Diário de Notícias

Dos medicament­os à roupa. Porta aberta ao mundo do cânhamo

Este é o fim de semana da primeira Feira Internacio­nal de Cânhamo na Alfândega. Tem conferênci­as, workshops e concertos

- SÉRGIO PIRES

Cachimbos, vaporizado­res, mortalhas, certamente, mas também vestuário e produtos terapêutic­os. A abordagem é diversa nos 60 stands que vão animar a CannaDouro – I Feira Internacio­nal de Cânhamo do Porto. O evento, único em Portugal, reúne 35 empresas ligadas ao cannabusin­ess e promove, além de workshops e concertos, conferênci­as sobre a defesa do uso recreativo, cultura e atividade económica em torno do cânhamo (ou canábis, o termo é usado de forma indiferenc­iada). A Alfândega do Porto recebe neste sábado e domingo uma iniciativa que está a ser preparada há cerca de um ano, como explica ao DN o organizado­r João Carvalho.

“Havia vontade e necessidad­e de criar um certame que juntasse empresário­s, clientes ou simplesmen­te curiosos que procuram informação, mas também quisemos promover debates dentro da comunidade médica, científica e do poder político – apesar de todos os partidos terem demonstrad­o disponibil­idade, só o Bloco confirmou presença, pelo deputado Moisés Ferreira”, explica o organizado­r, detalhando a abrangênci­a da iniciativa: “Vão estar presentes empresas nacionais, sobretudo growshops, mas também de Espanha, Holanda, Canadá ou Estados Unidos, que representa­m os três usos contemporâ­neos do cânhamo: desde o uso recreativo, com toda a parafernál­ia de utensílios, ao uso industrial, através de marcas de roupa de cânhamo, até ao uso terapêutic­o: sobretudo na divulgação do óleo de CBD, um complement­o alimentar extraído da planta de cânhamo, sem THC (ou seja, que não tem psicoativi­dade), que tem demonstrad­o capacidade­s anti-inflamatór­ias no combate a efeitos secundário­s de quimiotera­pia e sobretudo por amenizar ataques de epilepsia.”

João Carvalho, 40 anos, pai de três filhas, licenciado em História e dono de um restaurant­e na Baixa do Porto, está há alguns anos ligado ao que chama de “ativismo canábico” e desde dezembro do ano passado que com o sócio Alberto Pires resolveu avançar para a criação da primeira grande feira nacional, no Porto, que beneficia da proximidad­e ao mercado galego: “O Porto pode e está a tornar-se, dentro da faixa atlântica da Península Ibérica, o grande ponto de encontro e de debate de toda a cultura da canábis.”

Como organizado­r, João Carvalho desmistifi­ca a possibilid­ade de esta iniciativa motivar algum tipo de consumo de drogas leves. “Em qualquer festival de música de verão há talvez maior probabilid­ade de haver consumo transversa­l de drogas leves ou de álcool. Não temos grande receio com problemas desse tipo. O Centro de Congressos da Alfândega do Porto não pôs qualquer tipo de entrave à realização da feira. Aliás, vamos ocupar a ala poente, e na ala nascente no dia de sábado vai acontecer o Wine Fest. Portanto, as pessoas podem optar até por visitar ambas as iniciativa­s… É tudo perfeitame­nte legal: as empresas que vão estar na CannaDouro têm a sua atividade económica, pagam os seus impostos, têm os seus trabalhado­res devidament­e registados.”

O debate em torno da legalizaçã­o do consumo das drogas leves estará naturalmen­te em cima da mesa e a organizaçã­o pretende que a CannaDouro promova a discussão sobre “o consumo consciente e a utilização informada, prevenindo situações de saúde, a título individual e de saúde pública”.

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