesa sobre o mesmo assunto.
Com o Presidente da República a insistir para que sejam apuradas responsabilidades, sem que o Exército revele os resultados dos seus inquéritos internos sobre as falhas de segurança que permitiram a ocorrência do furto detetado no final de junho passado, sabe-se apenas que o ramo abriu vários processos disciplinares há mais de dois meses.
Note-se que nenhum dos militares visados foi ainda constituído arguido – permitindo o acesso dos advogados aos autos – no âmbito do processo criminal a cargo do Ministério Público (MP), com o apoio da PJ e da PJ Militar, soube o DN.
O que é dado como certo a nível militar são as responsabilidades de oficiais, sargentos e praças a nível da segurança e da vigilância dos paióis – falhas (como ausência de rondas noturnas) que constariam dos relatórios de atividade diária, mas a que a cadeia hierárquica do Exército não deu a devida atenção durante anos, admitiram as fontes do DN, sob anonimato por não estarem autorizadas a falar do caso.
Além da referida caixa de petardos que não constava da lista de material furtado, o DN sabe que também existem “discrepâncias de valores” – mínimas mas reveladoras de facilitismo, segundo uma das fontes – entre os números dessa lista e as quantidades recuperadas durante uma madrugada e manhã de fortes chuvadas na zona da Chamusca. Uma explicação para esse facto decorre da natureza do material furtado, que por se destinar à instrução e treino não seria alvo de registos sistemáticos e diários de saída e entrada.
Certo é que este caso continua envolto em mistério, tanto pelas várias situações por explicar como pelo envolvimento e responsabilidades das várias estruturas do Estado envolvidas, com destaque para o MP, a PJ e a PJ Militar – a ponto de agora pouco ou nada comunicarem entre si.
A história, segundo a revista Sábado, envolve um alegado informador da PJ que estaria na origem da informação sobre ir realizar-se um furto de material de guerra na zona de Leiria. Por explicar está o facto de essa informação não ter sido comunicada aos militares – que poderiam assim reforçar (ou iniciar a vigilância) as instalações existentes na região centro – ou o caso ser qualificado como potencial ato de terrorismo pelo MP e PJ, enquanto a investigação ao furto de meia centena de pistolas Glock da PSP (que usam precisamente munições de calibre 9mm, como as desaparecidas em Tancos e que foram o único material de guerra não devolvido) continua a cargo da própria PSP.