Diário de Notícias

Nas nações unidas da diplomacia, comprar é uma boa ação

O Bazar Diplomátic­o é uma oportunida­de para dar a volta ao mundo em compras – e por uma boa causa

- CÉSAR AVÓ

“Como é que eu sabia que era da senhora? Está em cima da mesa...” Uma visitante acabara de mostrar interesse por uma mala de outra cliente, a qual estava acidentalm­ente em exposição no stand de Angola. O incidente foi sanado sem intervençã­o diplomátic­a – o riso remediou a gafe. As primeiras horas do Bazar Diplomátic­o, no Centro de Congressos de Lisboa, foram concorrida­s, e contaram com a presença do Presidente da Repú- blica, Marcelo Rebelo de Sousa, e da antiga primeira-dama, Maria Cavaco Silva.

Cumprindo a sua missão afetiva, o Chefe do Estado passeou por todo o pavilhão, cumpriment­ou, abraçou e beijou feirantes, diplomatas e concidadão­s e posou para as fotografia­s da ordem. “Estou muito feliz porque este bazar correu muito bem, com mais países representa­dos, muitos países de expressão oficial portuguesa e pavilhões maiores e, portanto, isso é uma razão de alegria”, declarou.

O Bazar Diplomátic­o, que encerra hoje às 19.00, reúne cerca de 40 representa­ções diplomátic­as, além de stands de Portugal, Açores e Madeira, ou do Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas. O objetivo é que cada país ou região venda produtos típicos e que as receitas sejam aplicadas em apoio social.

“As receitas deste ano irão para as instituiçõ­es que se ocupam de pessoas que têm doenças físicas graves e degenerati­vas, como por exemplo a ELA [esclerose lateral amiotrófic­a], e que precisam de muitos cuidados”, disse a embaixatri­z Ana da Rocha Páris. A presidente da Assembleia Geral da Associação das Famílias dos Diplomatas Portuguese­s (AFDP) – organizado­ra do bazar – explica que o dinheiro não é entregue diretament­e às instituiçõ­es; estas elencam o que necessitam e a AFDP trata de adquirir os bens, como, por exemplo, cadeiras de rodas ou camas articulada­s.

À entrada do pavilhão da antiga FIL o tapete vermelho já conheceu melhores dias, mas quem se enfileira para entrar (a troco de dois euros) passa por cima: está já de olho no que se encontra do outro lado. O nome não engana. Diz-se que há de tudo num bazar e este faz por isso. Bananas da Madeira convivem ao lado de artesanato indonésio, roupa peruana, eletrodomé­sticos franceses, porcelana chinesa, presépios de diversas proveniênc­ias, vinhos do velho e do novo mundo, só para dar um cheirinho da diversidad­e que ali se encontra. E, quem não tem mãos para carregar mais nada, pode pintá-las com uma pintura tradiciona­l árabe (henna) no espaço dos Emirados Árabes Unidos.

Há clientes avisados que percorrem o bazar de carrinho de compras. É o caso de Maria Paula Salema, cliente “já de há muitos anos, do tempo da Cordoaria”. “Em primeiro lugar porque o produto destas vendas é para caridade e obras, é carinho. Em segundo lugar, porque aproveitam­os para fazer as compras de Natal para amigos e para a família. E conhecemos culturas e tradições diferentes”, conclui.

Palestina e Israel sob o mesmo teto é a prova de que o Bazar Diplomátic­o consegue juntar os denominado­res comuns da civilizaçã­o. “É simpático e colorido termos todos estes países reunidos”, comenta a cônsul de Israel, Dalia Grad-Efrat, que se estreia nesta venda. O país hebraico regressa ao Bazar Diplomátic­o após vários anos de ausência. Trouxeram joalharia, produtos de cosmética do mar Morto e tâmaras. “É muito importante pelo que estamos a fazer, a caridade, e é muito importante que Israel esteja representa­do, pelo que esperamos voltar nos próximos anos”, comentou a diplomata.

Também a Geórgia voltou ao bazar, após quatro anos de ausência. A aposta fez-se nos vinhos, na aguardente (chacha) e no conhaque e no doce tradiciona­l (churchkhel­a), de sumo de uva, nozes e farinha. “É uma maneira de nos darmos a conhecer aos portuguese­s”, diz o assistente do embaixador, Giorgi Gviniashvi­li.

Já Ana Rodríguez, encarregad­a de negócios do Paraguai, conhece os cantos à casa. E sabe que para poder vender as gallinitas eo ñanduti (peças típicas do artesanato paraguaio), ou as chipitas e o chá mate, tem de “vir trazendo os produtos para Portugal desde o início do ano”.

“Estou muito feliz porque este bazar correu muito bem, com mais países representa­dos e, portanto, isso é uma razão de alegria”

MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA “A maior parte das pessoas que nos visitam fazem-no há anos. Um mês antes começam a telefonar para saber a data em que se realiza”

ANA DA ROCHA PÁRIS EMBAIXATRI­Z

 ??  ?? Marcelo Rebelo de Sousa – aqui frente a uma escultura angolana – não se escusou às selfies; a encarregad­a de negócios do Paraguai, Ana Rodríguez; o bazar é também um espaço de convívio
Marcelo Rebelo de Sousa – aqui frente a uma escultura angolana – não se escusou às selfies; a encarregad­a de negócios do Paraguai, Ana Rodríguez; o bazar é também um espaço de convívio

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