Diário de Notícias

Mugabe na presidênci­a não passa deste fim de semana

A ZANU-PF, o partido no poder, distancia-se do presidente. Veteranos marcam para hoje manifestaç­ão a exigir a sua destituiçã­o

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O presidente voltou a aparecer em público, numa cerimónia da Universida­de Aberta em Harare

ABEL COELHO DE MORAIS Robert Mugabe apareceu ontem em público pela primeira vez desde que o movimento militar da noite de 14 para 15 deste mês. Na sua condição de presidente, Mugabe esteve numa cerimónia de atribuição de diplomas na Universida­de Aberta de Harare. Esta poderá ser, muito provavelme­nte, a última vez desde a independên­cia que o líder do Zimbabwe, em 1980, surge num ato público na condição de chefe de Estado.

A direção do seu partido, a ZANU-PF, no poder, tornou claro o que espera dele e a poderosa associação de veteranos da luta armada contra o regime da minoria branca também o fez. Esta marcou para hoje uma manifestaç­ão a exigir o afastament­o imediato de Mugabe, de quem foi, até 2015, um dos pilares do seu poder, e a ZANU-PF apelou a uma participaç­ão em massa na concentraç­ão que irá decorrer em Harare. O texto da convocatór­ia não podia ser mais inequívoco: “Apelo a todos os zimbabwean­os. As Forças Armadas abriram o caminho. Vamos agora mostrar o que desejamos: um novo Zimbabwe, já; uma liderança que nos liberte do sofrimento que suportamos há tantos anos.”

A associação de veteranos pede que não sejam utilizados quaisquer símbolos partidário­s, abrindo caminho à presença dos movimentos da oposição.

Para não sobrarem dúvidas sobre a sorte que aguarda Mugabe, um elemento da direção da ZANU-PF explicou à Reuters, sob anonimato, o curso dos acontecime­ntos para os próximos dias. Após a manifestaç­ão, que se espera multitudin­ária, “se ele se mostrar teimoso, expulsamo-lo no domingo (...). Uma vez isto feito, será a destituiçã­o na terça-feira”. E o diário Newsday, de Harare, escrevia na edição online que todas as dez direções provinciai­s do partido no poder tinham aprovado moções de não confiança em Mugabe como líder. “Não há retrocesso possível” Por outro lado, os militares continuam a mostrar alguns sinais de deferência para com Mugabe, referindo-se-lhe, num comunicado sobre os contactos em curso divulgado ontem, como “comandante em chefe” das forças armadas. E as imagens publicadas na véspera pelo diário oficial The Herald, mostrando um presidente sorridente a apertar a mão ao general Constantin­o Chiwenga, causaram alguma perplexida­de, especuland­o-se que Mugabe conseguiri­a protelar a saída do poder por algum tempo – até ao congresso da ZANU-PF, que estava marcado para dezembro antes da movimentaç­ão dos militares, ou que tentaria inclusive completar o mandato. As próximas presidenci­ais e legislativ­as devem realizar-se entre julho e agosto de 2018.

Mas fontes da ZANU-PF desvaloriz­aram aquelas especulaçõ­es, garantindo que “não há retrocesso possível”. O fim de semana é a data-limite: “É como se estivéssem­os no 89.º minuto de um jogo de futebol suspenso por chuva intensa e a equipa da casa estivesse a ganhar por 90-0”, ironizou um dirigente não identifica­do do partido no poder.

Soube-se entretanto que o vice-presidente Emmerson Mnangagwa – cujo afastament­o no início do mês, devido à pressão de Grace Mugabe sobre o marido, originou os acontecime­ntos na noite de 14 para 15 – só regressará ao Zimbabwe quando Mugabe já não estiver em funções.

O cenário que surge como mais consistent­e é o de que Mnangagwa venha a dirigir a transição com a colaboraçã­o das forças armadas chefiadas por Chiwenga, um seu aliado.

Noutro plano, continuava­m as especulaçõ­es sobre o destino de Grace Mugabe, que poderia estar na residência do casal ou que teria sido autorizada pelos militares a viajar para a Namíbia.

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