MORRISSEY EM FILME, COM DISCO NOVO E REEDIÇÃO DE THE QUEEN IS DEAD
Há filme nas salas sobre Morrissey quando era o jovem Stephen, há um disco novo seu e ainda a reedição de luxo da obra-prima da banda de Manchester, The Queen Is Dead. Felizmente a porta da casa de Stephen abriu-se num dia de sol. Miguel Marujo
Histórias do jovem Stephen, no cinema, e música, nova e reeditada, trazem em concentrado ex-vocalista dos Smiths.
Quando se abre a porta do número 384 de Kings Road, em Stretford, Manchester, fecha-se o filme: a história do jovem Steven Patrick Morrissey começa verdadeiramente depois deste último plano de England Is Mine, o filme que chegou às salas nesta quinta-feira e relata os tempos de adolescente daquele que o mundo veio a conhecer por Morrissey, o carismático e desconcertante líder da banda maior da nossa adolescência, The Smiths. (Sim, haverá outros amores adolescentes, mas a adolescência é assim mesmo.)
Com este filme nas salas, há outros dois motivos para voltarmos a este amor: nesta semana há novo álbum de Morrissey, Low in High School, e há uma edição luxuosa que nos traz The Queen Is Dead, com o terceiro trabalho de originais dos Smiths, editado em 1986 e agora remasterizado, acompanhado dos inevitáveis extras, que tornam ainda mais apetecível aquilo que já ouvimos tantas vezes em cassete, vinil ou CD.
É a primeira vez que a obra de Morrissey, Johnny Marr, Andy Rourke e Mike Joyce merece este tratamento gourmet: o álbum é o que é, um conjunto de canções sem mácula, daquelas que cantámos em coro, a sós, com mais ou menos álcool no sangue, no meio da pista de dança de uma matiné numa discoteca e à volta da fogueira, ao ouvido de alguém ou afundados no sofá a chorar mais uma tampa da miúda gira da turma do lado. Basta dizer que o álbum de 1986 abre com The Queen Is Dead, tem I Know It’s Over, Bigmouth Strikes Again, The Boy With The Torn in His Side, Some Girls Are Bigger Than Others e, para sempre, a luminosidade incandescente de There Is a Light that Never Goes Out. Neste alinhamento, deixámos de fora quatro canções e só porque são “apenas” muito boas. O banquete desta obra-prima completa-se com um segundo disco de lados B e demos, um terceiro ao vivo em Boston e um DVD áudio com o filme de Derek Jarman para The Queen Is Dead e outros dois vídeos de There Is a Light… e Panic.
Quando falamos dos Smiths e das suas canções, é disto que nos rezam crónicas de jornais, teses académicas ou o filme que já podemos ver nas salas: estes quatro rapazes de Manchester cativaram uma geração de adolescentes angustiados, com as letras sofridas e narcísicas (o corretor ortográfico sugeriu a palavra narcóticas, e também ia bem) de Morrissey e aquelas guitarras de Johnny Marr.
Em England Is Mine, a biografia realizada por Mark Gill – a que a distribuidora portuguesa acrescentou um redundante e desnecessário Descobrir Morrissey – não há canções dos Smiths (o cantor não deixou), mas sobra o génio convencido do jovem Stephen, cáustico com o que vê à sua volta, deslocado num mundo de trabalho de mangas de alpaca, tímido nas relações, arrogante na sua mudez e fechado
No seu novo álbum, Low in High School, Morrissey continua um outsider, sem se deixar arrumar em estereótipos