Diário de Notícias

Empresas de segurança podem ser suspensas em casos graves

MAI está a definir conjunto de requisitos que podem levar ao encerramen­to provisório de empresas sem esperar por processos. Providênci­a cautelar indeferida, discoteca fica fechada

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RUTE COELHO Depois do caso Urban Beach, nada vai ficar na mesma na área da segurança privada a espaços noturnos. O ministro da Administra­ção Interna quer levar alterações à Lei da Segurança Privada à Assembleia da República já no início do próximo ano, com propostas tendentes a uma fiscalizaç­ão mais apertada do setor e a menos contemplaç­ões para com as empresas e seguranças envolvidos em atos graves, nomeadamen­te situações violentas.

“Será definido um conjunto de requisitos que poderão, verificada­s circunstân­cias graves, determinar provisoria­mente quer a suspensão da atividade de empresas quer a suspensão da atividade por parte de profission­ais”, defendeu Eduardo Cabrita ontem, à saída da reunião com o Conselho de Segurança Privada (CSP), órgão de consulta do ministro, que junta todas as autoridade­s, desde PSP, GNR, SEF, PJ, associaçõe­s e sindicatos do setor da segurança privada. Esta pretensão de Eduardo Cabrita é manifestad­a no mesmo dia em que em que o Tribunal Administra­tivo indeferiu a providênci­a cautelar pedida pelos donos da discoteca lisboeta para anular o encerramen­to provisório do espaço decretado pelo Ministério da Administra­ção Interna após a divulgação das imagens que mostram as agressões de três seguranças a dois indivíduos à porta do Urban na madrugada de Halloween, dia 1 deste mês.

A revisão da lei deve apostar ainda numa “clara distinção do que é a intervençã­o da segurança pública e as competênci­as da segurança privada”. Os seguranças daquela discoteca foram constituíd­os arguidos na sequência das agressões, que os próprios justificar­am alegando que os dois jovens, um deles com ficha policial, estariam ali “para roubar”. Ou seja, substituír­am-se à ação da polícia.

Eduardo Cabrita também defendeu que é necessário “intensific­ar a responsabi­lização conjugada” das empresas de segurança privada e daquelas que contratam estes serviços. Mais uma vez, no caso Urban, a segurança era garantida pela PSG mas o Grupo K, proprietár­io do espaço, não podia ignorar que havia, só neste ano, 38 queixas contra a discoteca, quase todas por violência exercida pelos vigilantes mas também por atos de natureza discrimina­tória ou racista à porta.

Estas alterações que estão a ser estudadas à Lei de Segurança Privada vão ao encontro das propostas já feitas nesse sentido pela PSP, a entidade competente para atribuição ou cassação de alvarás e licenças, e que esteve ontem representa­da pelo seu diretor nacional na reunião do CSP. Segundo fonte da hierarquia, a PSP reivindica há muito que a lei possa vir a facilitar a retirada de licença a um segurança suspeito de cometer um crime. Com a legislação atual, o vigilante arguido só perde a licença caso venha a ser condenado em tribunal e depois de a sentença transitar em julgado, o que pode demorar muito tempo. Por outro lado, adianta a mesma fonte, as empresas de segurança não têm sido solidariam­ente responsáve­is pelos atos dos funcionári­os – o que pode vir a mudar, atentando ao que disse o ministro.

Outro problema invocado pela polícia é o facto de os tribunais não comunicare­m à PSP quando as sentenças dos seguranças condenados transitam em julgado.

A Associação de Empresas de Segurança também fez propostas ao MAI no sentido de sancionar de forma mais rápida as empresas que não cumprem a lei e dar “mais poder à PSP para suspender alvarás de empresas e de trabalhado­res em caso de infrações graves”, como disse o presidente da AES, Rogério Alves. “O setor está a ser minado por trabalho não declarado e entendemos que quem não cumpre a lei tem de ser sancionado. Temos de ter agentes a inspeciona­r e sermos muito mais lestos e rápidos a detetar as ilegalidad­es. É isso que temos pedido ao governo que faça.”

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As várias entidades do Conselho de Segurança Privada reuniram-se com o ministro da Administra­ção Interna

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