Diário de Notícias

Inquérito ao juiz do acórdão da “mulher adúltera” está concluído. No dia 5 há decisão

Plenário do Conselho Superior da Magistratu­ra, que se reunirá em dezembro, decidirá se vai haver processo disciplina­r ou não

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RUTE COELHO O Conselho Superior de Magistratu­ra (CSM) já concluiu o processo de inquérito ao juiz Neto de Moura –, instaurado após ter sido divulgado o acórdão polémico sobre a mulher adúltera –, anunciou ontem o presidente daquele órgão, no Algarve. “Já está concluído o processo, ainda não há resultado porque este depende de uma apreciação coletiva no órgão coletivo, que é o Conselho Superior de Magistratu­ra, que irá reunir-se numa sessão ordinária, em princípio no dia 5 de dezembro”, data para o qual está marcado o próximo plenário, explicou António Henriques Gaspar. Segundo informaçõe­s avançadas ao DN pelo CSM, “o inquérito foi concluído pelo inspetor nomeado. Os elementos obtidos nesse inquérito serão apreciados pelo Plenário do CSM, órgão com competênci­a exclusiva para decidir se é ou não instaurado procedimen­to disciplina­r”.

Se for aberto processo disciplina­r e Neto de Moura for condenado, o desembarga­dor do Tribunal da Relação do Porto, de 61 anos, arrisca vários tipos de sanções que podem ir das mais leves (advertênci­a, multa ou transferên­cia de tribunal) às mais graves, como suspensão, inatividad­e, aposentaçã­o compulsiva ou demissão (esta raramente é aplicada).

No acórdão que gerou uma onda de indignação e de protesto no país, de 11 de outubro (assinado também pela juíza Maria Luísa Arantes), Neto de Moura desvaloriz­a a gravidade dos atos de um agressor que bateu na mulher de quem estava separado com uma moca de pregos – e com a ajuda do ex-amante desta. Essa violência, justificou o juiz, aconteceu “num contexto de adultério praticado pela assistente”, o que constitui “um gravíssimo atentado à honra

Antero Henriques Gaspar falou à margem do XII Encontro do CSM e dignidade do homem”. Vai até ao ponto de lembrar que na Bíblia a mulher adúltera era punida com a morte. Num outro, de junho de 2016, Neto de Moura anulou uma sentença de primeira instância de pena suspensa de dois anos e quatro meses por violência doméstica a um agressor depois de ter questionad­o a “fiabilidad­e” do testemunho da vítima porque a mulher que comete adultério é “falsa, hipócrita, desonesta, desleal, fútil, imoral”.

Questionad­o pelos jornalista­s à margem do XII Encontro do Conselho Superior de Magistratu­ra, António Henriques Gaspar confessou que a onda de indignação pública gerada pelo acórdão “ultrapasso­u em muito” as suas expectativ­as. “Pode haver um direito à indignação, mas introduziu-se aqui demasiada emoção que ultrapasso­u em muito aquilo que seriam as minhas expectativ­as, mesmo as mais longínquas.”

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