Dos medicamentos à roupa. Porta aberta ao mundo do cânhamo
Este é o fim de semana da primeira Feira Internacional de Cânhamo na Alfândega. Tem conferências, workshops e concertos
Cachimbos, vaporizadores, mortalhas, certamente, mas também vestuário e produtos terapêuticos. A abordagem é diversa nos 60 stands que vão animar a CannaDouro – I Feira Internacional de Cânhamo do Porto. O evento, único em Portugal, reúne 35 empresas ligadas ao cannabusiness e promove, além de workshops e concertos, conferências sobre a defesa do uso recreativo, cultura e atividade económica em torno do cânhamo (ou canábis, o termo é usado de forma indiferenciada). A Alfândega do Porto recebe neste sábado e domingo uma iniciativa que está a ser preparada há cerca de um ano, como explica ao DN o organizador João Carvalho.
“Havia vontade e necessidade de criar um certame que juntasse empresários, clientes ou simplesmente curiosos que procuram informação, mas também quisemos promover debates dentro da comunidade médica, científica e do poder político – apesar de todos os partidos terem demonstrado disponibilidade, só o Bloco confirmou presença, pelo deputado Moisés Ferreira”, explica o organizador, detalhando a abrangência da iniciativa: “Vão estar presentes empresas nacionais, sobretudo growshops, mas também de Espanha, Holanda, Canadá ou Estados Unidos, que representam os três usos contemporâneos do cânhamo: desde o uso recreativo, com toda a parafernália de utensílios, ao uso industrial, através de marcas de roupa de cânhamo, até ao uso terapêutico: sobretudo na divulgação do óleo de CBD, um complemento alimentar extraído da planta de cânhamo, sem THC (ou seja, que não tem psicoatividade), que tem demonstrado capacidades anti-inflamatórias no combate a efeitos secundários de quimioterapia e sobretudo por amenizar ataques de epilepsia.”
João Carvalho, 40 anos, pai de três filhas, licenciado em História e dono de um restaurante na Baixa do Porto, está há alguns anos ligado ao que chama de “ativismo canábico” e desde dezembro do ano passado que com o sócio Alberto Pires resolveu avançar para a criação da primeira grande feira nacional, no Porto, que beneficia da proximidade ao mercado galego: “O Porto pode e está a tornar-se, dentro da faixa atlântica da Península Ibérica, o grande ponto de encontro e de debate de toda a cultura da canábis.”
Como organizador, João Carvalho desmistifica a possibilidade de esta iniciativa motivar algum tipo de consumo de drogas leves. “Em qualquer festival de música de verão há talvez maior probabilidade de haver consumo transversal de drogas leves ou de álcool. Não temos grande receio com problemas desse tipo. O Centro de Congressos da Alfândega do Porto não pôs qualquer tipo de entrave à realização da feira. Aliás, vamos ocupar a ala poente, e na ala nascente no dia de sábado vai acontecer o Wine Fest. Portanto, as pessoas podem optar até por visitar ambas as iniciativas… É tudo perfeitamente legal: as empresas que vão estar na CannaDouro têm a sua atividade económica, pagam os seus impostos, têm os seus trabalhadores devidamente registados.”
O debate em torno da legalização do consumo das drogas leves estará naturalmente em cima da mesa e a organização pretende que a CannaDouro promova a discussão sobre “o consumo consciente e a utilização informada, prevenindo situações de saúde, a título individual e de saúde pública”.