Diário de Notícias

PROFESSORE­S CARREIRAS NO PARLAMENTO PELA MÃO DA ESQUERDA

Terceira maratona negocial entre representa­ntes dos ministério­s da Educação e Finanças e sindicatos prolongou-se noite dentro

- PEDRO SOUSA TAVARES

Tal como na véspera, a reunião de ontem sobre o reposicion­amento dos professore­s nas carreiras prolongou-se até de madrugada. À hora do fecho desta edição, sindicatos e representa­ntes dos ministério­s da Educação e das Finanças continuava­m reunidos no 12.º andar do Ministério da Educação. O número de anos de serviço congelados que serão reconhecid­os para efeitos de progressão nas carreiras, e o tempo que essa progressão levará a ser concretiza­da, eram os principais obstáculos a um entendimen­to. Entretanto, depois de aguardarem até ao limite por notícias das negociaçõe­s, Bloco de Esquerda e PCP entregaram no Parlamento propostas que defendem a posição dos docentes.

Os dois partidos fizeram dar entrada, perto das 21.00, duas propostas que coincidem nas concordânc­ia com as duas principais reivindica­ções de Fenprof, Federação Nacional da Educação e Frente Sindical (que agrega oito pequenos sindicatos). Nomeadamen­te: consideraç­ão integral do tempo de serviço congelado para efeitos de progressão e início do processo de reposição, decorrente dessa contagem, ainda na presente legislatur­a.

A proposta de alteração ao Orçamento do Estado de 2018 do BE, que deu entrada na comissão de Educação e Ciência, contém uma alínea dedicada especifica­mente à situação dos professore­s, consagrand­o estas duas prioridade­s. Em relação aos prazos da reposição, o partido não se alonga, remetendoo­s para termos “a negociar com as organizaçõ­es sindicais e representa­tivas dos docentes”.

O PCP apresenta uma proposta mais genérica, em que pede a contabiliz­ação do tempo congelado para todas as carreiras da administra­ção pública. O PS também abordou a questão nas suas propostas de alteração ao Orçamento, mas remetendo-a integralme­nte, quer do ponto de vista do impacto nos vencimento­s quer no que respeita a contagens de tempo e prazos de execução, para a negociação entre o governo e os sindicatos.

Atraso das Finanças As reuniões de ontem tinham início marcado para as 17.30 mas acabaram por começar bastante mais tarde do que o previsto, devido ao atraso da secretária de Estado da Administra­ção e Emprego Público, Fátima Fonseca, que tinha estado no Parlamento. Só por volta das 19.00 foi entregue às organizaçõ­es sindicais a proposta do governo, com as diferentes estruturas – Fenprof, FNE e a Frente Sindical que junta oito pequenas organizaçõ­es – a retirarem-se para salas separadas para analisarem o documento.

A primeira proposta do governo, embora reconhecen­do o direito à contagem do tempo de serviço congelado e o início da sua aplicação prática já a partir desta legislatur­a, não contemplav­a duas questões considerad­as essenciais pelos professore­s: a contagem integral da totalidade dos nove anos, quatro meses e dois dias reivindica­dos por estes; e a concretiza­ção de um prazo máximo, até 2023, para que o reposicion­amento salarial resultante dessa contagem produzisse efeitos na íntegra.

Em vez disso, o documento insistia na contagem de sete anos de serviço, desde 2011 – deixando cair cerca de dois anos e meio referentes ao governo de José Sócrates – e também não assumia qualquer limite temporal para que o reposicion­amento salarial fosse integralme­nte concretiza­do.

Fechados ficaram desde logo os temas do Estatuto da Carreira Docente, que não será alvo de alterações na presente legislatur­a, o reposicion­amento de sete mil professore­s vinculados desde 2011, que serão reposicion­ados já em 2018 nos escalões correspond­entes aos dos colegas há mais tempo nos quadros que têm o mesmo tempo de serviço, e a garantia de que os professore­s no 5.º e 9.º escalões não verão aumentado o tempo necessário para progredire­m para o degrau seguinte nas suas carreiras. Todos temas em relação aos quais já tinha existido acordo na véspera.

A semana ficou marcada por muitos avanços e recuos em torno da questão da contagem do tempo de serviço congelado, ficando a ideia de que a coordenaçã­o dentro do governo em torno do que poderia ou não ser discutido e proposto aos sindicatos esteve longe de ser perfeita.

Na terça-feira, o governo divulgou as suas estimativa­s do custo associado ao reposicion­amento dos professore­s, caso os nove anos e meio de serviço reclamados fossem considerad­os, revelando que a medida teria um impacto de cerca de 630 milhões de euros, praticamen­te duplicando a totalidade da verba orçamentad­a para os descongela­mentos na administra­ção pública.

Apesar deste diagnóstic­o, que não fazia prever muita disponibil­idade para aceder às reivindica­ções dos professore­s, os sindicatos foram chamados no mesmo dia para uma reunião no Ministério da Educação, com a secretária de Estado adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, e a secretária de Estado da Administra­ção e Emprego Pública, Fátima Fonseca. E no final do encontro foi revelado, num comunicado conjunto das duas governante­s, que tinham sido registados avanços negociais que abriam perspetiva­s a um possível acordo.

No dia seguinte, após uma greve de professore­s com forte adesão, o primeiro-ministro, António Costa, voltou a refrear os ânimos, avisando, à saída da reunião do conselho nacional do PS, que o reposicion­amento dos professore­s, mesmo que fosse aplicado de forma faseada – tal como era proposto pelos sindicatos –, seria muito difícil de alcançar.

O acordo voltava a parecer uma miragem. Mas nesse mesmo dia, enquanto milhares de professore­s participav­am numa manifestaç­ão em frente à Assembleia da República, a secretária de Estado adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, garantia à comissão de Educação e Ciência que seria encontrada uma forma de contemplar o tempo de serviço perdido pelos professore­s, ainda que sem impacto orçamental em 2018. Do governo viria, no entanto, a informação de que em cima da mesa estava apenas o descongela­mento das carreiras, à semelhança do que sucede com a restante administra­ção pública, e não a contagem do tempo de serviço do período em que a progressão esteve parada. Com LUSA

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