Diário de Notícias

“Confio no poder judicial e, acima de tudo, respeito as suas decisões”, disse o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, em Gotemburgo (Suécia)

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A decisão do juiz de primeira instância belga sobre a extradição de Carles Puigdemont para Espanha será conhecida em plena campanha eleitoral para as autonómica­s de 21 de dezembro. Ontem, a procurador­ia belga pediu a extradição do ex-presidente da Generalita­t e de outros quatro antigos membros do governo catalão, tendo o magistrado marcado para 4 de dezembro a apresentaç­ão das alegações da defesa. A campanha começa oficialmen­te a 5 de dezembro, estimando-se que o juiz tome uma decisão no prazo de oito a dez dias.

A expectativ­a mediática era enorme no Palácio de Justiça, onde está o tribunal de primeira instância de Bruxelas, com dezenas de jornalista­s a aguardar a chegada de Puigdemont. Mas o ex-presidente da Generalita­t entrou no edifício, junto com os quatro ex-consellers – Antoni Comín (Saúde), Clara Ponsatí (Educação), Lluís Puig (Cultura) e Meritxell Serret (Agricultur­a) – pela garagem, escapando assim aos olhares dos jornalista­s. A audiência com o juiz começou às 14.00 (13.00 em Lisboa) e durou uma hora, não tendo nenhum dos cinco sido ouvidos. O processo decorre em flamengo, com o recurso a um tradutor.

A juíza da Audiência Nacional, Carmen Lamela, pediu a extradição dos cinco depois de decretar a prisão preventiva de outros oito ex-membros do governo. São todos acusados de rebelião, sedição e peculato na organizaçã­o do referendo de 1 de outubro e consequent­e declaração unilateral de independên­cia. Depois de Puigdemont e os restantes consellers terem faltado à chamada da justiça espanhola, Lamela acrescento­u aos cinco os crimes de prevaricaç­ão e desobediên­cia quando emitiu um mandado de detenção europeu.

Dos cinco crimes, a procurador­ia belga exclui o de peculato ou corrupção, consideran­do que não se aplica, e transformo­u os de rebelião e sedição no de “coligação de funcionári­os”. A defesa de Puigdemont irá argumentar que este é um processo político, na esperança de travar a sua entrega às autoridade­s espanholas. A nova audiência será a 4 de dezembro. “Foi tomada esta decisão para garantir que todas as partes envolvidas possam preparar e clarificar a sua posição em relação à execução do mandado de detenção europeu”, indicou a procurador­ia.

Os argumentos da defesa serão ouvidos na véspera do início da campanha eleitoral, que será de 5 a 19 de dezembro (20 será dia de reflexão). O juiz deverá decidir no prazo de oito a dez dias após ouvir os advogados de Puigdemont – que é o cabeça-de-lista da Junts per Catalunya –e dos consellers. É possível recorrer da decisão do magistrado.

A partir de Gotemburgo, na Suécia, onde participa numa cimeira europeia, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que vai respeitar a decisão da justiça belga. “Confio no poder judicial e, acima de tudo, respeito as suas decisões. Se começarmos a pôr isso em questão, acho que não estaremos no bom caminho”, afirmou. Antes, tinha-se encontrado com o homólogo belga, Charles Michel, que governa em coligação com os nacionalis­tas flamengos do NV-A. Um dos deputados da formação, Lorin Parys, recebeu na quinta-feira Puigdemont e os restantes ex-membros de governo num jantar em sua casa. “Violência extrema” A secretária-geral da Esquerda Republican­a da Catalunha (ERC), Marta Rovira, causou ontem polémica quando disse que existiram ameaças por parte do governo de Madrid de criar um “cenário de violência extrema com mortos nas ruas” caso a tensão política aumentasse na Catalunha. A número dois da lista da ERC às autonómica­s disse à rádio RAC1 que as fontes de Puigdemont avisavam que se usariam “armas de fogo”, que “haveria sangue” e que o exército se preparava para intervir face à declaração unilateral de independên­cia.

“É uma vergonha e não tenho qualificat­ivos para aplicar. Fiquemo-nos pelo é absolutame­nte falso”, disse Rajoy, reagindo às palavras de Rovira. “Os líderes secessioni­stas estão acostumado­s a mentir. Disseram que o processo [independen­tista] não provocaria efeitos económicos, que teriam apoio europeu, que as estruturas de estado estavam totalmente organizada­s... Mentira atrás de mentira”, acrescento­u o primeiro-ministro.

Puigdemont já tinha mencionado o cenário desenhado por Rovira. “Se tivéssemos ficado” na Catalunha “e tivéssemos oferecido uma certa resistênci­a”, teria havido “uma reação de enorme violência por parte do governo”, disse o ex-presidente da Generalita­t, na conferênci­a de imprensa após viajar para Bruxelas.

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